segunda-feira, 26 de março de 2012

Futuro :: Aécio Neves

A comunidade científica e lideranças empresariais se reuniram para divulgar, dias atrás, um alerta à nação. "Em Defesa da Ciência, da Tecnologia e da Inovação" é o título do manifesto. Trata-se de protesto público, clamoroso, contra os sistemáticos cortes que o governo federal vem impondo à área de pesquisa, no que diz respeito ao orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

O documento denuncia ainda que os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) vêm sofrendo contingenciamentos regulares. Em outras palavras: ou são congelados ou são dirigidos para outras áreas. "O desenvolvimento científico e tecnológico do país não pode ser comprometido", diz o documento.

Não pedem muito os signatários. Apelam à presidente Dilma que restabeleça a proposta original, de R$ 6,7 bilhões para o orçamento de 2012 do ministério (o corte decretado chega a R$ 1,5 bilhão) e que preserve os recursos do FNDCT. O que setores importantes da sociedade reivindicam é que o governo perceba a gravidade da ameaça que paira sobre o país.

Governos responsáveis precisam estar comprometidos com o amanhã. A responsabilidade de uma administração não se limita ao período para o qual um governo foi eleito.

Todo governante precisa considerar o futuro como parte dos seus compromissos. Ele não nasce do acaso. Bases seguras para o desenvolvimento não se restringem a investimentos em infraestrutura. É fundamental o investimento em capital humano. Inovação é o novo nome do nosso tempo.

Subscrevem a petição tanto a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), quanto a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as federações estaduais de Bahia, Minas, Paraná, Rio e São Paulo, assim como a Academia Brasileira de Ciências, a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) e a Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec).

Está claro, portanto, que não se trata da defesa de vantagens corporativas, mas, sim, de uma questão de amplo interesse nacional. A indústria assumiu essa posição porque entende a importância da pesquisa científica e da criatividade no ambiente altamente competitivo de uma economia globalizada. Pesquisadores se mobilizam em torno dessa cobrança porque sabem que a tecnologia e o conhecimento são a porta de entrada no novo mundo que se organiza.

Ao cortar verbas do setor, o governo Dilma ignora a dimensão do desafio que se apresenta para o país e o esforço heroico de brasileiros e instituições em que a inteligência e a imaginação teimam em resistir. Resistem em nome do Brasil que somos e do Brasil que ousamos querer ser.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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