sábado, 31 de março de 2012

'Haddad precisa ser pego pela mão', provocam tucanos

Após Lula chamar Serra de "candidato de ontem", parlamentares miram baixa popularidade de Haddad e problemas no ministério

Christiane Samarco, Gustavo Porto

BRASÍLIA, BARRETOS - Em resposta à provocação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou o ex-governador José Serra de "candidato de ontem com propostas de anteontem", tucanos alfinetaram o ex-ministro Fernando Haddad, pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo ainda pouco conhecido pelo eleitorado paulistano. O petista ainda amarga baixos índices nas pesquisas de intenção de voto, enquanto Serra aparece na liderança.

Aliados do ex-governador, que decidiu disputar pela quarta vez a Prefeitura, reconhecem que a eleição tende a ser um embate entre PT e PSDB. Por isso, os tucanos miram seus ataques diretamente a Haddad e preferem deixar de lado Lula, que passou por exames que confirmaram a eliminação de um tumor na laringe, diagnosticado no fim de outubro.

"O candidato do PT não tem muita história para contar em São Paulo e precisa ser pego pela mão para poder subir", atacou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). "O Lula fica querendo provocar o Serra porque não confia no taco do pupilo dele."

Maior expoente do grupo serrista no Senado, o tucano disse que o problema de Lula é ter "um candidato cujas ideias não se conhecem e cujas realizações têm o padrão de qualidade das trapalhadas do Enem, patrocinadas por ele mesmo no Ministério da Educação".

Para Aloysio, o ex-presidente está querendo "chamar o Serra para a briga", mas não se pode perder o foco de que a disputa é contra Haddad. "O Lula é esperto, mas o truque dele é velho e o Serra não nasceu ontem para cair nesta armadilha."

Padrinhos. O senador participou ontem de evento em Barretos (SP), no qual também estava o ex-líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira. Os parlamentares reconhecem que tanto o apoio de Lula quanto o da presidente Dilma Rousseff vão ajudar o candidato petista na capital, mas procuraram demonstrar tranquilidade em relação à força dos padrinhos de Haddad na disputa eleitoral.

"Não sei até que ponto o candidato do PT vai conseguir decolar, mas a tendência, com o apoio do Lula e da presidente Dilma, é de polarização", avaliou Aloysio. "O Haddad é um desconhecido e continuará sendo até 15 de agosto, quando começa o horário eleitoral gratuito na televisão. O Lula está fazendo tudo para dar um gás ao candidato porque sabe que até o início da propaganda eleitoral será um deserto para o Haddad", afirmou Nogueira.

O deputado também diz apostar que a candidatura do peemedebista Gabriel Chalita, assim como a de outros membros de partidos da base, como PC do B e PDT, traça um cenário mais favorável aos tucanos. "Há um questionamento da viabilidade da candidatura do Haddad dentro da própria base, e essa base está dividida", afirmou Nogueira. "Já Serra tem o apoio do PSD, do Democratas, do PR e pode ter do PPS", concluiu o deputado, que é pré-candidato à Prefeitura de Ribeirão Preto.

O deputado Walter Feldman (PSDB-SP) foi o único a lamentar o comportamento do ex-presidente. "Com toda a experiência acumulada neste período e depois da doença grave que teve, cercado pela torcida de todos para que se recuperasse logo, o que se esperava de Lula é que atingisse a maturidade que estamos colhendo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso", afirmou o deputado.

Na avaliação de Feldman, o ex-presidente perdeu a chance de voltar à cena "com a sabedoria que se esperava dele". Em vez disso, prosseguiu o tucano, Lula optou pela fórmula da "esperteza do Macunaíma". "O Haddad virou filhote do Macunaíma temperado com a malícia de Maquiavel. Mas isto é compreensível, porque a candidatura dele só pode sobreviver nesse velho estilo, amparado na matreirice na malandragem", considera Feldman.

O tucano lembrou que há três anos ouve Serra falar no grave processo de desindustrialização do Brasil, apontando para a realidade atual antes de qualquer pessoa falar do problema. "Isso sim é sinal de modernidade e compreensão das questões econômicas, políticas e sociais do Brasil, que Lula rebateu dizendo que era discurso eleitoral."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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