sábado, 10 de março de 2012

Inflação ainda forte:: Celso Ming

A inflação de fevereiro medida pela evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra desaceleração, mas não dá para confiar em que esse ritmo seja sustentável nos próximos meses, como ontem sugeriu o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

O IPCA não importa não só por dar ideia de como evolui a renda real do brasileiro, mas também porque é a medida de inflação usada como referência pelo Banco Central para definir sua política monetária (política de juros).

São dois os fatores positivos nos números do IPCA de fevereiro: (1) redução das pressões do chamado núcleo de inflação, a estrutura de preços menos sujeita a grandes variações, como ocorre com os alimentos; e (2) menor índice de difusão, ou seja, os preços subiram em menor número de itens (apenas 58,2%) do que nos meses anteriores, especialmente em janeiro (64,7%).

Em compensação, a esticada dos preços dos serviços e dos preços no mercado atacadista não autoriza ninguém a se desarmar em relação ao avanço da inflação neste ano.

Dentro do cestão de preços do IPCA, os serviços têm um peso de 30%. Uma das peculiaridades do segmento é de que quase nunca pode ser substituído por artigos importados. O preço da roupa fabricada no Brasil, por exemplo (que não é serviço, mas mercadoria), não pode disparar, porque importados fazem concorrência. Isso não se dá com os preços do transporte, da escola, dos serviços pessoais (barbeiro, manicure, consultas médias). E o que se tem sobre a mesa é um avanço dos preços dos serviços de 1,25% em fevereiro (foi de 1,05% em janeiro). Em 12 meses, saltaram 9,35%, enquanto, no período, a inflação foi de 5,85% (veja o gráfico). Esse fator concorre decisivamente para manter a pressão sobre a inflação.

O avanço nos preços do atacado foi realçado ontem pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), como se vê no Confira. Em fevereiro, esse indicador apontou evolução negativa de preços (queda de 0,06%). Mas a primeira prévia de março já indica avanço positivo de 0,23%. Como o que acontece no atacado (cujos preços pesam 60% na cesta de preços do IGP-M) tende a se espraiar também para o varejo (custo de vida), é preciso contar com nova fonte de tensão no IPCA.

Essas observações podem parecer áridas, ainda mais num fim de semana. Mas ganham importância quando analisadas sob a ótica da política de juros do Banco Central.

Somente a desaceleração da inflação de fevereiro não chega a justificar o aumento da dose no corte dos juros decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na última quarta-feira.

Em março, abril e maio, a evolução do IPCA em 12 meses ainda deve mostrar desaceleração. No entanto, a partir de junho, a tendência de avanço para os 6,0% ao ano tende a se acentuar.

Isso significa que o governo Dilma deverá enfrentar uma puxada mais forte dos preços justamente nos meses mais próximos às eleições municipais que se realizarão em outubro, quando cresce o uso político desse indicador.

CONFIRA

No gráfico acima, a evolução do IGP-M, que embute uma alta dos preços no atacado

Fica para depois. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou nesta sexta-feira que o governo não pretende enviar para o Congresso projeto de lei que altera as regras da remuneração das cadernetas. Seu argumento é de que as aplicações amarradas aos juros básicos (Selic) são mais altas que as da caderneta. Mas a verdadeira razão é política. O governo federal não quer ser acusado de confiscar a poupança às vésperas das eleições.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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