sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ato final:: Eliane Cantanhêde


O advogado entrega uma extensa peça de defesa, o Conselho de Ética recebe solenemente, o relator apresenta um parecer recheado de formalidades, os membros se reúnem e decidem sobre o mandato do senador Demóstenes Torres, ex-DEM, hoje sem partido.

É só um ritual, um teatro. O julgamento do Conselho de Ética é político, não jurídico, e o destino de Demóstenes já está selado: ele foi condenado pelas evidências, pela opinião pública, pelo seu partido. Virou uma alma penada, constrangendo os colegas com sua presença.

Num processo jurídico, um senador escapa da primeira e da segunda instâncias e cai direto no Supremo Tribunal Federal, onde valem as brechas da lei, a esperteza dos advogados, eventuais deslizes da investigação policial, algum detalhe fora de lugar dos procuradores. É longa a fila de políticos absolvidos pela Justiça.

Num processo político, o que vale são as evidências, e é pelas páginas de jornais e revistas, pelos vídeos da TV e pelos áudios do rádio que a população e os "juízes" se informam e tiram suas conclusões. A imprensa não é juiz, mas o canal de veiculação de investigações da PF e do Ministério Público e de gravações que não deixam dúvidas. Não há advogado genial que possa anular provas no Conselho de Ética sob argumentos técnicos como é possível num tribunal.

No caso de Demóstenes, a troca de presentes e de favores entre ele e Carlinhos Cachoeira é inquestionável: geladeiras e fogões importados por gestões para liberação de verbas oficiais; aluguéis de jatinhos por intermediação. E a informação na Folha de hoje de que um assessor dele recebeu pelo menos R$ 100 mil do esquema, em dinheiro vivo.

Ou o Conselho pede a cassação, ou estará se autocassando. Não vai doer muito. Basta os senadores julgarem como seriam julgados por Demóstenes -o antigo Demóstenes, implacável arauto da moralidade.

Ele já é, virtualmente, ex-senador.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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