quinta-feira, 26 de abril de 2012

Bancos ainda na retranca:: Vinicius Torres Freire


Instituições privadas perderam em março ainda mais mercado para Banco do Brasil e Caixa Econômica

Os povos dos mercados venderam ontem ações dos bancos brasileiros. Derrubaram assim seus preços e, por tabela, a Bovespa.

O mercado faz muxoxo porque o lucro dos bancos caiu no primeiro trimestre e não deve ser muito melhor até ao menos a metade do ano.

Aumentou o risco de calote, e o governo Dilma Rousseff faz campanha para diminuir o ganho das instituições. O "efeito Dilma" nem apareceu ainda nas estatísticas -deve pesar mais a partir de abril.

A inadimplência já pesou, e os banqueiros tiveram de colocar mais dinheiro de lado a fim de cobrir possíveis perdas. O mercado estima que a inadimplência não vai baixar bastante tão cedo. Em março, os números de atrasos de pagamentos apenas pararam de piorar, segundo os dados consolidados e divulgados ontem pelo Banco Central.

Mas os "spreads" foram menores já em março. Isto é, diminuiu a diferença entre as taxas que os bancos cobram para emprestar e aquelas que pagam para tomar emprestado. Mais muxoxo do mercado, dos donos do dinheiro, que negociam o grosso das ações na Bolsa.

Apesar da quedinha de março, os "spreads" continuam tão altos quanto em setembro de 2011. Foi em agosto que a Selic, a taxa "básica" de juros da economia, começou a cair. Mas foi então que se notou que a inadimplência era persistente.

O pessoal do Itaú, que divulgou anteontem balanço trimestral, disse que o banco terá de ser mais seletivo na concessão de crédito e que vai ter de fazer mais provisões ("reservar") para cobrir eventuais calotes. O Bradesco atribui a pequena expansão do seu lucro também à necessidade de se proteger de calotes.

Os bancos privados brasileiros estão mesmo seletivos, faz tempo. No balanço geral do crédito divulgado ontem pelo BC, vê-se que o aumento do estoque de crédito (dinheiro emprestado) das instituições privadas de capital nacional foi de 13,9% em 12 meses. No caso dos bancos públicos, o avanço foi de 24,6%.

É uma diferença brutal. Mas, no conjunto do setor financeiro, o avanço do crédito não acelera quase nada, embora ainda corra a boa velocidade, aumentando 19,3% nos últimos 12 meses.

Não é por causa do BNDES, que está emprestando menos porque a demanda do setor privado vinha sendo fraca. Banco do Brasil e Caixa estão segurando a peteca do crédito. Aliás, estão chutando a peteca para muito alto. Desde julho do ano passado vêm roubando mercado dos bancos privados.

E daí?

Bem, o governo está feliz porque, na sua opinião, "dobrou" os bancos privados, obrigou-os a baixar taxas de juros. Ainda é preciso ver quanto dinheiro foi emprestado a taxas menores na estatística de abril. Porém, a julgar pelas entrevistas de diretores e banqueiros na divulgação de balanços, os grandes bancos privados brasileiros dificilmente vão "correr para a galera".

Desde que começou a grande querela dos juros, os bancos privados dizem que estão meio na retranca devido à inadimplência. O Banco Central acha que a retranca foi excessiva, mas não exagera na crítica. O resto do governo pega muito mais pesado com os bancões. Mas tal campanha vai fazer a banca privada jogar mais no ataque? Ou os bancos estatais vão apenas compensar a retranca privada?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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