domingo, 29 de abril de 2012

Denúncias de corrupção envolvem diretoria da empreiteira pelo país

Preso em 2010, ex-diretor do Norte e Nordeste integra conselho da empresa

Maiá Menezes

Ao contrário do que a Delta Construções tem afirmado, a rede de comando da construtora envolvida em denúncias de corrupção vai além do exdiretor da região Centro-Oeste, Cláudio Abreu, a quem a empresa tenta restringir as ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Integrante do Conselho de Administração, com mandato de maio do ano passado até maio deste ano, Aluizio Alves dos Santos foi preso, em 2010, pela Operação Mão Dupla, da Polícia Federal. Na época, ele era diretor da Delta no Norte e Nordeste. A investigação, que agora se desdobrou em dois processos na Justiça cearense, identificou o pagamento de um "mensalão" pela Delta a servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) do Ceará.

O diretor da empresa nas regiões Sul e Sudeste também está envolvido em escândalo: Heraldo Puccini Neto, identificado como representante legal da empreiteira em contratos celebrados com o governo de São Paulo, é agora considerado foragido. De acordo com as investigações da Operação Saint Michel, um desdobramento da Monte Carlo, ele também teria pagado propina de R$ 50 mil a um servidor do Departamento de Trânsito do Distrito Federal em troca do benefício em licitação de R$ 60 milhões com o governo.

Puccini Neto assina, pela Delta, os principais contratos com o governo do estado e com a prefeitura de São Paulo.

Sócio negociava diretamente com Cachoeira Outro que aparece no inquérito da Polícia Federal é Carlos Duque Pacheco, registrado como sócio da Delta e da DTP — holding que controla a empreiteira —, junto com Fernando Cavendish. Pacheco, diretor-executivo da Delta, é citado em pelo menos sete conversas de Cachoeira, preso na Operação Monte Carlo. Nas conversas. são discutidos negócios e marcados encontros. Pacheco e Cavendish anunciaram, no começo da semana, a saída do comando da empreiteira "como demonstração da isenção com que se pretende sejam conduzidos os procedimentos de auditoria". A devassa no escritório Centro-Oeste fora anunciada pela empreiteira logo depois da explosão do escândalo Cachoeira. Em nota, a construtora tentou limitar as ações suspeitas a Cláudio Abreu. Os grampos da Operação Monte Carlos mostram que Pacheco negociava diretamente com o grupo de Cachoeira.

O que o inquérito da Monte Carlo revela é um modo de funcionamento semelhante ao identificado pelas investigações da PF no Ceará. Aluizio Alves dos Santos, preso pela PF em 2010, é investigado por envolvimento em suposto esquema criminoso de fraudes em licitações, superfaturamento, desvio de verbas públicas e pagamentos indevidos em obras de infraestrutura rodoviária realizadas pelo Dnit. Inquérito que corre na 1+ Vara Cível Federal, no Ceará, mostra com detalhes como a empresa operava para conseguir benefícios no órgão.

Na sede da Delta, foram apreendidos documentos que atestam o pagamento de uma "caixinha" ao então superintendente do Dnit no estado, Guedes Ceará. O material usado nas obras também foi considerado inferior aos praticados no mercado. Na relação, estão duas obras do PAC: a duplicação de uma ponte na BR-304, que liga Natal, no Rio Grande do Norte, a Russas, no interior cearense, orçada em R$30 milhões; e o recapeamento entre os quilômetros zero e 12 da BR-116, em Fortaleza.

Aluizio Alves será convocado a depor na CPI Mista de Cachoeira, pela liderança do PSDB no Senado. Procurada, a Delta informou que não se pronunciaria sobre a permanência do executivo no conselho de administração da empreiteira.

FONTE: O GLOBO

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