terça-feira, 10 de abril de 2012

Discutir a relação:: Míriam Leitão

Do que exportamos para os Estados Unidos, 30% são petróleo. Mas importamos muito combustível. O total exportado para lá era 25% de tudo o que o Brasil vendia em 2002; de lá para cá, despencou para 10%. Os Estados Unidos são o maior déficit de nossa balança comercial. O comércio entre Brasil e EUA está mudando muito nos últimos tempos e a própria relação entre os dois países está em rápida evolução.

Para a revista "Economist", "o Brasil nunca foi tão importante para os Estados Unidos quanto agora, e os Estados Unidos nunca foram tão pouco importantes para o Brasil". O que a revista inglesa quer dizer é que os americanos já tiveram um peso relativo maior na nossa economia, política, comércio, e nós fomos ignorados por eles.

Atualmente, o Brasil, com seu mercado, seu peso econômico, ficou mais importante do que era para os Estados Unidos; por outro lado, eles deixaram de ser o nosso maior parceiro comercial, desde 2009. A China agora é o maior parceiro.

Nos anos 1980 e 1990 tivemos dificuldade com nossa dívida externa, em parte herdada do governo militar, e precisamos deles para renegociar nossas obrigações. Hoje, o Brasil é um país com sua dívida externa saneada e nossas contas fiscais são melhores do que as deles.

Mesmo com todas essas mudanças, as coisas são o que são: o Brasil tem um PIB de US$ 2,5 trilhões, e eles, de US$ 15 trilhões. Eles estão em crise mas são uma economia seis vezes maior do que a nossa. Continuam sendo, ainda que endividados, os maiores compradores do mundo, o mercado que mais movimenta a economia global, pela intensidade de consumo.

O melhor seria se a presidente Dilma Rousseff se concentrasse nos assuntos que realmente nos interessam e fizesse uma viagem pragmática. O Brasil tem que ter cada vez mais pretensões de ser consultado em questões estratégicas internacionais e dar sua contribuição na busca do equilíbrio global. Mas há uma intensa agenda bilateral para ser tratada que não deve ser deixada de lado, principalmente se for para o Brasil entrar em bolas divididas que não deveria entrar. Ir para Washington para defender o programa nuclear do Irã seria uma extraordinária perda de tempo.

Agenda não nos falta. Recentemente, eles suspenderam compras de aviões da Embraer e foram levantadas dúvidas sobre o suco de laranja. A relação comercial com os americanos tem dados supreendentes, temos um déficit crescente com os Estados Unidos. As importações brasileiras saíram de US$ 11,3 bilhões em 2004 para US$ 33,9 bilhões em 2011. Aumentaram 200%. Ao mesmo tempo, as exportações continuaram oscilando no mesmo patamar, entre US$ 20 bi e US$ 25 bilhões (vejam no gráfico). Isso fez o déficit em 2011 atingir o recorde de US$ 8,1 bi.

O setor de derivados de petróleo é um dos culpados por esse rombo comercial. Até 2007, o Brasil era superavitário com os americanos na compra e venda de etanol, gasolina e diesel. Fechou aquele ano no azul em US$ 124 milhões. Daí pra frente, o que se viu foi um aumento muito forte das importações. A compra de etanol saltou de US$ 13 milhões em 2007 para US$ 790 milhões em 2011. A de gasolina, de US$ 86 milhões para US$ 796 milhões, enquanto a de diesel foi de US$ 219 milhões para US$ 2,07 bilhões. Com isso, o que em 2007 era superávit no setor de derivados virou um enorme déficit de US$ 3,08 bi em 2011.

O Brasil lutou muito, e durante décadas, para derrubar as barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos ao etanol, mas quando as barreiras caíram, em vez de termos o produto e explorar a chance, passamos a importar. Os Estados Unidos passaram a comprar mais do nosso petróleo, não por um esforço de venda do Brasil e mais por decisão deles. Ainda bem, porque do contrário nosso déficit seria maior, dada a dimensão das nossas compras de combustíveis.

Os Estados Unidos são um país altamente deficitário no comércio, porque mesmo em crise são grandes importadores. Por isso é estranho o Brasil manter um déficit crescente no comércio com eles. A visita da presidente Dilma a Washington pode ser um bom momento para encontrar formas de aumentar a capacidade de fornecer para o mercado americano, o mais desejado do mundo.

FONTE: O GLOBO

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