sexta-feira, 6 de abril de 2012

A inflação gorda está mais magra:: Vinícius Torres Freire

IPCA cai mais do que previa o mercado e menos do que o alardeado pelo governo. A "verdade está no meio"?

A inflação de março surpreendeu os rapazes do mercado. Foi bem menor do que a prevista. Assim como foi maior do que previsto o tombo que a economia levou no segundo semestre de 2011. Assim como ninguém esperava tamanha lerdeza na atividade econômica do primeiro trimestre deste 2012.

O marasmo econômico, que já dura nove meses, tem a ver com a queda da inflação de 7,31% (IPCA acumulado em 12 meses até setembro de 2011) para os 5,24% de março?

Decerto, embora a inflação ainda esteja alta, acima da meta. Ainda que alto, o IPCA caiu até rápido. A fim de baixar a inflação à meta teria sido necessária uma recessão? O remédio seria amargo, mas a cura seria firme? Quem se arrisca?

Os últimos acontecimentos indicam que a inflação vai "convergir para a meta" em 2012, como diz o BC? Sabe-se lá. Juntadas as projeções para o restante do ano com a inflação até março, para bancos e consultorias mais otimistas o IPCA chega a uns 4,7% em setembro e por aí fica até o final do ano.

Outros, mais ponderados, acham que o IPCA fica em torno de 5,2% da metade para o final de 2012.

E daí? Daí que os imponderáveis são tantos que a gente não deve se perder em discussões sobre decimais. Isto posto, ressalte-se que:

1) Já entrado o terceiro trimestre de 2011, povos do mercado falavam até em "descontrole inflacionário". Não acreditavam nem no desaquecimento forte da economia. Ficaram perdidos, pois o Banco Central inovou no uso de instrumentos para frear a atividade econômica (não usou apenas a alta de juros) e teve a colaboração do governo, que limitou o crescimento de seu gasto, fator que foi aliás desprezado por muita gente no "mercado";

2) O próprio pessoal do BC reconhece que a freada econômica foi mais forte que o previsto na casa;

3) A desinflação dos preços ao produtor e no atacado foi muito rápida, o que corroborou a interpretação de governo e BC que preços de commodities e fatores externos ajudariam a conter o IPCA 2012;

4) O uso de uma bateria de instrumentos para combater a inflação pode ser eficaz, embora sua calibragem seja talvez mais difícil. Talvez: o efeito da redução da taxa básica de juros (a Selic) sobre os juros para o tomador final de empréstimos tem também lá suas manhas.

Tal efeito variou nas campanhas de altas de juros de 2008, 2010 e 2011. O próprio pessoal do BC aponta para esse imponderável e diz que, a depender de outras políticas, o efeito da Selic no juro final pode ser variado mesmo. Logo, dizem, o importante é buscar a meta de inflação, com a variedade de instrumentos mais razoáveis à mão, fazendo ajustes no decorrer do processo;

5) O BC tolerou uma inflação mais alta, ainda não a levou à meta, talvez não a leve. Parece considerar que, por vezes, o custo de conter logo a alta de preços é alto demais (o BC não admite ser "tolerante").

Para alguns críticos, isso é brincar com fogo, com o risco de inflação crescente. Para outros, irresponsável é jogar na retranca e fazer a economia crescer muito menos para abater dois décimos do IPCA;

6) Tudo somado, o nível da "taxa de juros de equilíbrio" baixou no Brasil? Talvez a gente chegue a uma conclusão daqui a uma década. Quando o assunto talvez não tenha nem mesmo relevância acadêmica.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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