quarta-feira, 18 de abril de 2012

Juro expiatório

O Comitê de Política Monetária do Banco Central deve dar mais uma machadada nos juros hoje. É positivo que a taxa continue em queda, mas o arsenal de medidas necessárias para ressuscitar a economia exige outras ações por parte do governo. Os juros são hoje apenas parte do problema.

É quase unânime que a Selic cairá a 9% ao ano, a partir desta quarta-feira. Com isso, a taxa irá se aproximar de seu piso histórico, o que é ótimo. Mas é igualmente verdade que o Brasil ainda continua descolado do resto do mundo neste quesito, cobrando juros muito acima da média.

Atualmente, o país desponta como vice-líder no ranking mundial de juros. São 4,1% reais, isto é, já descontada a inflação, ao ano. Com o possível corte previsto para hoje, cairíamos para 3,4%. A líder Rússia cobra 4,2% e a média das 40 principais economias mundiais é de 0,6% negativo, segundo levantamentoda Cruzeiro do Sul Corretora.

Como o próprio nome diz, a taxa básica é apenas uma referência de mercado. Na prática, quem precisa recorrer às linhas das instituições financeiras paga valores muito mais salgados: no cheque especial, nos cartões de crédito e no crédito ao consumo, são cerca de 300% ao ano e, em empréstimos para os negócios de menor porte, em torno de 60% anuais.

Por isso, nada mais simpático aos olhos da população do que lançar uma guerra sem precedentes à "ganância" dos bancos, como fez o governo nos últimos dias. Eles foram transformados na Geni da vez, e justamente na hora em que a equipe econômica petista mais era cobrada pelos insucessos de sua política econômica. Coincidência? Possivelmente, não.

É certo que os bancos não têm pendor para mocinho de cinema, mas não são os únicos a cometer vilanias. As taxas que cobram de seus clientes em suas operações de crédito também devem muito a penduricalhos e encargos determinados pelo próprio governo.

Segundo o Banco Central, o spread - diferença entre o que um banco paga a quem investe seu dinheiro lá e o que cobra de quem toma emprestado - no Brasil só é menor do que no Zimbabwe: em fevereiro, por exemplo, os bancos pagaram, em média, 9,7% ao ano para obter recursos e emprestaram aos correntistas a uma taxa de 38%.

Desta diferença, um terço equivale especificamente à margem de ganhos dos bancos. Tudo o mais são despesas: quase 22% são impostos cobrados pelo leão, sobretudo IOF e contribuição social; 29% devem-se à inadimplência; 13%, a custos administrativos e 4%, ao recolhimento compulsório ao BC de parte dos depósitos à vista.

Para baixar os juros, a única medida efetiva do governo até agora foi determinar que Banco do Brasil e Caixa cortassem imediatamente, e na marra, suas taxas. Infelizmente, ao contrário do que apregoa a publicidade oficial, não será todo mundo que conseguirá dinheiro mais barato, como comprovoua Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, logo depois dos anúncios, na semana passada.

Botar o bode dos juros na sala é oportuno para um governo que se vê às voltas com sérias dificuldades para animar a economia, como está acontecendo agora no país. É preciso, sim, baixar as taxas, mas é igualmente necessário que se ataquem os gastos públicos, que se aumente a poupança e o investimento, que se melhorem as condições de competitividade. Sem isso, vamos sempre esbarrar em limites, como a inflação.

"Ao fazer um apelo público aos bancos privados para que eles aumentem o volume de crédito, o governo menospreza o funcionamento do sistema financeiro brasileiro. Como se sabe, a limitação da oferta de crédito é imposta pelo próprio Banco Central, para evitar a disparada da inflação", avaliou a revista Épocaem sua edição desta semana.

A gestão Dilma Rousseff ainda não conseguiu promover ações objetivas em prol da melhoria da estrutura produtiva nacional. Suas tentativas são, muitas vezes, desconexas, voluntaristas, desfocadas ou, em alguns casos, crassamente equivocas e distorcidas - como o apelo ao protecionismo e a concessão de benefícios fiscais apenas a amigos do rei.

As barbeiragens cobram seu preço: neste ano, a perspectiva é de que o Brasil cresça, novamente, abaixo da média global, regional e dos países emergentes, como previuontem o FMI. Como tem sido a tônica desde os anos Lula, vamos, mais uma vez, ficar para trás. E não vai adiantar o governo ficar apontando os culpados de sempre.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

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