segunda-feira, 16 de abril de 2012

PT e PMDB divergem sobre CPI

Raquel Ulhôa e Fernando Exman

BRASÍLIA - Com o empenho do PT pela criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre o suposto esquema de corrupção chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos e a omissão do Palácio do Planalto, o governo corre o risco de enfrentar dificuldades para montar uma rede de proteção na CPMI. Criada para atingir a oposição, cuja insignificância numérica hoje é reconhecida por todos, o governo pode ser a principal vítima. Não só com a paralisação do Congresso, mas também devido à possível revelação de irregularidades que envolvam o Executivo.

O PMDB, que deve indicar o presidente da comissão, resiste a assumir o papel de anteparo ao Executivo. A sigla ainda tenta digerir a decisão da presidente Dilma Rousseff de criar interlocução direta com a ala dissidente da bancada do Senado, ao substituir Romero Jucá (PMDB-RR), ligado à cúpula partidária, por Eduardo Braga (PMDB-AM) na liderança do governo na Casa.

Além disso, como o PT insuflou a instalação da comissão, outros partidos governistas têm demonstrado a intenção de indicar representantes dispostos a aprofundar as investigações. Até mesmo o PT pensa em escalar para integrar a comissão parlamentares que aceitem cumprir uma "missão partidária". CPI pode convocar depoentes, quebrar sigilos bancário, fiscal e telefônico, requisitar documentos e diligências e tem até poder de prisão.

Parlamentares do PT acreditam que a CPMI poderá dividir a atenção da sociedade com o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), embaralhando tudo aos olhos da sociedade. O presidente do PT, Rui Falcão, também sinalizou recentemente quais serão os alvos prioritários do partido: o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) - um dos mais duros oposicionistas do DEM até as revelações de suas supostas ligações com o grupo investigado-, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e parte da imprensa, que o PT tenta regular há muito tempo.

"O deputado [que for indicado para representar o PT na CPMI] é para assumir uma tarefa partidária, e não para ter holofote. Tem que ter espírito coletivo", afirmou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), acrescentando que não indicará para a comissão deputados que forem candidatos a prefeito ou que quiserem frequentar suas bases eleitorais durante a campanha. "Vai ter que se dedicar 24 horas por dia e ficar em Brasília."

Parlamentares do PMDB questionam por que deveriam ficar com o ônus de "abafar" as investigações, para evitar possíveis prejuízos ao Planalto, quando o PT mostra essa "fúria" para criar a CPI. A perplexidade com essa iniciativa do partido de Dilma dominou as conversas durante o jantar em comemoração dos 46 anos do PMDB, na semana passada, em Brasília.

Palavras como "maluquice" e "inabilidade" eram ouvidas em todas as mesas. Até o vice-presidente da República, Michel Temer, então no exercício da Presidência, demonstrou preocupação com os desdobramentos das apurações, admitindo que CPI nunca é bom. "O governo não agiu nem para estimular nem para barrar", disse.

Na avaliação feita por pemedebistas presentes - do alto e do baixo cleros-, o PT está querendo criar um fato político maior do que o mensalão. Afirmam que, além de tentar desviar o foco do julgamento, a intenção seria diluir o desgaste político entre os diversos partidos junto à opinião pública.

O resultado, porém, na opinião de lideranças do PMDB, pode voltar-se contra interesses do governo. Um dos alvos da oposição é a ligação do grupo investigado com empresas contratadas para executar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como a Delta Construção. A empresa nega ter praticado irregularidades.

Apelidado de Carlinhos Cachoeira, Carlos Augusto Ramos foi preso pela Polícia Federal sob a acusação de chefiar um esquema ilegal de jogos de azar. Na investigação, a Polícia Federal fez escutas telefônicas que apontam ligação de Demóstenes, deputados de diversos partidos e pessoas ligadas aos governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Quem teve acesso ao inquérito diz que a CPMI pode apontar o envolvimento de integrantes do Judiciário, Ministério Público e outras empresas além da Delta. Waldomiro Diniz, assessor da Casa Civil à época de José Dirceu, um funcionário que permaneceu daquela época no atual gabinete de Relações Institucionais, aparecem em contato com o esquema do contraventor nos governos Lula e Dilma.

Alguns dos integrantes da CPMI poderão priorizar seus interesses políticos locais durante as investigações. Os representantes da bancada do PMDB na Câmara, por exemplo, serão os deputados Íris de Araújo (GO) e Luiz Pitiman (DF), ambos de Estados citados nas investigações da Polícia Federal. O marido de Íris de Araújo, Iris Rezende, perdeu a eleição a governador para Perillo. Já Pitiman foi secretário de Obras do governo Agnelo Queiroz.

O PR deve indicar os deputados Maurício Quintela Lessa (AL) e Ronaldo Fonseca, também do Distrito Federal. O DEM deve ser representado pelo deputado Onyx Lorenzoni (RS), que teve papel de destaque em CPIs contra o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os tucanos, os cotados são o deputado Carlos Sampaio (SP) e o senador Álvaro Dias (PR). PT, PMDB do Senado e demais partidos anunciam os nomes nesta semana.

As duas funções mais estratégicas serão ocupadas pelos maiores partidos da base. O PT da Câmara vai indicar o relator. Caberá ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), escolher o presidente da CPMI. Por enquanto, ele não quer falar quem serão os integrantes da bancada que vão compor a comissão. "Essa agonia é para mais adiante", diz.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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