quinta-feira, 5 de abril de 2012

Tucanos criticam 'vazamentos seletivos'

Oposição estranha que investigação não atinja PT e o governo; ministro da Justiça defende PF

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA. A proliferação de denúncias envolvendo pessoas do governo de Goiás, comandado pelo tucano Marconi Perillo, levou ontem os principais caciques do PSDB a partir para o ataque ao governo federal. Em discurso uníssono, os dirigentes do partido criticaram o suposto "vazamento seletivo" de informações da Operação Monte Carlo e pediram que a íntegra da investigação venha a público, sugerindo que petistas graúdos também poderão ser atingidos pelo escândalo.

Ao comando nacional do PSDB, o governador goiano garantiu que ele não tem negócios com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, mas o clima entre os tucanos, nas conversas reservadas, é de apreensão. Os tucanos estão constrangidos, porque sabem da ligação estreita entre Perillo e Demóstenes.

- Eu não gosto de vazamentos, informações a conta-gotas. Deixe o Cachoeira falar. Nós estranhamos estas fitas seletivas em cima de quadros da oposição. Nós temos muita confiança no governador Marconi Perillo - afirmou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. - Esses fatos todos são muito graves. E mais graves ainda que não sejam públicos.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, saiu em defesa da atuação da Polícia Federal e negou que o vazamento do teor das gravações tenha partido da corporação.

- Considero muito ruim que informações vazem, mas a partir do momento que se tem um processo que pode ser acessado por dezenas de advogados e dezenas de pessoas, é óbvio que é impossível controlar esse tipo de informação. Garanto que não houve vazamento da Polícia Federal, que cumpriu rigorosamente seu papel. Um trabalho feito sob a luz do sol - afirmou Cardozo.

Delúbio e Agnelo estão no alvo do PSDB

Após perder um de seus mais importantes senadores e ficar com um governador sob fogo cerrado, os oposicionistas estão decididos a estender as denúncias a partidos do governo, em especial ao PT. Há, inclusive, dois alvos concretos cogitados pelos tucanos: o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que atua na política goiana, e o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, já que Cachoeira controlava áreas de jogo ilegal no entorno da capital. Também se especulava ontem que há conversas de Cachoeira com o deputado cassado José Dirceu, e que Demóstenes Torres estaria guardando isso como munição.

A decisão do PSDB de partir para o ataque se deu após Perillo conversar com os principais líderes do partido. Além de Guerra, o governador falou com o líder do partido no Senado, Álvaro Dias (PR), e com o senador Aécio Neves (PSDB-MG). A ambos, disse que não tinha qualquer relação com o bicheiro. O governador, que já teve acesso à íntegra do inquérito, assegurou ainda que não há nos autos qualquer fato que o ligue à quadrilha e que vai demitir todos os servidores envolvidos no caso.

Tentando se proteger de futuras acusações, Perillo assegurou aos correligionários que os integrantes de seu governo envolvidos até agora não eram escolhas suas, mas sim indicações políticas de aliados. Segundo ele, a chefe de gabinete teria sido indicada por seu ex-secretário Fernando Cunha, morto no ano passado. Demóstenes Torres, por sua vez, teria sido responsável pela sugestão de vários outros nomes para sua administração.

- Não podemos prejulgar, mas não avalizamos impunidade. Acho que ele deveria fazer uma comunicação oficial ao partido. No entanto, o fundamental é o conhecimento do inteiro teor do inquérito e dos anexos, pois não podemos adotar providências em função de versões - afirmou Álvaro Dias. - Não há aval à impunidade, o que se deseja é que os fatos sejam todos esclarecidos. Esses vazamentos seletivos não bastam. É necessário abrir a caixa-preta do Cachoeira, os anexos para se saber o envolvimento de todos.

Logo após se reunir com Sérgio Guerra e com o presidente do DEM, José Agripino Maia, o senador Aécio Neves acrescentou:

- Temos confiança na posição do governador Marconi Perillo. O positivo seria que a sociedade tomasse conhecimento de todo o processo. Agora, é importante reconhecer que o DEM fez o que devia fazer, diferentemente do PT, que prestigia os seus acusados.

FONTE: O GLOBO

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