terça-feira, 29 de maio de 2012

Indústria cresceu só 2,6% em três anos

No mesmo período, de 2008 a 2011. a economia brasileira registrou crescimento de 10,1%, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas

Daniela Amorim

RIO - A produção da indústria cresceu apenas 2,6% entre 2008 e 2011, uma taxa de 0,85% ao ano, segundo levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas com exclusividade para a "Agência Estado". O desempenho fraco fica ainda mais evidente quando se considera que, entre 2008 e 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro avançou 10,1%, num ritmo de 3,25% ao ano, apontaram os pesquisadores Silvio Salles e Aloisio Campelo, economistas do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV.

Os resultados comprovam a perda de espaço da fabricação de produtos manufaturados pela concorrência com importados, enquanto atividades extrativas e relacionadas a commodities ganharam peso, apontando para uma tendência de "primarização" na indústria brasileira.

No mesmo período, de 2008 a 2011, o consumo das famílias cresceu 16,2% (5,1% ao ano); os investimentos, 18,5% (5,8% ao ano); o comércio, 13,5% (4,2% ao ano); as importações, 37,7% (11,2% ao ano); e as exportações, 5,9% (1,9% ao ano).

"Mas, mesmo dentro da indústria, o crescimento foi muito desigual", notou Silvio Sales.

Entre os 27 ramos pesquisados, cinco setores tiveram taxas bem acima da expansão do PIB, e quatro apresentaram taxas próximas, entre 7% e 10%. Mas o avanço na produção não foi suficiente para compensar as perdas verificadas em sete segmentos, na maioria em indústrias que sofreram os efeitos da concorrência com produtos importados.

Queda. Os setores com queda na produção foram os de material eletrônico e equipamentos de comunicações (-21,6%); têxtil (-16,7%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-16,1%); calçados (-12,7%); e vestuário (-5,6%). No caso dos perdedores, o fator determinante foi a redução na competitividade, disse Aloisio Campelo. "O câmbio valorizado prejudicou ainda mais e houve aumento de penetração de importações."

"Houve queda mesmo em eletroeletrônicos, porque, a despeito do aumento no consumo, a produção interna passa a ser cada vez mais uma montadora de componentes importados", completou Sales.

Segundo os cálculos dos economistas, os setores com bom desempenho foram os de bebidas (18,8%); equipamentos médico-hospitalares e ópticos (17,8%); farmacêutica (11,8%); veículos automotores e outros equipamentos de transporte (10,4%). As principais razões para a expansão foram a ampliação do mercado interno, o aumento da massa salarial, o avanço da demanda e incentivos como a oferta de crédito.

Mas os pesquisadores notaram que quatro segmentos importantes ficaram praticamente estagnados entre 2008 e 2011, sendo os principais os setores de refino de petróleo, com avanço de apenas 0,5% na produção, e máquinas e equipamentos, com aumento de 1,6%, após uma redução nas exportações e aumento nas importações.

Máquinas e petróleo. "No primeiro segmento (de refino), ao que parece, há uma "troca" de produção interna pela importação de derivados de petróleo. No segundo (máquinas e equipamentos), a importação de máquinas e equipamentos parece ser o principal fator", analisaram os economistas.

Para o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza, o problema não é a indústria primária, baseada na extração e na produção de commodities, estar se expandindo, porque o movimento não necessariamente acontece em detrimento do avanço do setor manufatureiro.

"Os EUA, por exemplo, são bons em tudo, até na atividade agropecuária. A indústria extrativa brasileira é bastante competitiva, e isso é positivo. É preciso descobrir o que está acontecendo com a indústria de transformação, que não avança no mesmo compasso", diz Souza.

Durante os anos de crise internacional, houve um acirramento da concorrência no mercado internacional, disse o economista Paulo Levy, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mas, segundo ele, os problemas que diminuem a competitividade da indústria não se alteraram, como a alta carga tributária e a falta de investimentos em infraestrutura.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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