quinta-feira, 10 de maio de 2012

Inflação em alta pode afetar corte no juro

IPCA de abril teve impacto da alta do dólar e é um sinal de alerta para o governo de que é preciso desvalorizar o câmbio, dizem economistas

Márcia de Chiara

A aceleração da inflação oficial em abril e também das primeiras prévias deste mês de outros índices de custo de vida reverteu o cenário favorável para os preços do primeiro trimestre e fez acender o sinal de alerta em relação à inflação e à pretensão do governo de derrubar as taxas de juros, avaliam economistas.

"Há uma restrição ao movimento de redução de juros, que pode não ser sustentável. Dificilmente a inflação em 12 meses, hoje em 5,1%, ficará abaixo disso", diz a coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre da Fundação Getúlio Vargas, Silva Matos.

A economista fez as contas e constatou que a inflação oficial em abril, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, foi fortemente influenciada pela valorização do câmbio, que impulsionou os preços dos produtos comercializáveis. Produtos comercializáveis são aqueles cujos preços sofrem diretamente o impacto do dólar, como alimentos processados e vestuário, por exemplo.

Silvia observa que, depois de dois meses seguidos de deflação, de -0,21% em fevereiro e de -0,08% em março, os preços dos produtos comercializáveis deram um salto em abril e subiram 0,55%. "Esse resultado reflete a valorização do dólar e as restrições às importações. Acendeu o sinal de alerta para a política de juros, se o câmbio continuar a se valorizar", diz a economista.

Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, faz avaliação semelhante. Ele aponta a valorização do câmbio, que nos últimos 60 dias subiu cerca de 10% e que já tinha aparecido nos resultados dos índices gerais de preços (IGPs), como o principal fator de reaceleração da inflação em abril. Nas suas contas, 70% da alta de 0,64% do IPCA de abril vem do câmbio.

Silveira também considera o resultado da inflação de abril um sinal de alerta, só que para o governo ajustar a taxa de câmbio. "A pressão inflacionária pode retardar o declínio dos juros para 8% no final de 2012. O câmbio deve começar a ser desvalorizado agora", recomenda.

Serviços. Já para o economista da Tendências Consultoria Integrada, Tiago Curado, a alta do IPCA de abril reflete elevações pontuais de preços, como a dos cigarros, medicamentos e vestuário, e a reaceleração dos preços dos serviços. "Não tivemos tempo de observar o impacto do câmbio."

Para ele, o cenário inflacionário está "longe de ser considerado tranquilo". Ele destaca que a inflação deste ano não deve ser muito pressionada por causa dos bons resultados do primeiro trimestre. Mas, para o segundo trimestre, não é possível contar com desempenho semelhante Na opinião de Curado, "a política de redução de juros está inviabilizada pelo cenário inflacionário há algum tempo e o resultado do IPCA de abril aumenta o risco dessa política".

A reaceleração da inflação de serviços em abril fica clara nas contas de Silvia, da FGV. De janeiro a março, os preços dos serviços, excluindo passagens aéreas, tinham subido 2,86%. Em abril, o índice foi para 3,62%.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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