domingo, 13 de maio de 2012

Nus na cachoeira, pelados de idéias:: Vinicius Torres Freire

No momento em que política econômica vira do avesso, políticos se dedicam quase apenas a mumunhas para salvar amigos desclassificados

O Congresso apita pouco sobre economia. Não é novidade. Mal mexe no Orçamento, ao qual quase apenas emenda verbas para bases eleitorais da deputação.

A política econômica, então, é um universo paralelo. Além de estar muita vez fora da alçada legal do Congresso, as providências econômicas escapam do entendimento intelectual dos parlamentares, cada vez mais toscos e omissos, uma tigrada.

A ausência do Congresso fica ainda mais notável em momentos como este, em que a política econômica vai sendo como que virada do avesso ao mesmo tempo em que outra vez a gente enxerga as entranhas mais revoltantes da política politiqueira, o caso de Cachoeira & turma, e as mumunhas que antecedem o julgamento do mensalão.

Sim, o Congresso legisla sobre impostos, divisões de royalties, aumentos de funcionários etc., aprecia as medidas provisórias que definem muito da política econômica.

Mas, no melhor dos casos, quanto a gastos e impostos, dedica-se a dividir o butim federativo. No comum dos casos, pendura nas leis contrabandos que favorecem interesses muito privados.

Não devia ser tanto assim.

Política econômica é, enfim, política, e nem política os políticos fazem a respeito. Não se espera outra coisa do PT e da coalizão de peemedebês aboletada no governo, que, enfim, são governistas, embora pudessem demonstrar um pouco de vergonha na cara e altivez) em relação aos decretos do Executivo. Mas quede a oposição?

Está tão dedicada a manobras e mutretas quanto o petismo-peemedebismo, ambos mergulhados na tarefa de livrar a cara dos desclassificados piores pegos nus na cachoeira ou na mensalagem.

Além de ínfima, inoperante e dedicada a críticas de um oportunismo mesquinho e oligofrênico, a oposição, diga-se logo o PSDB, ainda se finge de morta diante de casos como o desse notório deputado Lereia, declarado "amigo pessoal" desse Cachoeira, ou do enroladíssimo Marconi Perillo, governador de Goiás.

É degradante: portanto talvez condizente mesmo com a atitude de gente que tolerou o mensalão mineiro de Eduardo Azeredo, para ficar numa história mais conhecida.

Parece, pois, tolice ingênua esperar que essa gente pequena se organize para debater economia ou qualquer coisa, criticar Dilma, chamar notáveis para pensar alternativas.
Vez e outra, alguns dos melhores pensadores tucanos se encontram no Instituto FHC. Mas debates assim são, em termos políticos, quase clandestinos, para poucos.

Se não fosse tanta a preguiça, a burrice e a falta de imaginação, o PSDB poderia juntar seu quadros pensantes restantes e fazer barulho na mídia, suscitar algum debate sério, mas politicamente relevante e audível. Debate: não essas idiotices sobre "meter a mão no bolso do povo" (como a "crítica" à mexida na poupança"). Mas quede?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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