sexta-feira, 29 de junho de 2012

Agência rebaixa nota de oito bancos brasileiros

Depois de rebaixar grandes bancos americanos e europeus, ontem foi a vez de a agência Moody"s revisar a nota de oito bancos no Brasil, além da BM&F Bovespa: Bradesco, Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Votorantim, HSBC Bank Brasil, Santander Brasil, Safra e ING Bank. A principal justificativa para a reclassificação foi a excessiva quantidade de títulos públicos em carteira desses bancos. O Banco Central reduziu a previsão de crescimento do PIB deste ano para 2,5%.

Nem bancos brasileiros escapam

Moody"s rebaixa oito instituições por alta exposição a títulos federais. Ações caem

Daniel Haidar, Germano Oliveira*

RIO, SANTANDER (Espanha) e SÃO PAULO - O Brasil não passou incólume à revisão da classificação de risco de bancos feita pela agência Moody"s em todo o mundo. Depois de rebaixar grandes grupos internacionais, como o Bank of America, Goldman Sachs, Santander e HSBC, ontem foi a vez de oito instituições financeiras brasileiras terem a nota reduzida. Itaú, Bradesco, Banco do Brasil (BB), Santander, Safra, HSBC, Votorantim e ING Bank, mais a BM&FBovespa, caíram até três níveis para ficarem mais próximos da avaliação dos títulos públicos brasileiros. Todos continuaram sendo considerados grau de investimento, qualificação dada a países e empresas seguros de se investir. A revisão teve impacto nas ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e fez os papéis de quatro bancos fecharem em queda.

Segundo a Moody"s, a mudança ocorreu depois que depois que a agência aprendeu, nas crises financeiras recentes, que os bancos são altamente atrelados ao grau de confiança nos títulos públicos dos países onde estão sediados. Isso porque os papéis dos governos são alvo de grandes parcelas de investimentos das instituições.

- Entendemos agora que os ratings dos bancos ou de instituições financeiras não podem estar muito acima dos seus governos, porque a correlação de risco de crédito de um país e dos seus bancos é muito forte - explicou Ceres Lisboa, vice-presidente de crédito da Moody"s no Brasil e última responsável pelo estudo que revisou notas de bancos brasileiros.

Apenas Itaú, Itaú BBA e Bradesco continuaram com notas superiores à da dívida brasileira. Os três caíram três níveis, de "A1" para "Baa1". BB teve a qualificação equiparada ao do país ("Baa2"), por ser público e pela elevada dependência do Tesouro brasileiro. O Safra foi rebaixado de "Baa1" para "Baa2". Já HSBC e Santander sofreram os reflexo da piora nas suas matrizes no exterior e caíram dois níveis, de "A3" para "Baa2".

Captações podem ficar mais caras

A subsidiária do holandês ING no Brasil caiu também por reflexo da piora da avaliação de sua controladora. Apenas o Banco Votorantim, um dos que mais sofreram recentemente com a alta da inadimplência, ficou com nota inferior ao Brasil e perdeu um nível, de "Baa2" para "Baa3". Essas notas consideram apenas a solidez financeira dos bancos - não são avaliados eventuais apoios do governo ou de suas matrizes.

Desde que a revisão da Moody"s começou em 24 de fevereiro deste ano, 84 bancos em todo o mundo foram colocados em análise. Para ilustrar a exposição dos bancos brasileiros a títulos públicos, a Moody"s citou que, em média, os bancos têm aplicados em títulos federais o equivalente a 167% de seu patrimônio de referência de nível 1 (considerado o mais seguro).

"Nossa revisão indica que existem poucas razões para acreditar que esses bancos possam ficar isolados de uma crise de dívida pública", diz o relatório da Moody"s.

Na Bolsa, as ações unit do Santander Brasil recuaram 0,52%, enquanto a ação ordinária (ON, com direito a voto) do BB perdeu 0,21%. O papel preferencial (PN, sem direito a voto) do Bradesco recuou 0,82%. Itaú Unibanco PN perdeu 0,95%, enquanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, caiu 0,86%, aos 52.652 pontos.

Segundo João Augusto Salles, analista da consultoria Lopes Filho, a piora das notas pode tornar mais caro para os bancos captarem recursos nos mercados externo e interno.

- Quanto pior o rating , a percepção de quem empresta recursos para esses bancos é de que o banco ficou com risco mais elevado. Logo cobra-se um juro maior - diz João Augusto Salles, analista da consultoria Lopes Filho.

Santander diz que foi ajuste técnico

O presidente do Santander no Brasil, Marcial Portela, minimizou a decisão. Segundo ele, a medida foi mais um ajuste técnico do que uma revisão decorrente da piora das condições dessas instituições.

- Os bancos brasileiros nunca estiveram tão sólidos - disse o presidente do Santander.

Para ele, o sistema bancário brasileiro é um dos mais sólidos do mundo.

- O Santander está com um nível de capitalização muito bom, perto de R$ 60 bilhões em Bolsa, enquanto o Itaú está com R$ 118 bilhões e o Bradesco, com R$ 95 bilhões - explicou o executivo, em entrevista a jornalistas brasileiros na Espanha.

Procurados, Itaú Unibanco, Bradesco, HSBC e BB informaram que não iriam se pronunciar sobre a mudança em suas notas.

Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora, admitiu que o rebaixamento assustou num primeiro momento, mas que depois ficou claro ter se tratado muito mais de um ajuste metodológico.

- Na prática, não mudou nada em relação ao Brasil. Os bancos grandes do país estão num bom momento.

Carlos Hamilton de Araújo, diretor de Política Econômica do Banco Central, concorda:

- Eles não estão enxergando nenhum problema. É um procedimento generalizado. Certamente, essa crise recente ensinou alguma coisa e eles mudaram esse procedimento.

FONTE: O GLOBO

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