quinta-feira, 21 de junho de 2012

História do futuro próximo:: Vinicius Torres Freire

A julgar pela perspectiva do Fed, crise mundial completará uma década e morrerá de velha; se morrer

A economia dos Estados Unidos vai estar entre adoentada e convalescente até 2015. É pelo menos o que deram a entender os diretores do banco central americano, o Fed.

A política de taxa de juro zero (Zirp, na sigla em inglês) continua pelo menos até 2014 ou 2015. A Zirp começou no fim de 2008. Vai fazer seis anos.

Juro zero por tanto tempo assim significa que muita gente está desempregada ou endividada demais para consumir e que muita gente está com medo de consumir e de investir (em aumento da produção). Oferta-se dinheiro à vontade, mas a coisa não anda.

Para completar, o Fed anunciou que continuará até o fim do ano as operações de recompra de títulos da dívida pública de longo prazo.

Trocando em miúdos, continua a pôr dinheiro na praça para tentar baixar taxas de financiamentos longos, como a da casa própria. Mas a economia reage devagar, quase parando quando leva susto da Europa.

A crise americana começou já em 2007. Mesmo que os EUA voltem à "normalidade" em 2014 ou 2015, a Europa ainda estará com lama pelos joelhos.

Nas estimativas mais otimistas, a economia europeia volta a ser o que era em 2007 lá por 2017, 2018. Se o caso de Grécia, Portugal, Espanha ou Itália não der em besteira grave.

Portanto, a crise vai chegar a dez aninhos.

Ou será que a "crise" e seus desdobramentos serão o "normal" daqui por diante? Não se trata de dizer que o tumulto financeiro e econômico será eterno, mas de imaginar que o tombo de 2008 foi um episódio crítico de processo maior de mudança e que tal tombo deixará sequelas.

Talvez o mundo euroamericano não possa nem consiga (ou mesmo deva) crescer a um ritmo forte. Porque talvez não consiga é assunto para outro dia e para mais espaço. Mas, a esse respeito, note-se que o mundo rico vive de bolhas financeiras faz uns 20 anos. Não vinha crescendo a não ser com anabolizantes.

Porque não deve crescer mais é o assunto do momento, pois estamos no meio da Rio+20, a conferência ambiental, e o assunto lá, em última instância, é como equilibrar o crescimento mundial (mais nos lugares mais pobres, menos nos mais ricos) e como dividir a conta do investimento em melhoria ambiental.

O problema maior (e talvez insolúvel) é, claro, como coordenar o rebalanceamento (quem vai querer segurar seu crescimento?), como dividir a conta sem guerra e como reduzir a desigualdade em cada país, mesmo rico. Entenda-se: o esteio social e político de uma programa de "crescimento menor" depende de melhoria na distribuição de renda.

EUA ou Europa Ocidental ainda precisam crescer rápido? O esforço de solução da crise deles deve ter esse objetivo? E a eventual retomada deve se apoiar em que setor?

Note-se que o consumo per capita de energia nos EUA é o dobro do britânico, 85% maior que o alemão, num mundo em que bilhões ainda passam fome e frio.

Note-se que o "plano" europeu de recuperação econômica em última instância se baseia na depressão de rendas (de salários e benefícios), em aumento da desigualdade, para que se mantenha a "competitividade" da economia tradicional deles, assolada pela concorrência asiática. Isso não vai dar certo. Talvez nem seja possível.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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