terça-feira, 26 de junho de 2012

Institutos enfrentam pressão por resultados eleitorais favoráveis

Carmen Munari

SÃO PAULO - Pesquisas eleitorais buscam se aproximar ao máximo do que pretendem os eleitores. Mas muitas vezes os institutos de pesquisa se veem pressionados por candidatos que pretendem interferir na confecção dos levantamentos, com o objetivo de influenciar no rumo da própria campanha com vistas a angariar alianças e adesões partidárias. É o que contam institutos de pesquisa tarimbados na lide com candidatos a prefeitos. Uma realidade que deve se repetir neste ano, com eleições marcadas para outubro.

Esses institutos, grandes ou pequenos, têm muitas queixas quanto ao comportamento de seus clientes, os candidatos. Segundo empresas consultadas, os políticos reclamam de tudo: do preço, da amostragem, da forma de coleta de dados e dos resultados - principalmente quando estão em baixa. Um grande número de candidatos ameaça suspender o pagamento quando o resultado da sondagem lhes é desfavorável. Entende-se: o índice de aceitação ou rejeição pode abalar a autoconfiança de um candidato e interferir nas negociações partidárias. Nesses casos, são capazes de tentar deixar de lado a credibilidade ao sugerir alterações na metodologia, algo típico de manipulação. Melhor seria analisar os resultados e produzir uma estratégia de atração do eleitor.

Além dos muito conhecidos Ibope e Datafolha, os levantamentos são produzidos por uma infinidade de outros institutos - 180 deles são filiados à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), mas muitos atuam de forma independente, sem filiação à entidade de classe, e nem todos produzem levantamentos eleitorais. No total, este mercado fatura anualmente R$ 1,5 bilhão.

Cada cidade brasileira com mais de 200 mil eleitores, num total de 133, sedia pelo menos um instituto de pesquisa, o que leva competitividade ao setor, reduzindo os preços, mas nem sempre eleva a qualidade, segundo avalia um vanguardista no ramo.

"Os candidatos acham a pesquisa cara e não a encaram como um investimento", disse ao Valor Jacilene Arcoverde, da Referência Consultoria, empresa com sede no Recife que atua há dez anos em Pernambuco e Estados próximos. A especialista explica que os clientes não conhecem a metodologia das pesquisas eleitorais e, quando estão com percentual de intenção de votos abaixo do adversário, têm dificuldade em aceitar a realidade. "Ficam desapontados e dizem que o sentimento das ruas é diferente", conta.

A amplitude da amostra e o número de entrevistas são outro alvo de debates entre as empresas e os candidatos. Afinal, segundo o consultor Carlos Matheus, ex-dirigente do Gallup no Brasil e há mais de 40 anos neste mercado, o campo equivale a 40% do custo das pesquisas e quanto maior a amostra mais apurado o resultado - e mais alto o preço. É uma questão de opção, produzir uma pesquisa com maior ou menor número de entrevistas, desde que siga um nível que não comprometa o resultado.

A amostragem é resultado de um cálculo estatístico. Em levantamento realizado na capital paulista em maio, o Ibope ouviu 805 eleitores. Um mês antes o Datafolha, que não faz pesquisas eleitorais para partidos ou candidatos apenas para a mídia, foi às ruas e entrevistou 1.087 pessoas. Cada um tem sua metodologia. O Datafolha informa que seu levantamento é realizado por amostragem estratificada por sexo e idade com sorteio aleatório dos entrevistados, enquanto o Ibope faz a seleção em dois estágios: por um sorteio probabilístico dos setores da cidade onde serão realizadas as entrevistas, tomando como base o eleitorado de cada um deles. Em uma segunda etapa, a seleção dos entrevistados é feita de acordo com sexo, idade, grau de instrução e ramo de atividade. A capital tem 8,6 milhões de eleitores.

Levantamento recente realizado no interior da Bahia levou um político a querer influenciar o resultado indicando para responder ao questionário localidades sabidamente favoráveis a ele. "Ele tentou manipular a própria pesquisa, quer se enganar", disse Rony Moreno, diretor comercial da Insight, localizada em Barreiras, interior da Bahia. Moreno aponta ainda o clientelismo, muito forte fora das grandes capitais. "Há candidatos que acham que vão tomar um café na casa de um eleitor e, pronto, ganham o voto. Mas quando vamos fazer a pesquisa não é assim", explica. Quando os candidatos recebem o resultado e veem o desempenho desfavorável, são capazes de ir à casa de eleitores e fazem ameaças, dizem que vão cortar benefícios como o Bolsa Família ou o Vale Gás, conta Moreno.

O que pode parecer detalhe também é fruto de polêmica. Um questionário de entrevistas muito longo é encarado pelos institutos como um complicador. Cansa o entrevistado e pode comprometer o resultado, argumentam. Essa situação acontece, por exemplo, quando o candidato é prefeito e está concorrendo à reeleição. Ele quer aproveitar o momento da pesquisa para avaliar sua gestão ao mesmo tempo em que checa a questão eleitoral. O ideal é separar as duas sondagens, dizem os institutos, mas admitem que não é fácil convencer o prefeito, até porque ele terá que desembolsar uma quantia maior se fizer em duas etapas - mas a acuidade é superior.

Outro tipo de possibilidade de manipulação em cidades menores, onde todo mundo conhece a tendência política do outro, é a influência dos entrevistadores sobre os entrevistados durante o questionário. É proibido a um entrevistador usar símbolos como camiseta, ou broche de um partido ou candidato. Uma medida perseguida pelos institutos é levar os entrevistadores da sede da empresa até a cidade em que a pesquisa será realizada.

"Em cidade pequena, tudo pertence aos políticos", afirma Márcia Cavallari, dirigente do Ibope. Favorável a transportar os pesquisadores, a dirigente conta que é preciso conhecer de antemão os hotéis dos municípios, senão as pessoas "já saem dizendo que a pesquisa é comprada, porque o hotel em que se hospedam os entrevistadores é de um dos candidatos".

Márcia aponta Belém como uma das capitais em que a dualidade partidária PT-PSDB é das mais fortes e por isso o cuidado com os entrevistadores é redobrado. Em São Luís, apesar da forte influência da família Sarney, a dificuldade é menor do que na capital paraense ou em Manaus e o termômetro sobe na região Centro-Oeste. "Precisa dar as orientações aos entrevistadores para se livrar das armadilhas", diz.

Exemplo desta preocupação está no blog de Magno Martins, de Pernambuco. Ao publicar o resultado de uma pesquisa de intenção de voto de Garanhuns, o colunista comenta que foi realizada pelo Instituto Opinião que "não tem vínculo com políticos de Pernambuco, o que leva a considerar os devidos créditos à pesquisa realizada".

Mesmo as capitais não estão isentas de os eleitores confundirem entrevistadores com pessoas próximas aos candidatos. Em Natal (RN), durante uma pesquisa, mais de um eleitor questionou junto aos entrevistadores o estado de saúde da atual prefeita, Micarla de Souza (PV), que havia tido problemas cardíacos. "Disseram que votariam nela porque estava doente e perguntavam se ela estava melhor", conta Thalita Costa da Silva, coordenadora de pesquisa da Start, com sede na cidade, indignada com o comportamento dos eleitores que enxergaram nos pesquisadores porta-vozes da prefeita.

"É preciso neutralidade", resume João Francisco Meira, cientista político, presidente do instituto Vox Populi e conselheiro da Abep, sobre a relação do entrevistador com os entrevistados. O mesmo vale para os entrevistados, que podem ser colocados por interessados perto dos locais de pesquisa por um interessado, quando o método prevê entrevistas em locais de aglomeração mas ruas.

Outro cuidado é a divulgação das pesquisas. A grande maioria é realizada para consumo interno, mas é difícil convencer os candidatos a não colocar os resultados em folhetos. Se for para divulgação, a legislação exige registro na Justiça eleitoral.

Quanto aos preços, a variação é grande. "Dos anos 90 para cá, as pesquisas viraram uma commodity", acredita Carlos Matheus. Ele afirma que os levantamentos eleitorais municipais não podem custar menos de R$ 15 mil. Um instituto ouvido pelo Valor estimou o valor mínimo em R$ 5 mil, enquanto os grandes declararam cobrar entre R$ 40 mil (municipal) e R$ 250 mil (nacional). Os valores dependem do número de questionários aplicados, que custam pelo menos R$ 50 cada.

O dirigente da associação, João Francisco Meira, sugere um contrato bem amarrado para que o instituto possa recorrer à Justiça e acionar os candidatos inadimplentes. Também recomenda um item de contingência de risco no contrato, assim a inadimplência fica precificada.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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