segunda-feira, 18 de junho de 2012

Uma semana para não ser esquecida :: Luiz Carlos Mendonça de Barros

Quando esta coluna for lida no Valor de segunda feira, já será conhecido o resultado das eleições parlamentares na Grécia e os mercados financeiros na Ásia já estarão reagindo a ele. Felizmente os líderes do chamado G-20 prepararam, antecipadamente, um plano concertado de ação para enfrentar o pior. Uma questão fortuita facilitou essa ação na medida em que estavam previamente agendadas para esta semana uma reunião formal do G-20 no México e uma outra dos ministros das Finanças da Europa. Nesses dois fóruns é que terão que ser decididas as medidas concretas para estabilizar os mercados financeiros no curto prazo, pelo menos.

As alternativas de ação dos países mais ricos para lidar com a crise de confiança dos mercados dependem de qual dos caminhos possíveis foi o escolhido pelo eleitor no país de Sócrates: a vitória de uma coligação comprometida com a Europa, a de um grupo de esquerda radical e que prega uma ruptura com os acordos já negociados e, finalmente, a necessidade de realização de novas eleições.

No caso da formação de um governo comprometido com a Europa os mercados devem reagir bem e algum tempo mais será dado aos líderes europeus para definir um plano de voo de médio prazo para estabilizar a Zona do Euro. Nesse caso não será preciso acionar o Plano de Emergência que está sendo articulado pelos Bancos Centrais do G-20 e as atenções vão se voltar para a reunião dos ministros europeus. Esses senhores estarão reunidos por dois dias, preparando a agenda para o encontro dos chefes de Estado que será realizada na semana seguinte.

Só uma ação conjunta dos Bancos Centrais do G-20 nos mercados de câmbio e títulos soberanos poderá evitar um Armagedon

A agenda a ser definida necessariamente terá que apresentar uma solução clara e crível para que o mercado consolide uma visão mais otimista sobre o futuro. Infelizmente, as informações disponíveis mostram ainda que, apesar de algumas novas ideias interessantes, não existe uma agenda consistente de ações imediatas. Conceitos corretos como a busca de uma integração fiscal maior entre os países do euro, um redesenho dos sistemas financeiros nacionais e a criação de um novo arranjo institucional para os maiores bancos europeus não serão suficientes para convencer investidores e empresas que a Europa Unida não vai se desintegrar. Será preciso mostrar como todos esses objetivos serão atingidos.

Uma ideia nova que tem circulado na imprensa internacional - a criação de um Fundo Europeu para mutualizar parte das dívidas nacionais - traz uma alternativa para permitir um ajuste mais suave no endividamento público e abrir algum espaço para uma política de estímulo ao crescimento. Essa ideia - sugerida pela associação de economistas da Alemanha - é muito parecida com a adotada pelo governo Fernando Henrique Cardoso em 1999 para lidar com o elevado endividamento da maioria dos estados brasileiros. E os resultados aqui no Brasil foram muito positivos.

Na Europa a proposta é a de se criar um fundo supranacional que assumiria a parcela da dívida pública, de todos os países, que supere o limite de 60% do PIB. No caso da Europa de hoje, os 17 países da zona do euro seriam elegíveis para participar desse mecanismo. Até mesmo a poderosa Alemanha participaria desse clube dos endividados, o que certamente facilitaria sua aprovação nos países que ainda se mostram reticentes em dividir os ônus da estabilização financeira da Europa.

Mesmo com um reequilíbrio político entre os defensores radicais da austeridade fiscal e aqueles que defendem a necessidade da volta do crescimento econômico criado pela vitória dos socialistas franceses, parece que estamos ainda muito distantes da construção de um consenso. Por isso, mesmo com um cenário positivo na Grécia, os mercados não vão deixar de lado a postura especulativa sobre um fim inglório para o sonho da Europa Unida e a crise deve continuar.

A segunda alternativa para as eleições gregas - a vitória da esquerda radical - deverá mergulhar os mercados em todo o mundo no modo pânico. A ruptura com os acordos negociados defendida publicamente pelo Syriza levará certamente a uma moratória na Grécia e, no final de um processo dramático, à troca de sua moeda. Como não existem mecanismos legais que lidem com essa possibilidade, o pânico vai ser legítimo. Mas não apenas na Grécia, pois certamente o medo de um final semelhante em países como Portugal, Irlanda e Espanha - porque não a Itália? - tomará conta de todos.

Nessa situação apenas uma ação conjunta e orquestrada dos Bancos Centrais do G-20 a partir da noite de domingo nos mercados de câmbio, juros e de títulos soberanos poderá evitar um Armagedon financeiro e econômico. Mesmo assim o risco de fracasso dessas iniciativas é grande e assustador para qualquer analista com um mínimo de conhecimento de crises financeiras passadas.

Além desse movimento dos Bancos Centrais, os líderes políticos do mundo todo terão que encontrar na reunião do G-20 energia e coragem para construir um pacote de intervenção mais amplo para trazer de volta um mínimo de confiança aos mercados e, com isso, evitar uma nova depressão econômica que poderá fazer a dos anos trinta do século passado uma experiência menor.

Por tudo isto vou passar um fim de semana com muito medo e apreensão.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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