quarta-feira, 11 de julho de 2012

Desconfiança em relação ao PT une PSB ao PMDB

Raymundo Costa

BRASÍLIA - Às vésperas das eleições municipais, a presidente Dilma Rousseff enfrenta um clima de desconfiança generalizada entre os principais partidos que integram a base de sustentação de seu governo: PT, PMDB e PSB. Os dois últimos, por exemplo, estabeleceram um canal de consultas permanente para conferir se não estão sendo jogados um contra o outro pelo PT, com o aval do Palácio do Planalto.

A crise entre os partidos foi o assunto principal do jantar oferecido anteontem, no Palácio da Alvorada, aos governadores do Ceará, Cid Gomes, e de Pernambuco, Eduardo Campos, que também é presidente nacional do PSB. Dilma disse aos dois, segundo as versões dos presentes, que "a eleição municipal é importante, mas a aliança nacional é muito mais importante", numa referência aos aliados desavindos. A presidente prometeu atuar para pacificar especialmente as relações entre PT e PSB.

Semana passada, integrantes da cúpula do PMDB mantiveram contato com Campos. Disseram que a decisão de trocar a candidatura à reeleição de Márcio Lacerda (PSB) pelo apoio a Patrus Ananias, nome lançado de última hora pelo PT, fora de conveniência exclusivamente partidária e que o PMDB nada tem contra o governador de Pernambuco, nome recorrente nas especulações sobre a sucessão presidencial de 2014 e 2018. Dias antes, o vice Michel Temer estivera no Alvorada e teria ouvido da presidente que a "aliança preferencial" para 2014 será o PMDB.

Dilma também acenou para o PMDB que o acordo com o PT para as eleições do Congresso será cumprido. Segundo integrantes da cúpula pemedebista, na conversa também teriam sido comentados os problemas que Eduardo Campos estaria criando para o PT, nas negociações dos palanques municipais, e que o governador de Pernambuco demonstrava apetite para ser candidato a vice-presidente, no lugar do PMDB, ou mesmo a presidente já na eleição de 2014.

As versões que saíram tanto do Palácio do Planalto quanto do PSB foram no sentido de que Dilma quer que, agora, passadas as convenções e com o início da campanha propriamente dita, os partidos aliados não deixem que os conflitos contaminem a execução dos programas de governo.

Quando deixaram o Alvorada, os governadores do PSB fizeram juras de fidelidade a Dilma. "Entendemos que a parceria nacional, para tocar em frente o Brasil, é maior do que as eleições municipais", disse Campos. "Temos que saber conviver com essa diversidade no campo político. O povo é que vai se posicionar com o seu voto".

Na conversa que teve com Dilma, Campos foi mais duro em relação a posições assumidas pelo PT que julgou contrárias ao PSB, como o lançamento de candidaturas próprias, pelo PT, no Paraná, onde o PSB concorre à reeleição, em Belo Horizonte, rompendo um acordo escrito e assinado pelas duas siglas, sem falar em Pernambuco, onde Campos lançou um nome do PSB, diante da divisão irremediável do PT, o que impediria a sigla comandar uma frente partidária.

Segundo Campos, a disputa de Recife está para o PSB assim como a de São Paulo para o PT. É tão importante para ele vencer em Recife, quanto para o PT e Lula derrotar o tucano José Serra em São Paulo. O presidente do PSB não teria sido explícito, mas com essa comparação deixou claro que não tem como impedir o ex-presidente Lula ou Dilma de participar da eleição no Recife, mas prefere que eles se mantenham ao largo.

A divulgação de que a Controladoria Geral da República (CGU) estava investigando a gestão do ex-ministro Sérgio Rezende na Ciência e Tecnologia - sucedendo a Eduardo Campos, do qual fora secretário-executivo - agravou o quadro de tensão entre PT e PSB. A explicação recebida pelo partido é que não se trata de uma investigação sobre a gestão do PSB no ministério, mas algo residual do período em que vários ministérios tiveram convênios com ONGs sob suspeita.

Além dos governadores, dois ministros participaram da conversa: Ideli Salvatti (Relações Institucionais), encarregada da coordenação política do governo, e Paulo Bernardo (Comunicações). Uma das principais queixas de Campos era a atuação de Paulo Bernardo em Curitiba, onde ele levou o PT a apoiar a candidatura de um dos mais ferrenhos críticos de Lula, na CPI do mensalão, Gustavo Fruet, à época tucano e agora candidato do PDT. O prefeito Luciano Ducci, candidato à reeleição, é do PSB.

A avaliação feita no Palácio do Planalto é que ninguém ganha nada brigando agora. O próprio Campos ainda tem um ano e meio de governo, portanto, só teria a perder indispondo-se com Dilma. Também no Planalto e nas cúpulas dos principais partidos, o Plano A dos aliados hoje seria a reeleição de Dilma. O Plano B só seria acionado em duas circunstâncias: a crise econômica mundial se agravar e atingir em cheio o pais ou o ex-presidente Lula reivindicar a precedência de sua candidatura.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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