quarta-feira, 4 de julho de 2012

Nem incentivos de R$ 102 bi seguram queda da indústria

IBGE aponta recuo de 4,3% na produção em maio, o nono seguido

Apesar de sete pacotes no governo Dilma Rousseff e R$ 102 bilhões distribuídos em incentivos fiscais, a indústria brasileira continua em declínio: houve recuo de 4,3% na produção em maio frente ao mesmo mês do ano passado, como divulgou ontem o IBGE. A queda em maio foi a nona seguida e ocorreu em 17 dos 27 setores pesquisados pelo instituto. Até o setor de capital, que vinha registrando alta, teve freio. Os números também foram negativos na comparação com abril. A produção caiu 0,9%. Segundo o Ipea, os números mostram que o modelo de estímulo ao consumo, que vem sendo adotado nos últimos meses, está esgotado e seria preciso incentivar investimentos de grande porte no país.

Muito incentivo por nada

Após receber R$ 102 bi em estímulos só no governo Dilma, indústria recua 4,3% em maio, a nona queda seguida

Vivian Oswald, Cristiane Bonfanti e Lucianne Carneiro

Mais de R$ 102 bilhões foram destinados a incentivos à indústria desde o início do governo de Dilma Rousseff, em sete pacotes de medidas que tiveram por objetivo estimular o crescimento do país por meio do setor. Quatro deles foram lançados este ano. O montante equivale a mais de um mês de arrecadação de todos os impostos e contribuições do governo federal. Também é superior ao orçamento anual da Saúde, que, em 2012, ficou em R$ 72,1 bilhões.

No entanto, a situação vem se deteriorando: a indústria teve, em maio, recuo de 4,3% na produção frente ao mesmo mês do ano anterior, o maior recuo desde setembro de 2009, que tinha sido de 7,6%. No ano, a queda já está em 3,4%. E, para conseguir encerrar o ano pelo menos no zero a zero, o setor precisa de uma expansão média mensal de 1,5% até dezembro, segundo estimativa da LCA Consultores. Já há quem estime recuo de 1% em 2012, caso da Tendências Consultoria. Mas até para chegar a esse resultado será preciso crescer 1,15% ao mês até o fim do ano, o que não é tarefa fácil.

A queda em maio foi a nona seguida, espalhada por 17 das 27 atividades pesquisadas, 46 dos 76 subsetores e 57% dos 755 produtos investigados. As quatro categorias de uso — bens de capital, bens intermediários, bens de consumo duráveis e bens de consumo semi e não duráveis — registraram perda. Os números também foram negativos frente a abril. A produção caiu 0,9%, acumulando queda de 2% nos últimos três meses. Das quatro categorias de uso, apenas os bens de intermediários escaparam do território negativo, com alta de 0,2%, após dois recuos seguidos. Em 12 meses, a queda é de 1,8%, pior taxa desde fevereiro de 2010.

— O quadro geral mostra um predomínio de resultados negativos, em qualquer comparação que se utilize — afirmou o coordenador de Indústria do IBGE, André Luiz Macedo.

Peso maior da falta de competitividade l Até mesmo a produção de bens de capital — identificada com investimentos por estar ligada a modernizações e ampliações de parque industrial —, que vinha se sustentando em alta, deixou a desejar. O segmento recuou 1,5% no bimestre abril-maio, após avançar 2,5% no quarto trimestre de 2011 e 1,3% no primeiro bimestre de 2012.

A principal influência negativa foi o setor de veículos automotores. Após reagir nos últimos três meses, a produção caiu 4,5% em maio, frente a abril, e 16,8% em relação a maio de 2011. Considerando só automóveis, a queda foi de 5,3%, após recuo de 2,7% em abril.

Em nota, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) argumentou que os dados ainda não refletem a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) anunciada em maio para reduzir o preço dos automóveis em até 10%. De acordo com a associação, no período, foram comercializados 353,2 mil veículos, o que representa crescimento de 22,8% com relação ao mês anterior.

O desempenho de maio mostra o impacto da redução do IPI para eletrodomésticos e móveis, mas alguns economistas acreditam que este efeito pode ser limitado nos próximos meses. A produção de eletrodomésticos da linha branca (geladeira, fogão e refrigerador) avançou 8,5% em maio e 9% em abril, frente a igual mês do ano anterior.

Já o setor de móveis teve alta de 22,3% em maio e 14,7% em abril. Setores que não receberam o incentivo tributário, no entanto, não tiveram o mesmo desempenho. A produção de outros eletrodomésticos — que inclui micro- ondas e liquidificadores, por exemplo — teve queda de 25,5% da produção em maio e 13,6% em abril.

O segmento de Alimentos também mostrou retração em maio, de 3,4%, acumulando perdas de 7,1% em dois meses seguidos de recuo.

— O primeiro semestre já está perdido — disse o economista da LCA Consultores Rodrigo Nishida.

Para o economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, as medidas do governo nos últimos12 meses criaram benefícios pontuais, que não resolvem a situação do setor como um todo.

— O impacto da crise mundial e da falta de competitividade é muito maior — afirmou ele.

Os empresários se queixam do câmbio e dos custos crescentes de produção, o que inclui os juros ainda altos para investimentos. Tudo isso agravado pelo cenário mundial ruim. Para o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), José Velloso, os números do IBGE não são surpresa. Segundo ele, está havendo um desinvestimento: — Se, de 2009 para cá, o governo tivesse investido em competitividade, o brasileiro estaria comprando produtos nacionais por preços mais baixos sem a necessidade de desonerações.

FONTE: O GLOBO

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