sexta-feira, 24 de agosto de 2012

É a poupança externa - Celso Ming

As contas externas não estão confirmando as afirmações reiteradamente repetidas de que o Brasil deixou de ser objeto das preferências do investidor estrangeiro.

Só em julho entraram US$ 8,4 bilhões como Investimento Estrangeiro Direto (IED), o que perfaz para os sete primeiros meses do ano o total de US$ 38,1 bilhões, praticamente o mesmo volume apresentado em igual período do ano passado. Em 12 meses, o IED acumulado alcançou US$ 66,3 bilhões, o equivalente a 2,8% do PIB.

Isso indica que as atuais projeções para o IED em 2012, tanto do Banco Central (de US$ 50 bilhões) quanto do mercado financeiro (US$ 55 bilhões), parecem conservadoras. No ano passado, essa rubrica apresentou um total de US$ 66,7 bilhões.

É volume de capitais mais do que suficiente para cobrir o rombo das Contas Correntes (fluxo de mercadorias, serviços e transferências de recursos pelas famílias), que chegar neste ano a US$ 56,0 bilhões, pelas projeções do Banco Central, ou a US$ 58,6 bilhões, nas avaliações do mercado aferidas pela Pesquisa Focus.

Mais ainda, trata-se de um capital de investimento, portanto, com permanência prevista para muitos anos. Dessa maneira, não tem os inconvenientes das aplicações especulativas, que a qualquer momento podem levantar voo e deixar a economia de mãos abanando.

Embora possa ser considerado uma espécie de colesterol bom para o coração da atividade produtiva, alguns economistas sempre olham com alarmismo para o tamanho do rombo em Contas Correntes, que, neste ano, deverá alcançar alguma coisa em torno dos 2,4% do PIB. Entendem que deixa vulnerável as finanças do País em relação ao resto do mundo, situação que, no passado, concorreu para suspensão de pagamentos e crise cambial.

O problema é que a vulnerabilidade não está propriamente nesses fluxos de recursos. Está na baixa capacidade de poupança do brasileiro, que não passa de 16% ou 17% do PIB. Esse baixo nível de poupança reduz a capacidade de investimento. E o investimento insuficiente é a principal causa do PIB nanico. Essa é a razão pela qual o Brasil precisa importar ou incentivar a entrada de capitais de investimento destinados a suprir a poupança interna. Mesmo assim, ainda não chegaram a 3,0% do PIB. Isso significa que, somadas, poupança interna e poupança externa não chegam a 22% do PIB, condição para permitir um crescimento econômico de pelo menos 4% ao ano.

Essa necessidade de atrair capitais externos, por sua vez, exige que o saldo das Contas Correntes seja negativo (apresente déficit). Se fosse superavitário, implicaria entrada de dólares que, juntamente aos que entrassem como investimento, produziriam enorme pressão sobre o câmbio. Ou seja, tenderia a derrubar as cotações do dólar e, assim, a tirar competitividade do setor produtivo brasileiro, especialmente da indústria.

Não dá para prever até quando os capitais continuarão seu desembarque generoso no Brasil. O que dá para dizer é que há uma abundância nunca vista de capitais parados nos mercados, interessados em promissoras aplicações. Apesar dos riscos já conhecidos, o Brasil se mantém na mira.

Desemprego em queda. O IBGE não conseguiu apresentar as estatísticas de desemprego de Rio de Janeiro e Salvador porque seus pesquisadores estão em greve. Mas, em julho, ele caiu de 6,5% para 5,7%, em São Paulo, e de 4,0% para 3,8%, em Porto Alegre.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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