quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Comissão de Ética não deve ser submissa ao Planalto, diz Pertence

Colegiado deve atender interesses do Estado, afirma ex-presidente

Breno Costa

BRASÍLIA - Um dia após renunciar ao comando da Comissão de Ética Pública da Presidência da República por estar insatisfeito com mudanças na composição do grupo, Sepúlveda Pertence disse se preocupar com a possibilidade de o colegiado se vincular ao governo, e não ao Estado.

"Tenho [receio], mas resta confiar nos que lá estão e nos que virão, que tenham a compreensão do que significa a Comissão de Ética", afirmou.

Sua saída foi motivada por a presidente Dilma Rousseff, de maneira inédita, não ter reconduzido para um novo mandato de três anos dois conselheiros da comissão indicados por ele: Marília Muricy e Fábio Coutinho.

Ambos foram tirados da comissão após tomarem decisões contrárias aos interesses do Planalto.

Um relatório de Marília Muricy levou, em dezembro passado, à recomendação por parte do colegiado de demitir o então ministro Carlos Lupi (Trabalho), envolvido em uma série de suspeitas.

Fábio Coutinho propôs advertir outro ministro, Fernando Pimentel (Desenvolvimento), por sua atuação como consultor em 2009 e 2010.

A renúncia "foi a única forma que eu tinha de manifestar minha solidariedade aos dois companheiros", afirmou Pertence.

Ele negou que tenha contribuído para sua saída a decisão de Dilma de não indicar para o Tribunal Superior Eleitoral um filho seu, em 2011. A informação foi publicada ontem pelo Painel, da Folha.

Dizendo que seria inclusive "intempestivo" relacionar esse fato com sua renúncia, afirmou que o filho, Evandro Pertence, foi colocado em lista de indicados para o tribunal, mas que ele mesmo entendeu que só iria postular a vaga quando fosse o mais antigo na lista.

Ao manifestar preocupação com o rumo da comissão, Pertence fez coro a receio expresso ontem, em entrevista à Folha, por Marília Muricy, professora de direito na Universidade Federal da Bahia.

"A sociedade deve continuar exercendo seu papel de estar atenta aos trabalhos da comissão para que, em nenhum momento, a comissão se torne uma comissão de governo. Senão não adianta, não tem razão de existir."

De acordo com Muricy, "não pode provocar estranheza o fato de que um membro da comissão indique exoneração de ministro".

Pelo segundo dia seguido, a Presidência da República não se pronunciou sobre a renúncia de Pertence.

Fonte: Folha de S. Paulo

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