sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Mais inflação e menos crescimento


O Banco Central aumentou para 5,2% a previsão de inflação para este ano, ao mesmo tempo que cortou projeção para crescimento da economia, de 2,5% para 1,6%.

Mais inflação e menos PIB

Banco Central prevê crescimento de só 1,6% na economia e preços subindo 5,2% este ano

Gabriela Valente

FORA DA META

BRASÍLIA - O Banco Central (BC) traçou um cenário pior para a economia este ano no relatório trimestral de inflação divulgado ontem. Derrubou a previsão de crescimento, elevou a estimativa para a alta de preços e abandonou a promessa de cumprimento do centro da meta de inflação, de 4,5%. A previsão de crescimento desabou de 2,5% para 1,6% e se aproximou da aposta dos analistas do mercado financeiro, que esperam que o país cresça somente 1,57% neste ano. A inflação chegará a 5,2%, segundo o BC, meio ponto percentual acima do projetado em junho pela autarquia e 0,7 ponto acima do centro da meta.

- Desde 2009, o BC vem sistematicamente jurando de pé junto que a inflação no ano seguinte vai ficar na meta e também de forma sistemática tem errado. Parece mais uma torcida do que uma política. O que ajuda dessa vez é a política de energia, mas nem isso será suficiente para levar a inflação para a antiga meta de 4,5%, já que o crescimento volta a acelerar ano que vem. Ficará dentro da nova meta do banco, de 5,5% - disse o economista da MB Associados Sérgio Vale.

Para não abalar as expectativas de empresários e consumidores, o relatório de inflação traz uma novidade, que é a divulgação da previsão de crescimento para os próximos quatro trimestres. Até junho do ano que vem, será de 3,3%, segundo o BC. A novidade tenta reforçar o discurso do BC de que a economia está em retomada. No entanto, a previsão atual para o resultado do PIB este ano é praticamente a mesma que o banco Credit Suisse divulgou há pouco mais de dois meses e que, na época, foi considerada uma "piada" pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Nas contas do BC, as famílias não consumirão tanto, as importações não aumentarão como previsto antes e a indústria terá um desempenho pior do que o imaginado e amargará uma retração de 0,1%, em vez de crescer 1,9% neste ano. As perspectivas para os investimentos despencarem. A aposta antes era de aumento de 3,2%. Agora, é de uma queda de 2,2% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF).

- O ponto mais preocupante do relatório foi o investimento, porque a economia precisa dele para voltar a crescer mais - disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Octávio Leal.

Em junho, o BC já havia reduzido a estimativa de crescimento da economia em 2012, de 3,5% para 2,5%. Há alguns dias, o governo revisou formalmente sua previsão para 2%. No primeiro semestre, com os vários pacotes de estímulo anunciados, a equipe econômica esperava conseguir fazer o país crescer os 4,5% desejados pela presidente Dilma Rousseff.

Esse quadro de baixo crescimento avalizou o corte da taxa básica de juros (Selic) feito pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC na reunião no fim do mês passado, apesar de uma pressão maior na inflação. Foi a quebra da safra americana de soja e milho que fez o BC aumentar a projeção para a inflação deste ano. Já a estimativa para o IPCA em 2013 caiu de 5% para 4,9%, com a redução do custo de energia anunciada pelo governo.

O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, admitiu que o IPCA só chegará ao centro da meta no terceiro trimestre do ano que vem. Em março do ano passado, a autarquia anunciou que esse objetivo seria atingido em dezembro de 2012. No entanto, ele rebateu as críticas de que o BC teria abandonado o centro da meta para cortar juros. E justificou que uma alta da taxa básica, agora, não faria sentido, porque ela demora para agir na economia e a "boa prática" não recomenda combater um choque de oferta (no caso, a quebra na safra americana) com esse instrumento.

- Caso não tivesse ocorrido esse choque no mercado de grãos, a inflação teria convergido para a meta. Isso desviou a inflação temporariamente dessa tendência de recuo. O custo (de aumentar os juros agora) seria enorme. E, a rigor, do ponto de vista de política monetária sobre a atividade, não faria sentido subir taxa de juros - frisou o diretor do BC.

Brasil cresce menos que emergentes

Em defesa do comportamento do BC, o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, afirma que o mercado não percebeu que o sistema de metas de inflação é uma política para tempos normais. Segundo ele, hoje o mundo atravessa um período de exceção econômica:

- O BC vê que a desaceleração econômica em curso já está fazendo o "trabalho sujo" da Selic, não precisa subir a taxa uma vez que a economia já está em ponto morto.

A autoridade monetária reafirmou o discurso de 1ue, se houver um novo corte de juros, será feito com a "máxima parcimônia". Carlos Hamilton ainda disse que não espera uma nova alta do dólar como ocorreu nos últimos 12 meses, afetando a inflação.

Os analistas do mercado financeiro entendem que o governo fixou, na prática, um novo patamar para a moeda americana, apesar de as autoridades econômicas manterem o discurso de que o dólar é flutuante no Brasil.

Se a nova projeção do BC de que o Brasil crescerá 1,6% neste ano se confirmar, o país terá um crescimento superior ao de economias desenvolvidas. Segundo projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Alemanha vai crescer só 1,2% este ano e a França, 0,6%.

- Se comparamos o crescimento com os desenvolvidos está de bom tamanho, mas com os emergentes, especialmente na América Latina, estamos bem mal - diz Vale.

O Chile deve crescer 4,4% neste ano, segundo a OCDE. O México, 3,6%, e a Turquia, 3,3%

Fonte: O Globo

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