domingo, 9 de setembro de 2012

O teste do 'cabralismo' nas urnas municipais

Governador entra na campanha de PMDB e aliados: experiência é trunfo para garantir pelo menos 21 cidades

Cássio Bruno, Chico Otavio

Disposto a manter o patrimônio eleitoral conquistado há quatro anos, o governador do Rio, Sérgio Cabral, do PMDB, entrou de vez nas campanhas dos candidatos a prefeito da base aliada no estado. Por enquanto, o seu partido dá como certa a vitória em 21 cidades na condição de cabeça de chapa. O número, embora assegure a liderança do PMDB, ainda está abaixo dos mais de 30 peemedebistas eleitos em 2008 e não garante a Cabral a mesma posição confortável de chefe político que tinha até maio, quando enfrentou a crise provocada pelas relações com o ex-presidente da Delta Construções, Fernando Cavendish.

Escorado em pesquisas que indicam a melhoria de sua imagem, Cabral está visitando municípios considerados prioritários por seu grupo político, como São Gonçalo e Niterói, além de cidades da Região dos Lagos e do Norte Fluminense. O PMDB o considera capaz de decidir confrontos difíceis, já que desembarca na campanha municipal com mais munição do que há quatro anos, quando ainda esquentava a cadeira de governador. Agora, brilham no portfólio de Cabral UPAs e UPPs, além da bem-sucedida parceria com o governo federal.

Êxito não funda corrente política

Mas este legado, transformado em trunfo na luta contra a corrente liderada pelo ex-governador Anthony Garotinho no interior, é capaz de fundar as bases do "cabralismo" no estado? Para a historiadora Marly Silva da Motta, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da FGV, Cabral não apenas entendeu, como sabe se movimentar bem no jogo político fluminense. Porém, está longe de repetir fenômenos como o lacerdismo, o amaralismo e o chaguismo, movimentos que criaram raízes na cena política do estado:

- A matriz de uma corrente política ou está ligada à comunicação pessoal do líder, como o brizolismo ou o lacerdismo, ou pelo uso da máquina com uma estrutura hierarquizada, como o amalarismo (liderada por Amaral Peixoto no interior do estado). Cabral não se esquadra em nenhum desses modelos. É um homem de partido. Pode até ser líder, mas não é o único dentro do PMDB fluminense.

Pelas contas de um experiente peemedebista, o partido poderá chegar até 35 prefeitos, quase o mesmo desempenho de 2008. Porém, ele espera que eventuais vitórias em Nova Iguaçu, Duque de Caxias e São Gonçalo, três cidades onde o quadro está indefinido, garantam ao PMDB uma votação mais robusta este ano. PT e PP, na matemática deste político, deverão arrematar entre dez e 12 prefeituras, cada, enquanto o estreante PSD ficaria com cinco.

Por outro lado, os prognósticos do peemedebista já dão como certa a derrota do partido na estratégica cidade de Macaé, irrigada pelos royalties do petróleo, e duvidam do sucesso em Itaboraí, outra joia da coroa valorizada pelo futuro polo petroquímico. E, mesmo em Nova Iguaçu, uma eventual vitória do PMDB não dará ao governador a certeza de ter um dos maiores colégios eleitorais do estado sob seus domínios.

Em Duque de Caxias, por exemplo, Cabral pediu votos, há duas semanas, para o deputado federal Washington Reis, ex-prefeito e também do PMDB. Os principais adversários de Reis são o atual prefeito José Camilo Zito, do PP, candidato à reeleição, e o ex-secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Alexandre Cardoso, do PSB. Zito e Cardoso são aliados de Cabral. O governador, inclusive, já havia se declarado impedido de ir à cidade para evitar conflitos na disputa.

Cabral, porém, não só subiu no palanque de Washington Reis como também fez promessas, caso o parlamentar seja eleito. No discurso, realizado no centro comercial do município, o governador anunciou a implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora, clínicas da família e até a construção de um BRT (sistema de pontos de ônibus em faixa exclusiva, com estações para embarque de passageiros) ligando Caxias à capital, além de obras de infraestrutura para abastecimento de água e saneamento básico.

Como um mantra repetido por onde passa, o governador lembrou a parceria com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Lula. Ele citou programas sociais do governo federal, entre eles o Bolsa Família. Em um telão, foi exibido o depoimento do vice-presidente Michel Temer, do PMDB. Sem citar nomes, Cabral criticou Zito e o casal de ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Matheus, ambos do PR:

- Assumi um governo do estado quebrado, que não tinha recursos. Os funcionários públicos recebiam (o salário) no décimo quinto, no décimo oitavo dia depois do mês trabalhado. Recebiam o 13º salário no ano seguinte. Tive que consertar a casa primeiro. Mas, mesmo assim, deu para fazer muita coisa.

Em abril, Garotinho publicou, em seu blog, fotos e vídeos de Cabral e secretários estaduais em jantares e passeios em Paris, ao lado de Cavendish, amigo do governador. O empresário e a Delta estão sendo investigados pela CPI do Cachoeira. O caso provocou desgaste na administração. Na época, o governador evitou aparecer em compromissos públicos.

Expulsões relâmpago para melhorar imagem

Empenhado em dissipar de vez a crise, o PMDB tem procurado agir rapidamente quando a imagem está em jogo. Esta semana, por exemplo, expulsou automaticamente o prefeito de Guapimirim, Renato Costa Melo Júnior, o Júnior do Posto, e a candidata à prefeitura do município Ismeralda Rangel Garcia, depois que ambos foram presos por envolvimento em corrupção. Eles foram acusados de integrar uma organização criminosa que desviava, por licitações fraudulentas, mais de R$ 1 milhão por mês de recursos da prefeitura.

Já tinham feito o mesmo em São Francisco do Itabapoana. Nos dois municípios, o PMDB não terá nem apoiará candidatos.

Em Niterói, Cabral já pediu votos para o seu ex-secretário de Assistência Social Rodrigo Neves, do PT.

Na disputa, há também Sérgio Zveiter, do PSD, ex-secretário de Trabalho de Cabral, e Felipe Peixoto, do PDT, também ex-titular da Secretaria Estadual da Pesca. Em São Gonçalo, Cabral subiu no palanque de Graça Matos, do PMDB. O governador esteve ainda em Itaboraí e Nova Friburgo, entre outras cidades do interior do estado.

FONTE: O GLOBO

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