quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A economia dirá se o PT vai de Lula ou Dilma - Rosângela Bittar


Da mesma forma que se ausentou da 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que representa os meios de comunicação nos quais o PT quer intervir para controlar, a presidente Dilma Rousseff está sendo pressionada por seu partido a também não comparecer à posse do ministro Joaquim Barbosa na presidência do Supremo Tribunal Federal, no dia 22 de novembro. Se aderir à ideia, Dilma fechará, por enquanto, o ciclo de retaliação imediata às instituições que o Partido dos Trabalhadores considera inimigas, por conveniência política do momento, uma vez que tanto uma como outra foram consideradas pelo partido seus aliados de fé em outras épocas recentes.

As reações estão em discussão nas assembleias permanentes do partido e decisões são tomadas na surdina para não afugentar os votos do segundo turno das eleições municipais. Fechadas as urnas, porém, a guerra será mais explícita e ficará consolidado um dos fundamentos da campanha do PT para a sucessão presidencial de 2014.

Há muito o PT tenta estabelecer o controle da imprensa, já fez até uma conferência e projeto dedicados ao assunto, dos quais nunca desistiu mesmo quando não tinha o apoio que a presidente Dilma parece agora não mais lhe negar. É uma obsessão partidária. Com o julgamento do mensalão, o STF foi entronizado pelo PT no centro desse pelotão inimigo.

Não há e não haverá substitutos no comando do PT

Dias atrás, o presidente do Supremo, ministro Carlos Ayres Britto, compareceu a uma exposição de Caravaggio, no Palácio do Planalto. Mesmo não sendo penetra indesejável, mas o chefe de um Poder aceitando o convite formal do chefe de outro Poder, foi hostilizado. A presidente trancou a cara, Ayres Britto ficou ao lado do advogado-geral da União, Luís Adams, e logo saiu de fininho. O constrangimento foi tamanho - o Palácio não providenciou o cancelamento do convite antes do vexame - que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, aquiesceu em falar à imprensa para docemente justificar o clima. Disse que estavam todos sofrendo muito, "aquilo do outro lado da rua dói muito" (para não falar o nome do STF, agora para ele maldito).

Ayres Britto dará lugar, dentro de um mês, a Joaquim Barbosa na presidência do STF e o presidente da República sempre comparece às solenidades de troca de comando do Poder Judiciário. Em mais de uma reunião o Partido dos Trabalhadores debateu a questão e exigiu da presidente atitude drástica. Se de todo for impossível deixar de ir à posse, até porque o vice presidente da chapa é o considerado amigo Ricardo Lewandowski, pelo menos que novamente tranque a cara para demonstrar seu profundo desprezo.

O PT quer colo eleitoral, político e jurídico, além de uma boa dose de falta de educação, como se vê. E a presidente parece disposta a dar até porque está jogando, neste segundo turno, uma pré-definição de sua candidatura à reeleição, que pretende disputar mais fortalecida dentro do partido.

A cautela e a discrição exibidos nas campanhas petistas de primeiro turno já cederam lugar ao liberou geral. Dilma fez reunião com um grupo grande de ministros do partido na segunda-feira e pediu sua participação no segundo turno. Ontem, Alexandre Padilha, da Saúde, gravou 29 mensagens. Hoje, será a vez de Gilberto Carvalho, e na sequência virão os demais, entre os quais Marta Suplicy, Gleisi Hoffmann, Miriam Belchior, Aloizio Mercadante. Os ministros de outros partidos não se sentem mais vigiados como se sentiam no primeiro turno, quando tinham que prestar contas de suas andanças pelos palanques. O vice-presidente Michel Temer, do PMDB, se postará ao lado de Dilma, especialmente em São Paulo. A presidente organiza sua presença nos palanques de Manaus, Salvador e São Paulo.

Pacotes e medidas de governo que podem desagradar ao eleitorado ou servir de munição aos adversários ficaram suspensos até o fim do segundo turno. A própria Dilma rompeu limites.

Ontem, o Palácio do Planalto foi palco da campanha municipal. Com o governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD), a presidente Dilma anunciou investimentos do governo federal na capital. O apelo eleitoral claro do evento ficou mais evidente porque acompanhado de tentativa de explicação da ação como sendo de governo, com garantias de que é investimento que não constará do discurso da presidente no comício que fará, segunda-feira próxima, ao lado da candidata apoiada pelo PT na disputa pela Prefeitura de Manaus.

Dilma está jogando sua próprio sorte ao fundir-se, neste fim de campanha municipal, aos interesses do seu partido, sem dar muita bola ao que o ex-presidente Sarney definiu como a liturgia do cargo.

O ex-presidente Lula está no comando da estratégia e, segundo as exegeses políticas que o partido tem feito, seja quando trata das disputas municipais contra seus adversários, seja quando discute reações às condenações do mensalão, saindo derrotado no Supremo e ganhando ou perdendo nas cidades onde se atirou para vencer, já foi decretado no PT que Lula é insubstituível no comando do partido. Será ele o comandante das decisões a serem tomadas pelo PT. Está mandando muito no PT e vai mandar mais ainda, apesar de uma ou outra derrota eleitoral, em função do declínio de José Dirceu, de ter eleito Dilma Rousseff, de ter deixado o governo com alta aprovação popular, de ter superado uma doença como o câncer, enfim, por tudo que fortaleceu seu prestígio nos últimos anos.

Lula já decidiu que Dilma é a candidata à reeleição em 2014, o partido não terá outro nome. Mas o ex-presidente está dando seu aval sem se descuidar da retaguarda. Vem acompanhando o desempenho de Dilma na economia, com lupa, por meio de análises que encomenda. Se a economia não estiver dando respostas satisfatórias e os índices de crescimento não jogarem a presidente para cima, o candidato será ele mesmo, Lula. E não será do PT que vai esperar a eclosão do movimento queremista. Lula será levado de volta ao trono presidencial por empresários, sindicalistas, investidores, funcionários públicos, a direita, o centro, todos, no cenário formulado pelo partido. Os eleitores irão buscar o seu eleito, não o contrário.

Fonte: Valor Econômico

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