quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Eleições e mensalão. “Compra de apoio pelo governo Lula” agrava problemas do PT nos dois turnos – Jarbas de Holanda


As manchetes dos principais veículos da imprensa, de anteontem (e os destaques dos telejornais e do noticiário de rádio já desde anteontem) evidenciaram a relevância política e institucional da conclusão que o STF antecipou na segunda-feira sobre o caráter essencial do mensalão. Segue-se parte dessas manchetes. Da Folha de S. Paulo – “Mensalão comprou votos no Congresso, conclui STF”; do Estado de S. Paulo – “Mensalão foi compra de voto e não caixa 2”; do Valor – “STF conclui que houve quadrilha e corrupção”; do Globo – “Supremo conclui que PT comprou apoio político”; do Correio Braziliense – “Acaba a farsa de que mensalão era caixa 2”; do Estado de Minas – “Tese de caixa dois foi derrubada por ministros que julgam o mensalão”; do Zero Hora (RS) – “Compra de apoio político no governo Lula é confirmada pelo STF”; do Jornal do Comércio (PE) – “STF atesta compra de apoio e descarta caixa 2”. Este foi também o tema de vários editoriais, como o da Folha (“Fim da farsa”) com a abertura: “Durante a 30ª sessão do julgamento do mensalão, ontem, o STF deu cabo de uma farsa que sobrevivia apenas para setores do PT e seus aliados nos últimos anos”.

A simultaneidade do impacto social dessa conclusão com a reta de chegada do 1º turno das eleições municipais amplia inevitavelmente os efeitos do processo do mensalão nos pleitos de São Paulo e de outras grandes cidades paulistas, em capitais como Belo Horizonte e Salvador, onde o petismo e o expresidente Lula empenham-se em agressivos embates respectivamente contra o candidato de Aécio Neves, o prefeito Márcio Lacerda, e ACM Neto, do DEM, um dos relatores da CPI que gerou o mensalão. Exemplos de adversários a que deve ser somado o candidato do PSDB em Manaus, Arthur Virgílio, alvo semelhante ao que o tucano cearense Tasso Jereissati representou na eleição de 2010 para o então presidente.

Em São Paulo, a perspectiva de tal simultaneidade, de um lado motivou a pressão de Lula para a presença da presidente Dilma em comício pró- Fernando Haddad realizado anteontem. A pressão foi reforçada pelo publicitário do candidato petista, João Santana, que é também o marqueteiro da presidente e da candidatura de Hugo Chávez à reeleição na Venezuela. E, de outro lado, provocou uma reorientação tática da campanha de Haddad: em face do maior impacto do mensalão na chamada classe média, a ofensiva destes dias para a tentativa de passagem dele ao 2º turno volta-se por inteiro para o eleitorado da periferia seduzido pelo azarão Celso Russomanno, do PRB com um vice do PTB. Ofensiva que coincide com a do candidato Gabriel Chalita, do PMDB, buscando tornar-se competitivo com um salto da quarta posição que ocupa nas pesquisas. Operações conjuntas que poderão acentuar a queda prevista do azarão do PRB. O que (combinado com uma ascensão da candidatura de José Serra nas camadas médias) poderia tirá-lo do 2º turno. Cenário que continuo avaliando como improvável (dado o alto grau de “gordura” que ele acumulou). E que, se configurado, encaminharia a disputa paulistana para a polarização PSDB-PT inicialmente prevista.

Mas os problemas enfrentados pelo PT, por Lula e por extensão pelo governo Dilma, no 1º turno do pleito municipal (em várias capitais do Norte e do
Nordeste, na de Minas, na do Rio Grande do Sul, na de São Paulo) persistirão no 2º turno, nelas e nas cidades de maior porte de todas as regiões, com os
desdobramentos do mensalão ao longo de outubro, ligados às penas, inclusive de reclusão, dos integrantes do núcleo de comando do megaescândalo – José Genoíno, Delúbio Soares e José Dirceu, este na dupla condição de liderança referencial do PT e poderoso chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula.
Cabendo assinalar que em São Paulo o tucano José Serra, se passar ao 2º turno (o que ainda não está garantido) terá maior chance de vitória numa disputa com o petista Fernando Haddad do que com Celso Russomanno.

Jarbas de Holanda é jornalista

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