sábado, 27 de outubro de 2012

Em São Paulo, o vale-tudo eleitoral

Às vésperas do segundo turno, José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) trocam ofensas e acusações de uso de material apócrifo. Tucanos chamaram o petista de "delinquente" Para Haddad, Serra faz "jogo rasteiro".

Baixaria na maior cidade do país

Às vésperas do 2º turno, ofensas e acusações apócrifas proliferam na campanha em SP

Maria Lima, Marcelle Ribeiro

Apócrifo. Cartaz vinculando Serra à violência contra pobres; tucanos acusam, mas petistas negam autoria do material

Ataque. Site falso sobre Haddad: criado por empresa contratada por campanha tucana, segundo provedor de internet

SÃO PAULO - Às vésperas do segundo turno, a disputa pela prefeitura de São Paulo descambou para a baixaria total. Enquanto os tucanos acusam a campanha do petista Fernando Haddad de espalhar pela cidade cartazes com foto de José Serra mirando com uma espingarda e vinculando o candidato ao extermínio de jovens pobres e negros, os advogados da campanha do PT entraram com representação na Justiça Eleitoral contra a coligação de Serra e a empresa Soluções Originais em Desenvolvimento e Arte Ltda. (Soda), contratada pelo PSDB e que criou um site falso com ataques a Haddad.

Ao longo do dia, numa guerra de notas e em entrevistas, Serra e Haddad trocaram ofensas. Os tucanos chamaram Haddad de delinquente por disseminar falsas acusações. Os petistas negaram a confecção dos cartazes apócrifos, e o candidato do partido disse que as baixarias de Serra passaram dos limites.

Os cartazes com a foto de Serra empunhando uma espingarda, com os dizeres "Serra é cúmplice do extermínio da juventude negra e pobre", foram pregados ao longo do muro do Cemitério da Consolação, em Higienópolis e outras regiões de São Paulo. A cidade vive uma guerra entre o crime organizado e a polícia. Também foram espalhadas faixas em viadutos com a inscrição "Serra nunca mais".

No meio da tarde, a coordenação da campanha de Serra divulgou duas notas repudiando o que chamou de agressão e baixaria. "Quem quer ser prefeito de São Paulo não pode se apresentar como um delinquente que não respeita as leis". "O cinismo do PT prega na TV uma campanha sem ataques, mas utiliza material sem nome da coligação e sem CNPJ. Os recursos desses materiais, seguramente, não são legais".

- A especialidade do PT é fazer o jogo baixo e acusar a gente de jogar baixo. Ficam batendo numa mentira até que pareça verdade. Isso é uma infâmia! - protestou Serra no meio da tarde.

Haddad: "jogo rasteiro" de Serra

Do lado petista, a reação foi contra a criação de site falso com ataques a Haddad, com supostas propostas do petista. A representação contra Serra foi protocolada ontem no Tribunal Regional Eleitoral, depois que o provedor de internet GVT confirmou que a empresa Soda, com sede em João Pessoa (PB) e contratada pela campanha tucana, era a responsável pela criação do site apócrifo "Propostas Haddad 13". O endereço falso já tinha sido retirado do ar no dia 18 por determinação judicial. O visual era similar ao do site oficial da campanha de Haddad.

De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, a Soda recebeu R$ 531 mil da campanha e do comitê financeiro de Serra para prestar serviços de "criação e inclusão de páginas na internet". Em nota, os petistas disseram que "mais uma farsa do Serra vem a público" e que "o tucano desperdiça energias criando panfletos apócrifos, mentirosos e ofensivos".

- Se você fizer um repertório de tudo o que fizemos chegar ao conhecimento das autoridades, sites falsos, boatos falsos, panfletos apócrifos... Eu não entendo como é que alguém, com tantos anos de vida pública, dispõe-se a um jogo tão rasteiro, faltando dois dias para a eleição. Realmente, está passando dos limites! - reclamou Haddad.

Ao falar para moradores de rua e catadores de material reciclado, em encontro promovido pelo padre Júlio Lancelotti na Casa de Oração do Povo de Rua, na manhã de ontem, Haddad disse que vem sofrendo nas mãos de Serra.

- Vocês são violentados nos seus direitos todo santo dia. Eu só estou sendo nos 60 dias da campanha. Eu me solidarizo com vocês, porque eu senti o gostinho do que é sofrer na mão desse cidadão (Serra). Ele não respeita a democracia. Democracia não é isso - provocou Haddad.

À frente nas pesquisas de intenção de voto produzidas por Ibope e Datafolha, o petista negou que já considere a vitória assegurada na disputa de segundo turno:

- Eu não trabalho com isso. Trabalho com campanha, sei que o eleitor vai decidir domingo (amanhã). Respeito o eleitor. Tenho humildade em relação a isso - disse Haddad.

Serra, por sua vez, mostrou confiança de que ainda pode virar o jogo das pesquisas.

- O que eu previa aconteceu. É uma campanha dura. O PT está jogando toda sua máquina aqui, tem o peso da máquina federal, há uso e abuso da máquina pública com ministros e a presidente usando o avião oficial, o que deve custar no mínimo R$ 1 milhão. Usam e abusam da baixaria. Mas creio que vamos chegar lá - disse Serra antes do debate da TV Globo na noite de ontem.

Colaborou: Juliana Dal Piva

Fonte: O Globo

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