domingo, 28 de outubro de 2012

Largada para 2014

Mais de 30 milhões vão às urnas hoje, escolher prefeitos de 50 cidades. O que está jogo no entanto, não é apenas o destino dos municípios. O resultado do pleito aponta os caminhos para as eleições majoritárias. Fortalecido com a provável vitória de Fernando Haddad, apontado pelas pesquisas como o novo prefeito de São Paulo, o PT pavimenta o segundo mandato de Dilma Rousseff com o apoio do PMDB e do PSD. Já o expressivo resultado alcançado pelo PSB interfere na disputa ao Palácio do Buriti: o senador Rodrigo Rollemberg pode atrapalhar a reeleição de Agnelo Queiroz

O grande teste na corrida ao Planalto

Eleitores de 50 cidades vão às urnas para escolher os prefeitos, com destaque para o favoritismo petista em São Paulo e a consolidação do PSB e do PSD. Resultado influenciará a disputa presidencial daqui a dois anos

Paulo de Tarso Lyra, Leandro Kleber

Quando as urnas do segundo turno das eleições municipais de 2012 forem fechadas, às 17h de hoje, e os 31,7 milhões de votos começarem a ser contabilizados, estará aberta, oficialmente, a corrida para os governos estaduais e a Presidência da República em 2014. A maior cidade do país, São Paulo, está sendo disputada palmo a palmo por PT e PSDB, que devem novamente protagonizar a batalha pelo Palácio do Planalto. Já o PMDB elegeu o maior número de prefeitos no primeiro turno — 1.016 —, com destaque para a expressiva vitória de Eduardo Paes no Rio e carimbou, por tabela, a presença na chapa presidencial ao lado de Dilma Rousseff em 2014.

Disputam diretamente o protagonismo político pelos próximos dois anos, uma legenda média que cresce a olhos vistos, o PSB, e um partido recém-criado sob as bênçãos do Palácio do Planalto, o PSD, que se tornou o quarto maior em número de prefeituras no primeiro turno: 493. A agremiação presidida por Eduardo Campos, o PSB, cresceu 124% em quatro anos e está cada vez mais difícil visualizar um cenário nacional sem a presença do governante pernambucano, que já se tornou referência até para a imprensa internacional. E o PSD deve ser incorporado à Esplanada em 2013.



Mas ainda existe a rodada de hoje de votações, que podem alterar o cenário acima exposto. Se confirmar a vitória que se desenha nas recentes pesquisas de intenção de voto, o petista Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e cria política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passa a administrar um orçamento de R$ 39 bilhões em 2013, e instala-se em uma trincheira suficientemente estratégica para fustigar o tucanato paulista e tentar consolidar a reeleição de Dilma Rousseff daqui a dois anos.



O PT tem chances de conquistar seu objetivo. Além de eleger Haddad para comandar a cidade, o partido está no segundo turno em Campinas, Diadema, Guarulhos e Santo André, o que envolve 11,1 milhões de eleitores e um montante em caixa (dados do IBGE de 2011) de R$ 39,96 bilhões. É o chamado cinturão vermelho do PT, suficiente para sufocar o PSDB de São Paulo, que governa o estado desde 1994 e comanda um orçamento de R$ 157 bilhões.



O PSDB ainda tem esperanças de manter o grupo político que comanda a atual capital paulista. Conta com as expectativas da direção nacional e do virtual candidato tucano à presidência, em 2014, Aécio Neves — que já fez a sua parte direta, reelegendo Marcio Lacerda (PSB) para mais quatro anos à frente da prefeitura de Belo Horizonte, com R$ 9,2 bilhões sob sua caneta. Além de São Paulo, o PSDB, no estado, ainda disputa o segundo turno em Ribeirão Preto (419 mil eleitores e R$ 1,5 bilhão em orçamento); Jundiaí (257 mil eleitores e R$ 1,2 bilhão em orçamento) e Guarulhos (825 mil eleitores e R$ 2,5 bilhões em caixa). A soma, só em São Paulo, dá R$ 37,3 bilhões e 10,1 milhões de eleitores.



Nova chance
No primeiro turno das eleições municipais, o PT conquistou 626 prefeituras, totalizando 17,1 milhões de eleitores. Foi o partido que mais conseguiu votos no país. No segundo turno, os petistas ainda estão na disputa em 22 das 50 cidades que descobrem hoje os novos prefeitos a partir de janeiro de 2013. O PSDB elegeu 692, conseguindo 13,9 milhões de votos. Terá uma nova chance em 17 municípios.



Entre eles, aparece o PMDB, que obteve 16,7 milhões de votos no primeiro turno, mas foi o que mais elegeu prefeitos: 1.016. As vitórias mais expressivas do partido ocorreram no domingo do primeiro turno e na segunda-feira subsequente. Eduardo Paes foi reeleito para a prefeitura do Rio com 64,60% dos votos válidos e pouco mais de 2 milhões de votos. Percentualmente, não foi o que mais recebeu votos mas, em números absolutos, ninguém no primeiro turno foi declarado vencedor por tantos eleitores. E administrará até 2016 a cidade do Rio de Janeiro, que tem hoje um orçamento de R$ 20,5 bilhões e será a sede das Olimpíadas daqui a quatro anos.



Embalado pela vitória inequívoca no segundo maior colégio eleitoral do país e com a aliança entre Gabriel Chalita (PMDB) e Haddad em São Paulo selada, veio a segunda vitória peemedebista na mesma semana: Dilma chamou o vice-presidente Michel Temer em seu gabinete e reafirmou a aliança presidencial para 2014, calando as pretensões do PSB de Eduardo Campos. O partido ainda disputa o segundo turno em 16 cidades, mas apenas três são capitais.



Até 2014, contudo, existem dois anos e um longo caminho a ser percorrido. A presidente deve promover mudanças em seu ministério no início do ano que vem. É praticamente certa a entrada do PSD de Gilberto Kassab, partido que elegeu muitos prefeitos e tornou-se a principal linha auxiliar para o PSB de Eduardo Campos. Apesar da ligação inequívoca com José Serra em São Paulo, o partido sempre votou com o governo no plano federal. Mas, exatamente por isso, não será Kassab a integrar o governo Dilma.



Outras pressões devem ocorrer. O PMDB sempre reclama que está subrepresentado na Esplanada, mas a promoção de Gabriel Chalita para o primeiro escalão depende, hoje, da saída de algum nome do partido de uma das cinco pastas comandadas pela legenda. Já o PSB, que também cresceu, tende a seguir um caminho mais independente e dificilmente terá aumentada sua representação na Esplanada — hoje o partido comanda dois ministérios.



31,7 milhões
Total de eleitores nas 50 cidades que disputam o segundo turno da eleição municipal


Fonte: Correio Braziliense

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