quarta-feira, 24 de outubro de 2012

PMDB tenta reverter declínio eleitoral no RJ


Paola de Moura

RIO - Temer: vice-presidente fez périplo por Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Volta Redonda e Petrópolis, cidades disputadas pelo PMDB no 2º turno fluminense

O PMDB do Rio tem levado sua tropa de elite para fazer campanha nas quatro cidades do Estado do Rio onde disputa o segundo turno. Em jogo 1,627 milhões de eleitores que podem ajudar o partido a recuperar parte da base perdida. Em 2008, o PMDB conquistou 35 municípios com um total de 6,473 milhões de eleitores. Em 2012, até agora, vencem em 23 municípios no total de 5,768 milhões de eleitores. Se conquistar os quatro municípios em que concorre - Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Volta Redonda e Petrópolis - chegará a 7,395 milhões de eleitores. O problema é que em pelo menos dois deles, Caxias e Petrópolis, a disputa está bem apertada.

A possível redução do espaço político é comemorada pela oposição principalmente de olho nas eleições para o governo do estado de 2014. Como o PMDB até agora parece insistir na candidatura vice-governador Luiz Fernando Pezão, apesar de ele ser pouco conhecido da maioria do eleitores, os dois principais pré-candidatos ao governo, o senador Lindbergh Farias (PT) e o deputado federal Anthony Garotinho (PR) lutam para conquistar mais espaço político. O PT conseguiu manter suas dez prefeituras, e pode conquistar mais uma, em Niterói, e o PR cresceu de três para seis, com chances de obter mais duas: São Gonçalo e Volta Redonda.

Até o governador Eduardo Campos (PSB) apareceu no Rio ontem para angariar votos para seu partido, que pode sair vencedor em Petrópolis e em Duque de Caxias. O partido também dobrou de três para seis prefeituras e concorre nas duas cidades

Para conquistar os eleitores que vão às urnas novamente, o PMDB vem apostando no discurso vencedor na capital, "a parceria entre os Poderes que só traz benefícios". Por isto, nos comícios, Cabral e Eduardo Paes têm sido presença constante. Os dois já estiveram em Duque de Caxias e voltaram à cidade ontem acompanhados do vice-presidente da República, Michel Temer.

Temer veio ao Rio não só para dar apoio aos candidatos, mas para desfazer o mal estar criado pelo prefeito Eduardo Paes ao lançar a candidatura de Cabral a vice-presidente na próxima eleição. Em Petrópolis, ontem, após ser ciceroneado pelo governador numa caminhada de 20 minutos pelas ruas da cidade, Temer disse que Cabral "é um bom companheiro". Já no Rio, num almoço oferecido por Paes, o vice-presidente disse que não ia mais falar sobre o tema: "Não ficaram arestas. Aliás, não vamos mais falar sobre isso".

Na cidade que sedia a refinaria da Petrobras, e é a segunda maior arrecadação do Estado, os dois candidatos, deputados federais, chegaram ao segundo turno com uma diferença de 3 mil votos. Alexandre Cardoso (PSB) teve 33,99% dos votos válidos e Washington Reis (PMDB), 33,29%. Em discurso num comício com Reis ontem, Temer prometeu atender aos pedidos do candidato: "Você como deputado já frequenta muito meu gabinete. Mas sabe o que eu vou fazer quando ele for prefeito, Cabral? Não vou ter portas abertas, vou mandar tirar as portas da Vice-Presidência."

Eduardo Campos sobre as dificuldades de seu candidato em Petrópolis: "Quem faz campanha suja, faz governo sujo"

O presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, diz que aposta na presença dos caciques do partido ajuda a mostrar que o governo federal e estadual estão chancelando as promessas de campanha. "Mais do que mostrar o que fizemos é apontar o que vamos fazer. O eleitor vota na esperança do que virá", afirma Picciani. Entre as promessas, estão a extensão do BRT (via exclusiva para ônibus) ligando Caxias ao centro do Rio, a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas da cidade e a abertura de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Clínicas da Família na cidade. "O governador já prometeu a instalação de uma UPP na favela Beira Mar, já está no calendário", conta Picciani.

Mas o partido também adotou outra estratégia, atacar diretamente o candidato opositor Alexandre Cardoso. Washington Reis vem afirmando que Cardoso é um estrangeiro, porque mora na capital. Além disso, afirmou também que o presidente do PSB, o governador Eduardo Campos, não gosta do Rio porque estaria tentando levar os royalties do petróleo do Estado e dos municípios. Ontem, voltou a atacar. "Esse governador Eduardo tentou tirar os royalties do Rio de janeiro. Eles já estão namorando o PSDB para tentar derrotar a presidente Dilma em 2014, coitado deles". Apesar de todos estes ataques, no governo do Estado e na capital, o PSB faz parte da base aliada de Cabral e Paes.

Eduardo Campos disse que foi coincidência ter agendas parecidas. "Você tem 50 cidades e 15 dias de campanha. É natural que algum dirigente vá no mesmo dia que outro a mesma cidade. " Nas duas cidades, a disputa está apertada e os candidatos tiveram votações semelhantes

No seu discurso em Correas, distrito de Petrópolis, Campos disse que, enquanto o outro lado faz jogo sujo, seus candidatos estão preocupados com o povo. "Quem faz campanha suja, faz governo sujo", disse o governador se referindo aos problemas enfrentados pelo seu candidato em Petrópolis.

Campos rebateu a acusação do candidato do PMDB em Caxias, Washington Reis, de que quer tirar os royalties do Rio. "Sempre fomos a favor de manter a arrecadação dos municípios. Nossa proposta tem dois princípios, e o Cabral sabe disso, não mexer na receita atual e redistribuir de forma mais justa a receita do que ainda vai ser licitado e tirando da União a maior parte", afirmou. "Além disso, se você andar pelas ruas, vai ver que as pessoas não estão preocupadas com royalties e sim com hospitais e escolas".

Em Caxias, Cardoso conquistou o apoio dos principais opositores. Estão com ele o senador Lindbergh Farias, o quarto colocado no primeiro turno, o Dica do PCdoB com 10,74% dos votos, e do deputado federal Anthony Garotinho, cujo candidato prefeito obteve 3,7% dos votos.

Em Petrópolis, cidade onde a disputa também é apertada, estão em jogo mais 241 mil votos. Lá o enfrentamento também é entre o PMDB, com Bernardo Rossi (31,89% dos votos no primeiro turno), e o PSB de Rubens Bomtempo (29,83%), com uma diferença de menos de 3 mil votos no primeiro turno. Nesta cidade, o PMDB pode ter vantagem porque Bomtempo chegou a ter seu registro negado pelo TRE, já que suas contas da gestão de 2004 foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado. No entanto, no dia 18, o TSE liberou o registro alegando que a Câmara dos Vereadores teria aprovado as contas. O deputado federal Hugo Leal (PSC), que apoia Rossi desde o inicio da campanha, e que teve 25 mil votos na cidade, diz que a eleição só será decidida no sábado. "Aqui não há nada definido, é um povo que sempre surpreende porque escolhe bem seu candidato".

O PMDB já conseguiu o apoio do prefeito Paulo Mustrangi (PT) que obteve 10% dos votos no primeiro turno. Mas o senador Lindbergh Farias, seguiu para a oposição e está do lado de Bomtempo, marcando posição para a próxima eleição.

Em Volta Redonda a rodada é contra o PR de Garotinho. O prefeito Antonio Francisco Neto (PMDB) tenta seu quarto mandato e chegou ao segundo turno com 49,6%. Mas a disputa lá foi bem polarizada, já que o deputado federal Zoinho (PT) chegou a 42,93% dos votos.

A única cidade onde a vitória é dada como certa é em Nova Iguaçu. Lá, nem o senador Lindbergh que foi sucedido no meio do mandato por Sheila Gama (PDT) apoia a candidata. Nelson Bornier (PMDB) chegou ao segundo turno com 39,05% dos votos e a prefeita com 20,19%.

O município que conta com 561 mil eleitores, tem sérios problemas de conservação urbana e de gestão de caixa. Com 885 mil moradores, não há, por exemplo, coleta de esgoto. Picciani aproveita para culpar Lindbergh. Já o senador diz que não gosta de avaliar o governo dos outros, mas afirma que não aprovou a gestão de Sheila Gama que não deu continuidade a seus projetos.

Colaborou Guilherme Serodio

Fonte:  Valor Econômico

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