quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Um olhar sobre as eleições de outubro - Michel Zaidan Filho


Será um truismo reafirmar, pela milésima vez, que as eleições municipais deste ano foram sobredeterminadas pelas eleições presidenciais e estaduais de 2014. Embora o país seja uma Federação mal engembrada, e as subunidades nacionais gozem de relativa autonomia administrativa, os partidos são nacionais e as pretensões de seus líderes, também. Mais interessante é prestar atenção nas palavras do líder vitorioso, nessa eleição municipal do Recife, o governador do estado, Sr. Eduardo Campos. Em entrevista coletiva concedida aos órgãos de comunicação de Pernambuco, disse o dirigente estadual que "até então, o PSB era um partido adolescente. A partir de agora, tornou-se adulto". E que estava se preparando para novos Vôos e o seu nome estava a serviço do Brasil. Pode haver mensagem mais clara do que essa? - Pelo v isto, a aliança do PSB, que já vem de muitos anos - diga-se- com o PT, estava com o prazo de validade vencido ou a vencer. Só quem não sabia disso era o partido do ex-presidente Lula. A ruptura da aliança, em várias cidades importantes do país tinha e tem um significado que transcende, naturalmente, essas eleições: as alianças, os palanques e as candidaturas que devem se apresentar para 2014. É compreensível que um Partido que sai da "adolescência" e entra na "idade adulta" queira deixar de ser coadjuvante de outro e deseje o papel principal nas próximas eleições. E o Sr. Eduardo Campos nunca escondeu suas ambições nacionais. Na verdade, vem se preparando há muito tempo para torná-las reais.

O plano de vôo do presidente do PSB era conquistar 1000 prefeituras nessas últimas eleições. Conquistou menos de 300. Ficou em quinto lugar no "ranking" dos partidos. Em Pernambuco, conquistou 58 cidades, entre as quais, a capital pernambucana, numa disputa recheada de lances rocambolescos, para os quais deu a sua modesta (e desinteressada) ajuda através do prestimoso ex-secretário Maurício Rands. Conquistou a prefeitura de outras capitais, em aberta disputa com o PT. A essa altura, os maioriais petistas devem estar fazendo a contabilidade do estrago causado pela ruptura da aliança entre os dois partidos. Que significado pode ter isso para o Brasil, e nos pernambucanos e recifenses?

Naturalmente, nem tudo é obra de Eduardo Campos e seu prefeito eleito. O governador pegou carona numa onda de euforia e otimismo produzida pelos "milagres" (o uso do fundo público para alavancar a economia do país) da política econômica de Dilma. Nunca se comprou ou vendeu tanto no Brasil. Surgiu até uma nova classe média "emergente" (52 milhões de pessoas), saudada pelas novelas e programas jornalísticos de televisão. Houve até quem dissesse que a "velha" classe média estava com ciúmes e preconceitos contra a "nova". Junte-se a isso, a constatação de que o estado virou um canteiro de obras interminável e que o modelo de urbanização adotada, em nossa cidade, sob as bênçãos das empreiteiras, dos bancos e do próprio governo federal, é o mais predatório e desregulado que poderia ser: "vertical", com a produção de resíduos sólidos em grande quantidade, vários automóveis por cada família, poluição sonora em alto grau, congestionamento das vias públicas por carros particulares, destruição de reservas ambientais importantes. E tudo isso, é saudado em nome do desenvolvimento econômico da região, de um estado de espírito positivo, que espera de braços abertos a realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, em 2014. Será que sobreviveremos à Copa? Sobretudo, se a seleção brasileira for eliminada?

Chegou a hora de discutir com seriedade, não com os sofismas da propaganda eleitoral (casada), os problemas da administração municipal de uma metrópole como o Recife. Não basta ser um bom "vendedor" do estado e da cidade, para governar bem o município. A prioridade do bom e justo governo da cidade (esse o significado da palavra "Política") é a qualidade de vida de seus habitantes, sobretudo os mais pobres. De nada adiante fazer obras caras, com a ajuda do governo estadual e federal, com os hospitais públicos abarrotado de doentes pelos corredores, sem médicos, com uma ou duas enfermeiras para ir acalmando os pacientes. De nada adianta, construir cidades inteligentes (higtec), com as pouco inteligentes sem saneamento básico, sem áreas de lazer para a população. Com escolas-modelos para "inglês ver", sem ensinar em bom português os direitos básicos de cada cidadão e cada cidadã. Precisamos, mais do que nunca, de dirigentes que tenham um olhar de empatia com os que sofrem os desvalidos. A prioridade da administração pública é distribuir renda (não com a renúncia unilateral de tributos e outros favores) através de políticas públicas universalisantes, não através da privatização branca de equipamentos e hospitais a amigos e conhecidos (além da ilegalidade dessas medidas).

No debate que tive de participar com o prefeito já eleito, fiquei surpreso com sua atitude de júbilo, de felicidade, de alegria, por ter sido eleito (por quem?) no primeiro turno das eleições. Se ele tivesse bom senso, estaria muito preocupado em não trair, decepcionar, desapontar os munícipes, diante das imensas dificuldades que se apresentam para o ocupante do cargo. O mandato de Prefeito de uma capital não é uma prebenda, um presente, um brinde ofertado pelos deuses (da política). É um duro e espinhoso encargo. Sobretudo, para quem fez tantas promessas durante a campanha eleitoral.

Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

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