segunda-feira, 5 de novembro de 2012

2012 + 2 - José Roberto de Toledo

Como a eleição de prefeitos vai impactar o jogo de poder em Brasília? No varejo, uns caciques perdem penas enquanto outros aumentam seus cocares. No atacado, porém, a perda de cabos eleitorais será fatal para muitos deputados federais e, por consequência, para as bancadas de seus partidos na Câmara.

DEM, PMDB, PR e PTB são os mais ameaçados de diminuírem em 2014 por causa de 2012. PSB e PT, ao contrário, tendem a medrar. Nada aponta, entretanto, para uma revolução na balança partidária. A eleição municipal fez crescer mais partidos nanicos e projeta uma dispersão de poder ainda maior que a já existente na Câmara.

Há uma correlação muito forte entre número de prefeitos eleitos e tamanho das bancadas que os partidos levam para Brasília dois anos depois. No último ciclo eleitoral, o coeficiente foi de 0,9 num máximo de 1,0. Esse número não implica relação de causa e efeito, mas há indícios de que o sucesso do partido na eleição municipal esteja ligado ao número de deputados que ele elege.

Com uma série histórica mais ampla e metodologia científica, Leandro Piquet Carneiro e Maria Hermínia Tavares de Almeida demonstraram a articulação dos votos recebidos por um partido em diferentes eleições em artigo na revista Dados em 2008. O que se colhe das urnas num ano semeia os resultados subsequentes.

Em setembro passado, pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas confirmaram a relação de causalidade entre um pleito e outro e ainda estimaram que a eleição de um prefeito aumenta em 20% os votos para deputado federal recebidos pelo mesmo partido naquele município dois anos depois. Suas descobertas estão no artigo Articulações interpartidárias e desempenho eleitoral no Brasil, publicado pelo Cepesp da FGV.

Explicam os autores: "Essa vantagem veio do maior acesso dos prefeitos aos recursos públicos, seu papel como implementadores de políticas públicas locais ou como intermediários de transferências estaduais e federais, ou até como emprestadores de credibilidade para as promessas eleitorais dos candidatos do partido". Ou seja: prefeitos são bons cabos eleitorais.

No triênio 2008-2010, a proporção média foi de dez prefeitos para cada deputado federal eleito por partido. Essa taxa variou muito de legenda para legenda. O PT conseguiu converter quase três vezes mais deputados por prefeito do que o PMDB, por exemplo. Isso pode mudar porque petistas avançaram nas pequenas cidades.

Adaptadas as proporções, a Câmara semeada este ano tem o PT com favorito a fazer a maior bancada em 2014, mas ainda assim menos de 20% dos deputados. O PMDB tende a encolher mas manter o segundo maior número de cadeiras. PSD e PSDB devem se equivaler em tamanho, e o PSB ameaça alcançá-los.

Em seguida viria um bloco que, em ordem decrescente, começaria no PP, passaria por PDT e PR, desceria por DEM, PTB, PC do B, PRB e PV até o PPS. Uma dezena de partidos nanicos completaria o plenário.

Haverá outros fatores em jogo em 2014, porém. No seu artigo de 2008, Carneiro e Tavares de Almeida concluíram que "a votação para governador é a variável que tem o maior efeito sobre as votações para deputado federal". Logo, os partidos ainda têm como mudar seu destino até a próxima eleição.

É a fila, tucano. O PSDB tem dois problemas similares mas diferentes que, por aparência ou conveniência, vêm sendo debatidos como se fossem um só. Renovação partidária independe de renovação política, ou o contrário. Um partido pode arejar suas ideias com os mesmos caciques de sempre, ou pode promover curumins com ideias gastas. Seria saudável juntar caras novas a cabeças abertas, mas o ótimo é inimigo do bom. Renovação, de fato, seria fazer a fila andar.

A opinião pública já deu o recado algumas vezes, basta querer ouvir. Quem encabeçava a fileira e perdeu precisa reconhecer a derrota - qualquer uma delas. É um gesto que equivale a sair da frente, dar lugar. Sem isso, a sucessão entope. Tensões se acumulam até os conflitos implodirem o partido. Para quem obstrui, melhor retirar-se do que ser expelido ou abandonado.

Quanto às novas ideias, é mais provável que provenham da necessidade do que da hereditariedade. Na política, a repetição é mais forte do que a inovação. Se o patriarca teve sucesso, o herdeiro tende a imitá-lo, não contradizê-lo. Os exemplos se repetem, não importa o partido: Dirceus no PT, Brizolas no PDT, Covas no PSDB, Magalhães no DEM, Alves no PMDB, Arraes no PSB.

O coco raramente cai longe da palmeira - ser Vladimir é exceção.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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