sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Argentina tem novo panelaço anti-Cristina

Durante protesto, Buenos Aires volta a sofrer apagão

Janaína Figueiredo

Ira. Em Rosário, multidão foi às ruas da cidade; blecautes acirraram ânimos

BUENOS AIRES - Milhares de argentinos atenderam à convocação feita nas redes sociais para contestar o governo da presidente Cristina Kirchner e, em menos de dois meses, um segundo panelaço mobilizou insatisfeitos nas ruas de Buenos Aires e cidades como Mendoza, Santa Fé e Corrientes. A pauta de demandas era ampla - da economia ao respeito à liberdade de expressão - e ganhou força numa semana em que senadores e deputados da oposição assinaram um documento rejeitando o projeto de reforma constitucional através do qual a bancada kirchnerista tenta permitir uma segunda reeleição de Cristina, em 2015.

Depois do apagão que na última quarta-feira havia deixado quase 3 milhões de pessoas às escuras durante mais de quatro horas na capital, um novo blecaute atingiu Buenos Aires durante o protesto, enfurecendo os moradores.
O panelaço de ontem também coincidiu com a divulgação de um manifesto assinado por pelo menos 500 políticos e intelectuais contra "pressões sistemáticas do Executivo sobre juízes", em meio à guerra nos tribunais entre o governo e o grupo Clarín por conta da implementação da Lei de Serviços Audiovisuais.

Os apagões contribuíram para acirrar os ânimos. E longe de reconhecer que o país continua sem conseguir resolver uma crise energética confirmada por especialistas, o governo especulou com uma possível sabotagem, supostamente vinculada ao panelaço. O ministro do Planejamento, Julio De Vido, anunciou a abertura de um processo penal para investigar os culpados. O caso ficará nas mãos do juiz Noberto Oyarbide, considerado um dos principais aliados dos Kirchner no Judiciário.

- Aqui a pergunta é clara: quem abaixou a alavanca - declarou De Vido.

Os panelaços de 2012 representam um novo fenômeno social: manifestações da sociedade civil independentes de liderança política. Ontem, os principais dirigentes da oposição optaram por não participar das marchas para não afetar a legitimidade dos protestos, conforme explicou a deputada Elisa Carrió. Entre os manifestantes não havia flâmulas ou faixas de partido políticas - apenas bandeiras da Argentina. Em sua coluna no "La Nación", o jornalista Carlos Pagni ressaltou um contraste. Segundo ele, em 2001 (quando renunciou o ex-presidente Fernando de la Rúa) os panelaços exigiam "que fossem todos embora" e, desta vez o lema é "que alguém venha" resolver problemas como inflação, violência e crise energética. Os escândalos de corrupção, ataques a meios de comunicação (somente este ano já foram denunciadas 130 agressões a jornalistas) e o estilo de governo de Cristina, considerado autoritário, também foram criticados nas marchas. Muitos argentinos exigiram, ainda, o respeito à democracia, poucos dias depois de representantes do kirchnerismo terem admitido que um dos principais objetivos de uma eventual reforma constitucional é a segunda reeleição de Cristina.

Presidente reage no Facebook

Em geral, as manifestações foram pacíficas. Os canais de TV mostraram poucos cartazes agressivos: alguns desejavam a morte de Cristina. Ela se limitou a comentar no Facebook:

"Estamos vivendo um momento de liberdade de expressão nunca antes visto na Argentina; uma democracia total", escreveu a presidente.

Para o governo, por trás do panelaço estão a direita e "setores golpistas". Enquanto a Casa Rosada insiste na teoria da conspiração, a imagem de Cristina continua despencando: 60% desaprovam sua gestão, segundo as pesquisas.

Fonte: O Globo

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