sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Deixando 2012 para trás - Luiz Carlos Mendonça de Barros

O ano começou com otimismo moderado, depois o cenário mudou, com a crise na zona do euro

Amanhã entraremos no último mês do ano. Como cronista das coisas da economia, sinto ser minha tarefa procurar resumir, ao leitor da Folha, as principais marcas deste período no Brasil e no mundo. É o que procuro fazer neste meu primeiro relato.

Foi um ano muito difícil para a economia mundial. Ele iniciou-se sob o signo de um otimismo moderado. Nos primeiros três meses do ano, o índice S&P da Bolsa de Nova York valorizou-se em mais de 10%. No mesmo período, o Ibovespa avançou 19,3%, chegando a 69 mil pontos. Para o Brasil, esperava-se um crescimento de 3,5%.

Entretanto, no fim de março, a crise das dívidas na Europa se aprofunda a partir do vazio político criado pela eleição na Grécia. A possibilidade do colapso da moeda única europeia -e a crise de confiança que se seguiria- criou um verdadeiro pânico nos mercados. Com isso, as expectativas de recuperação da economia americana tomaram um tombo e reforçaram um quadro recessivo que já durava mais de quatro anos no mundo desenvolvido.

Nesse cenário, o crescimento no mundo emergente enfraqueceu-se, via queda de suas exportações, apesar de não sofrerem dos males financeiros que atingiam o mundo rico e terem, na demanda interna, a grande força da sua economia.

A China, afetada pela queda vertiginosa de suas exportações para o chamado G7, viu sua taxa de crescimento ficar abaixo dos 7% ao ano. Dentro desse ambiente de pessimismo -quase histérico-, muitos analistas passaram a prever o colapso do modelo chinês de crescimento. Como consequência, as economias emergentes que dependiam dos preços elevados dos produtos primários para crescer seriam engolfadas também pela depressão econômica.

No Brasil, as previsões para o ano fechado começaram a ser revistas para baixo. Relatório Focus do Banco Central do início de janeiro mostrava que a média das expectativas de crescimento da indústria, para o ano fechado, era de 3,40% ao ano. Já no mesmo relatório Focus de maio os números haviam mudado de forma importante, com o crescimento industrial sendo revisado para apenas 1,6% no ano.

A taxa Selic para o ano ainda se mantinha no nível de 9,5%, pois o Banco Central ainda não havia se posicionado para enfrentar uma crise econômica maior e mais ampla no mundo desenvolvido.

Ao longo dos meses seguintes, o ambiente internacional continuou a refletir um pessimismo crescente, principalmente porque os principais governos europeus continuavam sem conseguir montar uma estratégia coerente para enfrentar a crise de confiança em sua moeda. Com isso, as decisões de investimentos das empresas privadas passaram a ser adiadas, reforçando a fraqueza de várias economias.

No caso brasileiro, no período correspondente aos primeiros três meses do ano, essa queda dos investimentos privados chegou a mais de 8% ao ano. No segundo trimestre, esse movimento de se manteve, embora a uma taxa menor.

O resultado foi uma desaceleração do crescimento, com as estimativas mensais do PIB realizadas pelo BC chegando a apenas 1,2% para o ano como um todo ao longo dos meses de maio a junho.

Em fins de junho, finalmente o mercado financeiro acordou para esse fato e o Focus trazia o número de 2,05% para o crescimento do PIB em 2012 e apenas 0,4% para a produção industrial. Hoje, os economistas da Quest projetam uma queda de 2% para a produção industrial e um crescimento do PIB de apenas 1,4%. Uma bela mudança em relação ao início do ano.

O mesmo fenômeno aconteceu na China. No primeiro trimestre de 2012, pela primeira vez em muito tempo a taxa de investimentos fixos em 12 meses ficou negativa.

No caso dos EUA, o clima de pessimismo que se construiu a partir da Europa acabou por reduzir ainda mais o crescimento da economia, apesar da recuperação do mercado imobiliário. A resposta do Federal Reserve a essa queda de atividade veio por meio de uma nova rodada de injeções maciças de moeda na economia via recompra de títulos federais em circulação.

Foi nesse clima de fim do mundo que chegamos ao mês de setembro, quando uma decisão do BCE mudou o quadro econômico.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 69, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso

Fonte: Folha de S. Paulo

Nenhum comentário: