sexta-feira, 30 de novembro de 2012

FHC acusa Lula de confundir interesses públicos e privados

Em evento partidário, ex-presidente ataca petistas e diz que relações "confusas" levam a corrupção no governo

Para tucano, mistura de interesse "de família" com governo é "cupim da democracia"; Lula e PT não comentam

Daniela Lima

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acusou ontem o PT de confundir interesses públicos e privados e afirmou que seu sucessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se esquiva de dar explicações sobre "as relações confusas que foram estabelecidas em seu governo".

O ex-presidente falou sobre o assunto ao discursar num evento organizado pelo diretório do PSDB de São Paulo, em que fez palestra para prefeitos eleitos por seu partido nas eleições deste ano.

"Uma coisa é o governo, a coisa pública, outra coisa é a família. A confusão entre seu interesse de família ou seu interesse pessoal com o interesse público leva à corrupção e é o cupim da democracia."

Ele fez várias críticas ao PT durante o discurso, que durou quase 30 minutos. "Temos que descupinizar essa confusão que está havendo entre o interesse público e o interesse privado", afirmou.

Sua fala foi interpretada pelos tucanos como uma referência às revelações feitas pel Operação Porto Seguro, que indiciou por suspeita de corrupção e tráfico de influência a ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, figura muito próxima de Lula e do ex-ministro José Dirceu.

Rose, como ela é chamada, conheceu Lula nos anos 1990, trabalhando com o então presidente do PT, José Dirceu, a quem assessorou por 12 anos.

Com a eleição de Lula, em 2003 ela foi nomeada assessora especial do gabinete regional da Presidência. Em 2005, se tornou chefe da unidade. De lá até 2010, fez 32 viagens com o ex-presidente.

Ela foi mantida no cargo em 2011, a pedido de Lula, pela presidente Dilma Rousseff. Só deixou o cargo no sábado passado, quando foi exonerada após a operação da Polícia Federal ser deflagrada.

Durante a gestão do ex-presidente Lula, Rose exerceu grande influência, chegando a indicar apadrinhados para cargos de direção no governo -dois deles, os irmãos Paulo e Rubens Vieira, foram presos pela polícia.

"O presidente Lula, ainda ontem, em vez de explicar as relações confusas que foram estabelecidas no seu governo e que deram em corrupção, foi se dar ao luxo de dizer que tirou não sei quantos milhões da pobreza", disse FHC durante o evento dos tucanos. "Tirou porque mudamos o Brasil. A primeira grande redução de pobreza nesse período foi com o Plano Real."

Após a palestra, questionado sobre o discurso, FHC afirmou que "não tinha em mente" a Operação Porto Seguro quando fez as críticas ao PT. "Isso é norma geral", disse.

"Não gosto de entrar em detalhes. Não sei o que está acontecendo, não sou da investigação. Isso é geral. Não dá certo. O maior problema da nossa cultura política é o clientelismo e o patrimonialismo, a confusão do público com o privado", afirmou.

Ainda durante o discurso, o ex-presidente citou o julgamento do mensalão e disse que o fato mais importante do caso é que "pessoas poderosas foram tratadas como cidadão comum". Procurados, o PT e Instituto Lula não comentaram as declarações.

Fonte: Folha de S. Paulo

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