quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Lula e Dilma acertam articulação política para 2014

Sem comparecer a jantar com aliados, ex-presidente define bases para ratificar aliança com o PMDB

Maria Lima, Fernanda Krakovics e Luiza Damé

BRASÍLIA O ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff tiveram uma longa reunião, ontem à tarde, para combinar os pontos que seriam discutidos por ela depois, em um jantar no Palácio da Alvorada, com as cúpulas de PMDB e PT. Para não parecer que esteva tirando a autoridade de Dilma no comando das articulações políticas para sua reeleição em 2014, Lula desistiu de comparecer ao jantar. Mas acertou com ela, antes, as bases para a ratificação do acordo de parceria com o PMDB, com vistas às próximas eleições presidenciais, como fizera logo depois do pleito de 2006. O encontro a sós com Lula também foi no Alvorada e tomou toda tarde da agenda da presidente, por mais de três horas.

Nenhum dos dois compromissos políticos de ontem da presidente constou em sua agenda oficial. O jantar juntou Dilma, o vice Michel Temer, os líderes de PMDB e PT na Câmara e Senado, líderes do governo nas duas Casas, os presidentes José Sarney (Senado) e Marco Maia (Câmara), e os presidentes dos dois partidos, Rui Falcão e Valdir Raupp. A meta foi marcar a nova fase na articulação política do governo Dilma, que tem como primeira providência reafirmar a aliança para 2014 e os acordos entre PT e PMDB para as presidências da Câmara e do Senado.

Diante do crescimento e da movimentação do PSB do governador Eduardo Campos (PE), a expectativa de integrantes do PMDB era que o jantar de ontem desse a largada para as eleições de 2014, com a confirmação, pela presidente, da continuidade da aliança vitoriosa em 2010 - com Temer na chapa da reeleição.

Esperavam também uma sinalização de que o partido e o PT marcharão juntos, também com o apoio da presidente, para eleger o deputado Henrique Alves (PMDB-RN) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente.

Para o PT, que muitas vezes pediu, e não conseguiu, reuniões das bancadas com Dilma, a expectativa era abrir um canal de diálogo e se aproximar da presidente. O líder do partido no Senado, Walter Pinheiro (BA), disse que deseja discutir a ação no Congresso, afinar estratégias.

Sobre a candidatura de Renan, Pinheiro garantiu, antes do jantar, que não há problemas:

- Vamos respeitar a regra que a maior bancada indica o presidente, até porque amanhã, se o PT for a maior bancada, eu vou cobrar o apoio.
Poucos esperavam que a conversa no jantar descesse a detalhes de mais cargos para o PMDB e reforma ministerial. Dilma deve mexer em seu Ministério para abrigar o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) que, no segundo turno, apoiou Fernando Haddad (PT), mas isso será acertado com o próprio Temer, e só deverá ocorrer no início de 2013. Como é a praxe em reuniões marcadas pela presidente, os parlamentares estavam mais dispostos a ouvir do que falar. Nesses casos quem dá o tom da conversa é Dilma.

Aliança PT-PMDB terá desdobramento

Enquanto Lula e Dilma estavam reunidos no Alvorada, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que o fortalecimento da aliança entre PT e PMDB terá desdobramento, mas negou que a reforma ministerial seria tema no jantar de ontem:

- Eu acho que isso ficou muito evidente. O processo eleitoral, os episódios de São Paulo, Belo Horizonte e vários outros reforçaram essa aliança. Não há dúvida nenhuma. Isso está bastante claro. Agora vamos ver o desdobramento concreto - disse Carvalho, ao sair de um evento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). -Não tem nada disso (reforma). A presidente não está falando em reforma ministerial, gente. Ela não vai tocar em reforma ministerial por enquanto. Ela deixou claro para a gente isso. De verdade, a presidenta pediu para a gente, ela falou: "Olha, eu não tô pensando nesse assunto e não vamos alimentar uma coisa que não existe".

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT) - que teve audiência com a presidente de manhã no Palácio do Planalto, mas não participaria do jantar - minimizou os efeitos da disputa entre os aliados nas eleições deste ano na aliança nacional:

- Vou defender sempre que a gente consiga manter esse grupo de aliados unido até 2014. É o esforço que faço na Bahia. Creio que é o esforço que o PT, ela (Dilma), o PSB, que têm compromisso com o projeto, também fazem. O PSB é um partido importante e histórico na nossa aliança.

Para Wagner, alimentar e federalizar as disputas entre os aliados só interessa à oposição:

- As oposições se alegram com isso. À oposição interessa transportar os estresses para o nível nacional. Eu acho que está na hora de discutir a relação com todo mundo. Pode ter tido algum estresse com o PMDB, com o PCdoB. Teve estresse com o PMDB na Bahia, que apoiou um candidato que faz oposição ao projeto que participa nacionalmente. Cria um estresse? Cria. Transborda para a relação nacional? Não.

Fonte: O Globo

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