domingo, 4 de novembro de 2012

Renovação toma pauta dos tucanos após eleição

Partido se divide sobre necessidade de investir em novos nomes na política

Julia Duailibi

O debate sobre renovação partidária no PSDB, que surgiu na esteira de sua derrota na disputa pela Prefeitura de São Paulo, está longe de ser ponto pacífico no partido e hoje se baseia, principalmente, na emancipação de novos representantes de antigas dinastias políticas.

Dividido desde a derrota presidencial de 2010, o PSDB esbarra em dificuldades para unificar o debate. Há quem defenda espaço para novas gerações. Há quem diga que não é uma questão geracional, mas de ideias. "Para mim, a questão da renovação está muito mais ligada às ideias do que à certidão de nascimento", disse o deputado Vaz de Lima, aliado do candidato derrotado do PSDB à Prefeitura, José Serra. "O que define o novo não é uma categoria. Nada mais velho que o novo do PT. É uma questão "a-histórica" e, portanto, apolítica", afirma o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP).

A discussão deixa evidente a divisão no PSDB entre os que querem o enfraquecimento do eixo paulista e o surgimento de uma nova hegemonia de poder, com maior participação do Norte e Nordeste, onde o presidenciável Aécio Neves (MG) costura parte do seu prestígio interno.

No último domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro a defender renovação: "O momento é de mudança de gerações. Isso não quer dizer que os antigos líderes vão desaparecer. Eles têm apenas que empurrar os novos para a frente". Aécio também falou em espaço para a nova geração como forma de "fortalecer o PSDB".

Serra não gostou das declarações que relacionavam a derrota à questão geracional. Procurou tucanos para dizer que a tese da renovação era "pauta petista".

De olho no eleitor de classe média, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos principais defensores da renovação ao lançar Haddad contra a veterana Marta Suplicy. O escândalo do mensalão também impulsionou a renovação no partido ao atingir uma geração do PT paulista, com José Dirceu e José Genoino.

"O partido é um órgão burocrático. E a tendência é que esses grupos que se consolidam no poder impeçam a mudança", disse o professor Thadeu Brandão, da Universidade Federal Rural do Semiárido, que fez um estudo sobre o enfraquecimento do PSDB no Rio Grande do Norte.

Para o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), "o caminho de renovação é sem volta". "Mas não é necessariamente etária. O partido se renova com a reinserção de Artur Virgílio em Manaus, que tem uma forma moderna de se comunicar", disse.

No PSDB, desde 1996 Serra e o governador Geraldo Alckmin se revezam como candidatos a prefeito paulistano. "O partido se tornou muito dependente de dois nomes. Não é culpa deles. Mas do partido", disse o vereador eleito Mario Covas Neto. "Partido tem que discutir o que quer. Talvez por meio de uma reforma do programa, de um congresso ou um seminário. O importante é ter discurso. E é isso que perdemos. Estamos sem rumo."

"Novos" líderes. Hoje, as lideranças citadas pela cúpula partidária são invariavelmente descendentes de políticos conhecidos. É o caso de Bruno Covas, citado como a nova geração de tucanos paulistas, neto do governador Mario Covas. Ou do prefeito eleito de Maceió, Rui Palmeira, filho de Guilherme Palmeira, ex-governador de Alagoas.

Na corrida pela novidade, integrantes do partido falam até no nome do apresentador Luciano Huck, amigo de Aécio e de FHC, que poderia disputar o Senado em 2018. O apresentador diz que, no momento, não tem interesse em ingressar na política.

"É preciso haver uma renovação. Isso é um processo permanente. Significa trazer gente que está defendendo novos pontos de vista, gente que está redefinindo quais são os problemas da sociedade", disse o doutor em ciência política Luis Aureliano Gama de Andrade, professor das faculdades Pedro Leopoldo (MG).

"A defesa da renovação é o discurso mais velho da política. É impossível renovar por decreto. Isso não se impõe. Se conquista. É um processo natural e espontâneo", declarou o líder do partido no Senado, Álvaro Dias (PR), que defende a prévia para escolha do candidato a presidente como forma de fortalecer a sigla.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Nenhum comentário: