segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Suspeito virou conselheiro 11 dias antes de ação da PF

Investigado pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, José Weber Holanda Alves foi nomeado 11 dias antes da ação da PF para atuar no conselho de um fundo de gestão de aposentadoria complementar de servidores. Ele é funcionário do alto escalão da Advocacia-Geral da União.
 
Investigação aponta o envolvimento de Weber com o esquema de venda de pareceres técnicos para favorecer interesses privados. Procurado, ele não foi encontrado para comentar

 
Dilma nomeou investigado 11 dias antes de ação da PF

Weber, da AGU, assumiu cargo em fundo de aposentadoria de servidores
Em 2010, ele já havia sido indicado para conselho da empresa que cuidaria dos Jogos Olímpicos de 2016
 
Andreza Matais, Matheus Leitão
 
BRASÍLIA - Onze dias antes de ser indiciado pela Polícia Federal (PF) na Operação Porto Seguro, o servidor público José Weber Holanda Alves, membro do alto escalão da AGU (Advocacia-Geral da União), foi nomeado para o conselho deliberativo do recém-criado fundo que irá gerir a aposentadoria complementar dos funcionários públicos.
 
O decreto, do dia 12 de novembro, é assinado pela presidente Dilma Rousseff.
 
A Operação Porto Seguro, comandada pela PF, aponta o envolvimento de Weber com o esquema de venda de pareceres técnicos para favorecer interesses privados.
 
Segundo a investigação, ele pode ter recebido uma viagem de cruzeiro para ajudar o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) a regularizar sua situação numa ilha em São Paulo. Como a ilha é um bem da União, cabe à AGU emitir parecer sobre o assunto.
 
Procurado, Weber não foi encontrado pela reportagem para comentar.
 
No sábado, o governo anunciou sua exoneração do cargo de confiança na AGU. A decisão foi tomada um dia após a PF fazer busca e apreensão em seu gabinete.

O posto no conselho do fundo não foi primeira nomeação do gênero na carreira de Weber. Em 2010, ele foi nomeado para o conselho fiscal da Empresa Brasileira de Legado Esportivo, a Brasil 2016, estatal esportiva criada naquele ano pelo governo Lula para gerenciar os projetos federais dos Jogos Olímpicos Rio 2016, com orçamento inicial de R$ 10 milhões.

A Folha apurou que a indicação de Weber para a Brasil 2016 partiu do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, que já o tinha como braço direito na AGU.

A estatal foi extinta no ano seguinte à sua criação sem chegar a se estruturar. O próprio governo concluiu que já havia órgãos demais para organizar os jogos.

A parte burocrática da empresa, porém, funcionou em 2010 e 2011. Weber assinou relatórios fiscais aprovando gastos, demonstrações contábeis e financeiras.

Na AGU, Weber era advogado-geral-adjunto e trabalhava, até sexta-feira passada, numa sala contígua a do chefe. Uma porta dá acesso direto à sala de Adams.

A assessoria de imprensa da AGU confirmou que as salas são interligadas, mas disse que "ela não foi construída com esse objetivo": "No planejamento era uma sala de reunião, mas passamos a usar uma maior e ele acabou alocado para essa sala ao lado".
 
Carreira
 
Servidor concursado, Weber ascendeu na AGU pelas mãos de Adams, que tentou por duas vezes nomeá-lo para um cargo de confiança. Na primeira vez, a indicação foi vetada pela então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Ao assumir a Casa Civil para que Dilma disputasse a presidência, Erenice Guerra autorizou a nomeação de Weber para o cargo de confiança da AGU, a pedido de Adams.
 
Fonte: Folha de S. Paulo

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