sábado, 1 de dezembro de 2012

Dilma veta perdas bilionárias para o Rio

Presidente garante o cumprimento dos contratos, como prometera

Maior parte da receita dos campos já licitados fica com estados e municípios produtores, como é hoje. Governo vai editar MP garantindo 100% dos recursos futuros para a educação

A presidente Dilma Rousseff decidiu vetar o artigo 39 do projeto de lei aprovado pelo Congresso que redistribui os royalties do petróleo. A decisão respeita os contratos em vigor e prevê que a receita dos campos já licitados fique com os estados e municípios produtores pelas regras em vigor. Ou seja, como dissera Dilma no dia anterior, houve "rigoroso respeito aos contratos". O veto parcial evita perdas bilionárias para Rio, Espírito Santo e São Paulo, os grandes produtores. Os governadores do Nordeste, capitaneados por Cid Gomes (Ceará) e Eduardo Campos (Pernambuco), estudam uma reação. O governo editará uma medida provisória para vincular 100% dos royalties futuros para educação.

E Dilma vetou

Presidente mantém divisão de royalties de campos já licitados e abre caminho para leilões

Danilo Fariello, Junia Gama e Luiza Damé

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff atendeu aos apelos de Rio, Espírito Santo e São Paulo: cumpriu a promessa de respeitar os contratos e manter a regra atual de distribuição dos royalties de petróleo para os campos já concedidos. Ela vetou o artigo 3º do projeto de lei aprovado pelo Congresso, que redistribui os royalties inclusive dos blocos já licitados. Na segunda-feira, o Palácio do Planalto editará uma medida provisória que mantém o rateio aprovado pelos parlamentares apenas para o petróleo dos poços que ainda serão concedidos, a partir de maio de 2013, quando o governo espera retomar os leilões de novas áreas, que agora estão com o caminho aberto. Em novembro do ano que vem, o governo quer conceder também áreas do pré-sal. Dos royalties futuros, 100% terão que ser aplicados em educação.

- A sanção dos royalties tem como premissas o respeito à Constituição Federal; a garantia aos contratos estabelecidos; a definição de regras claras para garantir a retomada das licitações para exploração do petróleo, seja no regime de concessão ou no de partilha; a garantia da distribuição das riquezas do petróleo para todo o povo brasileiro, através da participação dos estados e municípios com os royalties provenientes de contratos firmados a partir desta data, inclusive dos contratos de concessão; e o fortalecimento da educação brasileira - disse ontem a ministra Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil, no anúncio dos vetos.

Tesouro poderia ser afetado

No dia anterior, Dilma defendera, em discurso, "um rigoroso respeito aos contratos". De acordo com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, estados produtores já contavam com as receitas dos blocos concedidos e haviam comprometido esses recursos no futuro, por isso uma aceitação integral pelo governo do texto do Congresso fatalmente levaria ao questionamento junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

- Como parte dessa receita foi securitizada, qualquer intervenção vai judicializar essa questão e não haverá repartição nenhuma. Vamos ter um impasse jurídico prolongado e uma tensão federativa que só não vê quem não quer. O melhor caminho é repartir aquilo que não foi dividido, que é a riqueza futura - argumentou.

- Se mantivéssemos esse artigo como está, não afetaríamos apenas os estados e municípios produtores, poderíamos estar afetando outras instituições que fizeram transações com esses estados e municípios - disse Gleisi.

Uma das instituições com transações com os estados produtores envolvendo os recursos dos royalties é o próprio Tesouro Nacional, em suas negociações de dívida com unidades da federação.

O secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Marco Antonio Almeida, explicou que a primeira rodada de leilões, prevista para maio, terá suas primeiras perfurações apenas no fim de 2013 e começo de 2014. Entre perfuração e exploração, costuma-se levar três anos, pelo menos, o que empurraria a nova divisão dos royalties futuros para além de 2017.

- O tempo após o início da exploração e o início da produção, cada empresa tem o seu - disse Almeida. - Algumas empresas conseguem fazer isso rapidamente, outras fazem de maneira mais lenta - completou.

MP corrige erro do congresso

Com isso, estados e municípios não produtores de petróleo deverão ter incremento de receitas sensível somente após 2018, o que deverá suscitar críticas à MP no Congresso. A aprovação da MP é fundamental para retomar as licitações, mas, como a medida entra em vigor segunda-feira, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) já poderá dar início aos trâmites para o leilão acontecer em maio.

- Os vetos feitos têm um embasamento constitucional de respeito ao direito adquirido. Aquilo que não feriu a Constituição nos direitos adquiridos está sendo preservado, respeitando como o Congresso aprovou. Mesmo a MP respeita o que o Congresso aprovou em termos de distribuição - defendeu a ministra Ideli Salvatti, de Relações Institucionais, que recebeu políticos pró-veto e pró-sanção dos royalties nas últimas semanas.

Na medida provisória, o governo proporá ao Congresso os mesmos percentuais de distribuição aprovados no projeto de lei, mas fazendo uma correção para a distribuição dos royalties. O texto saiu do Senado com um erro, que foi mantido pela Câmara, distribuindo 101% de royalties a partir de 2017. Na MP, a parcela dos municípios cai dos 3% previstos pelo Congresso para 2%, para preservar a legalidade do texto.

- Estamos chegando em um momento em que não conseguimos ir para frente, não conseguimos fazer licitações porque nós não temos uma regra estabelecida na distribuição de royalties, então começamos a passar por um momento de perde-perde - disse Gleisi, da Casa Civil. - Acredito que, da forma como estamos fazendo a medida provisória, vamos ter a sensibilidade do Congresso para aprovar, de uma vez por todas, para podermos fazer as licitações que vão beneficiar todos os estados e municípios brasileiros.

Fonte: O Globo 

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