quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Empresários, jabuticaba e novo consenso nacional - Cristian Klein

A gestão eficiente tornou-se o mantra da vez na política brasileira. Chegou-se a um ponto em que poucos políticos, da esquerda à direita, conseguem articular um discurso sem mencionar a necessidade de aplicar no setor público palavras e conceitos mais afeitos ao mundo da economia e da administração de empresas. Só falta, em breve, os candidatos travarem debates na TV com discussões acaloradas sobre que metodologia é a mais apropriada para tal ou qual prefeitura ou governo do Estado, se o SWOT, o BSC, o GDP ou o PDCA.

Do ex-governador e senador mineiro Aécio Neves (PSDB), passando pelos governadores de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), chegando ao prefeito Eduardo Paes (PMDB), do Rio, o número de seguidores da aplicação de métodos de gestão da iniciativa privada ao setor público não para de crescer. Virou bandeira tão suprapartidária que não é difícil imaginar o dia em que um prefeito do PSOL contrate a Falconi ou a Ernst & Young para ajudá-lo a governar Macapá, primeira capital conquistada pela legenda neste ano.

O PT já ocupou o terreno, cioso em não perder espaço para siglas adversárias. O estilo "mais gerencial, menos ideológico" é a marca de uma geração de políticos emergentes. Recém-eleito para a Prefeitura de São Paulo, o petista Fernando Haddad tem se mostrado um admirador do modelo. Em seminário organizado pelo Valor, nesta semana, para um grupo de mais de 60 presidentes de grandes empresas, Haddad não defendeu apenas a absorção de práticas da iniciativa privada, mas o "chamamento" de executivos e do empresariado para que exerçam cargos públicos.

Só falta o PSOL contratar a Falconi ou a Ernst & Young

Numa provocação ao prefeito do Rio, presente ao evento, Haddad disse que "chegou primeiro" ao convidar o ex-sócio da McKinsey, Marcos Cruz, para ser seu secretário de Finanças, e que pretende se antecipar mais vezes na busca por nomes do setor privado. Cruz foi indicado pelo empresário Jorge Gerdau, fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC), que difunde a ideia entre os políticos brasileiros.

O MBC é praticamente uma jabuticaba. Trata-se, como afirma seu diretor-presidente, Erik Camarano, de um tipo de parceria público-privada (PPP) que só existiria no Brasil e já tem atraído o interesse de entidades estrangeiras. "Em 2010, no México, estive numa reunião de uma rede de monitoramento e avaliação de programas públicos, com a presença do Banco Mundial e do BID, e fiquei muito surpreso porque a gente constatou que não tem uma iniciativa semelhante, que seja de patrocínio empresarial", conta Camarano. A partir deste contato, o presidente do BID, Luis Alberto Moreno, sugeriu um acordo de cooperação. E o modelo do MBC deve ser exportado, a partir de 2013, a começar por países da América Latina, como Colômbia e Chile.

O MBC surgiu da cabeça de Jorge Gerdau, quando o empresário do setor de siderurgia percebeu que não bastava ser competitivo "do portão da fábrica para dentro". Sua cruzada é contra o custo-Brasil, que eleva os preços dos produtos nacionais devido às deficiências de infraestrutura e da alta carga tributária do país.

Criado em 2001, desde então o MBC mobiliza uma rede de 14 empresas de consultoria e treina servidores públicos para que ajam à semelhança dos atores privados e, com isso, busca alcançar a tão desejada competitividade do portão da fábrica para fora.

É uma agenda do empresariado, que tem sido abraçada com entusiasmo pelos políticos como decantação de um interesse nacional. O fato, porém, é que há uma combinação de interesses. Os governantes ganham mais um instrumento para melhorar sua própria competitividade no mercado eleitoral, e os empresários se aproximam dos agentes públicos que podem lhe favorecer no mercado nacional e global - a longo, médio ou curto prazo, nem sempre pela redução do custo-Brasil. Para encurtar o tempo e dispensar licitação, as despesas com a consultoria são necessariamente cotizadas pelos empresários dispostos a ajudar a prefeitura ou o governo do Estado.

Expressão máxima da comunhão, o governo federal abriga, desde o ano passado, a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, com o assento paritário de quatro ministros e quatro empresários, entre eles Jorge Gerdau, que preside o comitê.

A PPP pela gestão eficiente já dura quase dez anos, transpassou os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas é com Dilma Rousseff, de perfil mais tecnocrático, que se instala no seio da Presidência da República.

Esvaziado o Conselhão da era Lula - que reunia empresários, sindicatos, intelectuais e refletia uma maior heterogeneidade -, o papel de traçar uma estratégia de desenvolvimento para o país recai na interação entre alta burocracia e um círculo mais estreito de empresários.

Uma das maiores especialistas na relação entre empresariado e Estado, a professora e pesquisadora da UFRJ, Eli Diniz, afirma que o modelo do MBC representa um fenômeno novo e ainda pouco estudado. Não se trata, como no regime militar, do que o então sociólogo e depois presidente Fernando Henrique Cardoso denominou de "anéis burocráticos". Ou seja, com o Congresso enfraquecido, a influência dos empresários se dava direta e principalmente em torno da alta tecnocracia governamental, por meio de relações individuais, informais e pessoais.

Com a redemocratização e a recuperação de poderes do Legislativo, a marca tem sido a multiplicidade de formas de acesso do empresariado ao governo. Na miríade de mecanismos, Eli Diniz cita o lobby altamente profissionalizado, embora não regulamentado, no Congresso; a estrutura corporativista, com os sindicatos patronais, como a Fiesp, de origem getulista; as associações de caráter nacional, mas que não pertencem à arquitetura corporativista, como as associações brasileiras de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) e da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee); e outras entidades influentes, como o Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) e o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Os empresários hoje têm vários meios de ação e um sistema de representação muito diferenciado", afirma Diniz.

O MBC, e seu ideário da gestão eficiente, seria o mais novo deles.

Fonte: Valor Econômico

Um comentário:

Anônimo disse...

Eles buscam ao redor soluções que possam ajudar na administração, e não acho que isso seja ruim, bons exemplos surgem de qualquer lugar.