sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Entre fatos e versões se aproxima 2014 - Maria Cristina Fernandes

"No mercado, como na política, a versão tem mais força que o fato". O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, respondia à pergunta de quem tem razão sobre o tripé da economia, a presidente Dilma Rousseff, que o vê mantido, ou o mercado, que o dá por acabado.
 
"Se, de fato, o tripé não foi alterado, a impressão é de que foi". A distância entre fato e versão é ampliada por falta de "concerto", como o governador chama a incapacidade de comprometer as partes interessadas numa decisão negociada em benefício do país, ainda que, de imediato, possa trazer perdas para os envolvidos.
 
Sem concerto ou compromisso, quem perde se torna porta-voz de versões que corroem a credibilidade dos fatos. É disso que trata a política, tenham os interlocutores mandato, dinheiro ou voto.
 
A política é uma só, tenha-se dinheiro, mandato ou voto
 
Foi assim, acessível a qualquer entendedor, que Eduardo se mostrou ante uma plateia de 60 presidentes de empresas reunidos nesta semana em seminário do Valor. Não precisou dizer se será ou não candidato. A resposta está na distância entre fato e versão que o ano de 2013 vier a estabelecer.
 
O discurso é de aliado. Apoiará toda a agenda de regulação para destravar o investimento na expectativa de que, até meados do próximo ano, o país decole. Mas deixa em aberto o que acontecerá se fatos e versões continuarem a trombar. Introduz, com sua versão da disputa presidencial de 2010, o fato que não pode se repetir na próxima: a oportunidade perdida de se debater alternativas para a retomada do investimento.
 
Segue o mantra do avanço pela busca do consenso sem temer o desgaste popular que a seara da negociação política sofreu com a posse de Dilma.
 
A presidente escala as pesquisas de popularidade com a imagem de quem, a negociar com parlamentares e empresários, prefere combater o malfeito e a privatização do interesse público.
 
Ainda sem condições de disputar público, Eduardo cultiva bases políticas e empresariais com o discurso do consenso. Assim como a redemocratização, a estabilidade da moeda e a redistribuição de renda foram pactuadas, a retomada do investimento também precisará sê-lo.
 
Junto à banda menos industrializada do país busca convergência na queixa de que a retomada do investimento pela desoneração de IPI para setores específicos se dá à custa da agricultura, da pequena empresa e do que ali, naquela plateia de cosmopolitas, chama de "Brasil profundo", prefeituras e Estados que veem reduzidos seus repasses federais. Quando se desonera e o país cresce, ganham todos, mas quando se desonera e o crescimento não vem é a maioria que perde. Chega a dizer que, a privilegiar setores específicos, seria preferível uma redução geral de impostos.
 
Dois dias depois, em evento da CNI, Dilma seria taxativa sobre suas escolhas e mostraria por que Eduardo aproxima-se dos fatos com sua versão sobre a política de desenvolvimento do governo: "Cada governo tem seu desafio. O meu é, necessariamente, buscar uma maior competitividade sistêmica e setorial dos diferentes seguimentos da nossa economia, mas sem sombra de dúvidas, da indústria".
 
A prefeitos e governadores que o têm procurado para discutir o imbróglio dos royalties, Eduardo diz entender a preocupação da presidente em evitar que a questão, judicializada, atrase os leilões do pré-sal. Mas não entende por que a presidente não buscou os envolvidos para explicar a decisão. Esperou até a última hora ser contactado pelo Planalto. Checou. O governador do Rio, Sérgio Cabral, também não o havia sido. Dois dias antes dos vetos, decidiu mandar carta, não porque alimentasse a esperança de revertê-los, mas para registrar posição.
 
A esse debate federativo, tenta atrair o empresariado com o argumento de que no momento em que a cartilha do governo federal parece ter se esgotado, é chegada a hora de Estados e municípios poderem lançar mão de instrumentos para alavancar investimentos.
 
Corteja os empresários com o discurso de que práticas do setor privado como remuneração variável já se tornam padrão de gestão pública.
 
Seus parceiros de seminário, todos com menos de 50 anos e iniciados na política com a redemocratização, estavam lá para confirmar.
 
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, que se definiu como gestor de lápis na orelha e umbigo no balcão, contou que 80% dos servidores do Rio têm remuneração estabelecida por metas de desempenho.
 
O prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, concordou com Eduardo no diagnóstico de que o crescimento econômico pela distribuição de renda já se aproxima do esgotamento. E que a gestão pública, para aumentar a capacidade de investimento, tem que buscar inspiração no empresariado sobrevivente de crises econômicas.
 
Lideranças emergentes num país em que a presidente da República não se cansa de valorizar seus embates com o capital, os três fizeram questão de marcar a diferença.
 
Reunidos, pareciam rimar com o enunciado de Eduardo de que tanto a redemocratização quanto a estabilidade da moeda e a distribuição de renda tinham vingado porque um conjunto de lideranças políticas havia convergido para viabilizá-las.
 
Integrantes de partidos que compõem a base da presidente Dilma Rousseff, os três estiveram em seu palanque em 2010, mas não necessariamente permanecerão em 2014.
 
No discurso de dois dias depois, a presidente Dilma Rousseff deu respostas a várias das queixas ouvidas ali. Reconheceu que os prazos e a burocracia para a aprovação de financiamentos ainda precisam ser agilizados. Explicou por que não incorporou ciência e tecnologia na destinação dos recursos do pré-sal, como demanda Eduardo. "Não tem tecnologia, não tem ciência e não tem inovação sem educação de qualidade".
 
E, finalmente, disse que, por recentes, os efeitos da redução das taxas de juro na ampliação do crédito ainda estão a caminho.
 
Que o país vive uma transição, todos parecem concordar. As diferenças começam a partir da velocidade necessária às mudanças e das versões que delas se darão a caminho de 2014.
 
Fonte: Valor Econômico

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