terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Inferno astral - Carlos Heitor Cony

Superstição ou experiência pessoal, criou-se a lenda do inferno astral, período que antecede ao aniversário de cada um, trazendo aborrecimentos e desafios que nem sempre podem ser superados. O governo está atravessando alguma fase parecida com esse inferno, por conta do primeiro ano de sua instalação, em que os astros não estão lá em cima, mas aqui mesmo, às voltas com a Justiça e a polícia.

As sucessivas crises -ou escândalos- deixaram de pertencer ao noticiário político e ocuparam os espaços reservados aos traficantes e aos crimes comuns. O processo do mensalão, com o codinome de "ação penal 470", ainda nem acabou e o barco oficial ameaça encalhar num porto nada seguro apesar do nome que lhe deram: "Porto Seguro". Somando-se à Operação Monte Carlo, à Satiagraha e a outras, pode-se concluir que o inferno, como a Casa do Pai, tem muitas moradas.

Complicando a situação, temos a realidade de nosso crescimento. As autoridades que tomam conta das burras oficiais nem chamam de PIB, mas de Pibinho, numa faixa bem inferior às estimativas prometidas.

Seria cômodo atribuir todos os abrolhos a dona Dilma, que não se sabe se é presidente ou presidenta do país. De qualquer forma, é ela que, de uma forma ou de outra, tem o domínio dos fatos, apesar da dicotomia criada pela problemática herança de seu antecessor.

Os entendidos garantem que a democracia está "consolidada" entre nós, e é bom que esteja, afastando as nuvens sombrias de uma ameaça às instituições.

Sempre senti um arrepio ao enfrentar a estrofe camoniana do gigante Adamastor. O poeta estava na "cortadora proa vigiando", quando "uma nuvem que os ares escurece sobre nossas cabeças aparece, tão temerosa vinha e carregada, que pôs nos corações um grande medo".

Fonte: Folha de S. Paulo

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