quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Inflação, pecado e virtude - Carlos Alberto Sardenberg

Em 2011, a inflação oficial, medida pelo IPCA, índice do IBGE, bateu em exatos 6,5%, no teto da margem de tolerância. Neste ano, deve ficar um pouco abaixo de 6%, com alguma desinflação, diz o governo.

Certo?

Errado, nota o economista Alexandre Schwartsman. Acontece que, a partir de janeiro deste ano, o IBGE introduziu modificações nas ponderações do índice. Essas mudanças empurraram o número para baixo.

Sem as mudanças, a inflação deste ano cravaria nos mesmos 6,5% do ano passado. Os economistas não estão contestando as mudanças técnicas feitas pelo IBGE. Mas, nota Schwartsman, a análise mostra que, a rigor, não houve desaceleração da inflação neste ano.

A inflação como virtude

O novo primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, fixou como prioridade: elevar a meta de inflação.

Isso mesmo. Verdade que ele quer chegar a 2% de inflação neste ano, número que é uma mixaria para padrões brasileiros. Aqui, seria o mesmo que zero.

Já no Japão, o problema é o inverso, a deflação, uma queda generalizada no nível de preços, que ocorre há anos. Se na inflação a moeda perde valor a cada dia, na deflação, o dinheiro se valoriza. Amanhã se compra mais.

Isso inibe consumo e investimentos e o país simplesmente para de crescer. Logo, a saída é a volta da inflação - fazer o dinheiro desvalorizar para estimular consumo e investimento.

O Banco Central do Japão não gostou da meta. Disse ser "irrealista". Quer dizer, eles acham que não conseguem os 2% de alta de preços.

Sugestão: eles poderiam importar técnicos do BC e do Ministério da Fazenda brasileiros. O pessoal aqui faz 2% num trimestre, brincando.

Em troca, os japoneses nos mandam os técnicos para ensinar como se joga a inflação no chão.

De estatal para estatal

A presidente Dilma convenceu-se de que não há como melhorar os aeroportos sem entregá-los à gestão privada. Tenta dar sequência a essa conclusão com as concessões dos principais aeroportos, mas as ideias estatizantes estão tão enraizadas que ela não consegue evitar. Toda vez que privatiza, cria uma estatal.

A última é a Infraero Serviços, criada com o programa de privatização dos aeroportos do Galeão, Rio, e de Confins, Belo Horizonte. Essa estatal nova, subsidiária da velha Infraero, vai prestar serviços não se sabe quais e a aeroportos também não se sabe quais. Vai aqui uma sugestão: a velha Infraero poderia contratar a Infraero Serviços para cuidar do ar-condicionado do Santos Dumont, quebrado por semanas, em pleno verão carioca.

Cobrança.

No mesmo anúncio de privatização, o governo anunciou que vai investir R$ 7,3 bilhões em 270 aeroportos regionais pelo país afora. Foi uma decepção. Dias antes, em Paris, a presidente Dilma havia falado em criar e/ou melhorar nada menos que 800 aeroportos regionais. Não se explicou a redução. É hábito do governo anunciar grandes projetos, sem dar maiores detalhes. Como os investimentos não são especificados, muitos menos os prazos, não há como cobrar. De todo modo, considere a eficiência. O orçamento federal deste ano previa investimentos de R$ 90 bilhões. Até o início de dezembro, tinham conseguido gastar algo como R$ 40 bilhões. Atrasos da Copa. E por falar em cobrança: em 4 de fevereiro de 2009, o então ministro dos Esportes, Orlando Silva, garantia que todos os 12 estádios da Copa estariam prontos e funcionando em dezembro de 2012.

Estão inaugurados dois, o Mineirão e o de Fortaleza. Ainda sem jogos de futebol.

Ainda nesse capítulo: em janeiro de 2010, os governos federal, estaduais e municipais assinaram um documento chamado "matriz de responsabilidade". Previa que as obras de mobilidade urbana, que seriam o principal legado da Copa, estariam prontas em dezembro de 2012 ou, no mais tardar, no primeiro semestre de 2013.

Sem chance. Muitas foram simplesmente descartadas, as que começaram, estão atrasadas. Diversas estão prometidas para... depois da Copa.

Atrasos 2

E por falar nisso: o governo federal estuda a privatização do Galeão pelo menos desde 2006, quando o então recém-eleito governador Sérgio Cabral reivindicou a medida. Em 2011, Dilma disse que a decisão estava tomada pela concessão. Saiu agora, mas com o leilão previsto para setembro de 2013.

Sabem como é: complicado preparar a papelada.

Sem luz

Faltou energia em vários bairros de São Paulo e em cidades do interior paulista na noite de Natal. No dia 26, faltava energia em Santa Teresa, no Rio, além de outros bairros. As companhias distribuidoras simplesmente não explicaram.

Também, especulamos nós, com essa mania de iluminar fachadas, árvores, ruas... Culpa do espírito natalino, não é mesmo?

Fonte: O Globo

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