sábado, 1 de dezembro de 2012

Pane no PIB - Míriam Leitão

Todo mundo achava que o PIB do terceiro trimestre seria forte. Foi fraco. Os economistas erraram a previsão que era boa, mas acertaram a ruim: os investimentos caíram pelo quinto trimestre seguido. O Brasil pode crescer menos de 1% este ano e as contas para 2013 estão sendo revistas para baixo. A queda da inflação foi muito menos intensa do que o recuo da atividade.

O gráfico abaixo mostra a relação entre o crescimento econômico e a inflação. Percebe-se que, enquanto a atividade despencou, a inflação caiu, mas muito menos. E voltou a subir no último trimestre. Como já dissemos aqui, o que mais impressiona na nossa economia é que os juros caíram de 12,5% para 7,25% em um ano e, ainda assim, a engrenagem não pegou. O estímulo não teve o efeito esperado. Ao mesmo tempo, o IPCA não voltou ao centro da meta de 4,5%.

Embora a indústria tenha crescido 1,1% em relação ao segundo trimestre, olhando para um período mais longo, ela está jogando contra. Cai 0,9% em 12 meses e está também 0,9% menor do que no terceiro trimestre de 2011. Os investimentos também não têm ajudado. Caem por cinco trimestres seguidos e estão num nível 5,4% menor do que no terceiro trimestre de 2011.

Tanto os consumidores quanto o governo já gastaram demais nos últimos dois anos e estão mais contidos agora. O setor de serviços ficou estagnado entre julho e setembro; isso explica em grande parte porque os economistas erraram a conta do PIB. O setor de intermediação financeira, ou seja, os bancos, sofreu com a inadimplência alta e os juros mais baixos. Caiu 1,3% em relação ao segundo trimestre. Foi a primeira vez que isso aconteceu desde 2008, logo após a crise financeira internacional.

O ano começou com projeções de crescimento de 3,4%, pelo mercado, e entre 4% e 5%, pelo governo. Vai acabar com um número entre 0,5% e 1,5%. As estimativas para 2013 também estão caindo. A presidente Dilma pode ter o crescimento mais fraco em início de governo desde a era do real.

Estímulo e corte de juro não bastam

Tem crescido o coro dos que criticam a condução da política econômica com foco no estímulo ao consumo. O que mais chama a atenção de Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV e ex-BC, nos dados do PIB é o número vermelho do investimento. Ele acha que redução de juros e estímulos fiscais localizados não são suficientes para resolver as questões estruturais que limitam o crescimento da economia.

- O problema vai além do cenário internacional. É a própria estratégia de políticas domésticas. Não conseguimos ainda criar o ambiente de negócios na área de infraestrutura que atraia o setor privado de uma forma expressiva; pelo contrário, estamos gerando incertezas institucionais - diz ele, citando as intervenções no setor elétrico e no de petróleo.

Acredita que os instrumentos usados pelo governo estão se esgotando e que, por isso, teremos que conviver com crescimento baixo e inflação alta este ano e em 2013.

Fonte: O Globo

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