sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Vieira ameaça agora delatar a máfia dos pareceres

Apontado pela Polícia Federal como o chefe do esquema, ele fala em "novos personagens"

Apontado pela Polícia Federal como o chefe da máfia dos pareceres, o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira ameaça contar detalhes e revelar novos personagens do esquema, revelam Vera Rosa e Felipe Recondo. O grupo, que atuava nos bastidores do poder, tinha a participação da ex-chefe do gabinete da Presidência em SP Rosemary Noronha, ligada ao ex-presidente Lula. Após trocar de advogado e adotar estratégia agressiva de defesa, Vieira quer negociar uma delação premiada com o Ministério Público e obter tratamento menos severo. Ele tem dito que não sairá do caso como chefe da quadrilha e promete denunciar gente "graúda". Vieira foi indiciado por corrupção, falsidade ideológica, falsificação de documento e formação de quadrilha. A PF suspeita que ele e Rosemary tenham praticado lavagem de dinheiro.

Suspeito de chefiar quadrilha troca de advogado e fala em delação premiada

Porto Seguro. Diretor afastado da ANA, Paulo Vieira ameaça contar detalhes do esquema e envolver novos personagens no escândalo revelado pela operação da Polícia Federal, que também derrubou a ex-chefe de gabinete da Presidência de São Paulo Rosemary Noronha

Vera Rosa, Felipe Recondo

BRASÍLIA - Apontado pela Polícia Federal como chefe da máfia dos pareceres, o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Rodrigues Vieira quer agora negociar uma delação premiada com o Ministério Público. Vieira ameaça contar detalhes do esquema e envolver novos personagens no escândalo revelado pela Operação Porto Seguro, que também derrubou a então chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha.

O ex-diretor da ANA disse que não sairá do caso como chefe de quadrilha e promete denunciar gente "mais graúda". Com isso, espera obter do Ministério Público um tratamento menos severo e empurrar para outros a posição de comando do grupo, que praticava tráfico de influência nos bastidores do poder. Vieira trocou o advogado Pierpaolo Bottini pelo defensor Michel Darre, no intuito de apresentar uma estratégia mais agressiva de defesa. Bottini disse que deixou o caso por motivos pessoais. Darre, por sua vez, afirmou que ainda está estudando o processo.

"Há muita coisa a ser levantada e eu pedi a meu cliente para ter paciência", comentou o advogado. "Entrei no processo para verificar qual a melhor medida a ser tomada. O ex-diretor da ANA foi indiciado pela Polícia Federal pelos crimes de corrupção ativa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e formação de quadrilha. Ele e seu irmão Rubens deixaram a prisão no último dia 30, beneficiados por habeas corpus. Rubens era diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e atuava como consultor jurídico do grupo, que tinha ramificações na advocacia-Geral da União (AGU) e em várias repartições públicas, para venda de pareceres fraudulentos a empresas.

A Polícia Federal suspeita agora que Rosemary Noronha e os irmãos Vieira tenham também praticado lavagem de dinheiro para ocultar bens adquiridos de forma ilícita. Rose foi indicada para o cargo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - de quem é muito próxima desde os anos 90 - e conseguiu com ele a nomeação de Paulo e Rubens para as agências reguladoras.

Em e-mails trocados com Paulo, Rose se referia a Lula como "PR" e pedia dinheiro. Nessas mensagens, expressões cifradas como "livros", "exemplares" e "Volume" eram usadas para designar verba. Investigações da PF mostram que a máfia dos pareceres financiou para Rose um cruzeiro (R$ 2,5 mil), uma cirurgia no ouvido (R$ 7,5 mil), um Pajero (R$ 55 mil), móveis para a filha (R$ 5 mil) e o pagamento da dívida de um carro de seu irmão (R$ 2,3 mil), além de outras despesas.

Gilberto Miranda entrou no esquema para conseguir vantagens pessoais e aumentar o lucro de seus negócios. O ex-senador do PMDB se beneficiou da compra de pareceres para a ocupação de duas ilhas: a de Bagres, em Santos, e a de Cabras, em Ilhabela, onde construiu uma mansão. Foi na ilha de Bagres, área de proteção permanente ao lado do porto de Santos, que Miranda obteve a aprovação de um projeto para construção de um complexo portuário, em 2013, no valor de R$ 2 bilhões.

A presidente Dilma Rousseff está preocupada com os desdobramentos do caso, que também derrubou José Weber Holanda, até então braço direito do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Weber atuava com Paulo para ajudar Miranda. Antes de anunciar o pacote dos portos, na semana passada, Dilma convocou uma força-tarefa para fazer um pente-fino nas medidas e evitar surpresas desagradáveis. Adams foi chamado para conversas sobre o pacote, mas ainda está desgastado. Antes da crise, ele era cotado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal.

Na Esplanada, ministros dizem esperar que a análise de computadores apreendidos no escritório da Presidência, em São Paulo, não envolva novas repartições e políticos no escândalo. Depois do depoimento do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza à Procuradoria-Geral da República, apontando o dedo para Lula no mensalão, petistas estão apreensivos com a avalanche de denúncias.

O Estado de S. Paulo

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