sábado, 6 de outubro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Celso de Melo: ‘o mensalão maculou a República’ (LVIII)


"A rotina de desfaçatez e indignidade parece não ter limites, levando os já conformados cidadãos brasileiros a uma apatia cada vez mais surpreendente, como se tudo fosse muito natural e devesse ser assim mesmo; como se todos os homens públicos, em diferentes épocas, fossem e tivessem sido igualmente desonestos, numa mistura indistinta de escárnio e afronta, e o erro do passado justificasse os erros do presente."

Celso de Mello, ministro do STF. No voto do processo do mensalão, na sessão de 1/10/2012. 

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO 
Ficha Limpa ainda pode barrar 3 mil candidatos
Lula: 'Nunca foi tão difícil'
Furnas investiu só 37% do previsto
A hora do mensalão: A dor que cala

FOLHA DE S. PAULO 
Eleição nunca teve tantos partidos com chance nas capitais
Futuro senador usa verba pública para obter votos
É a eleição mais complicada que já fiz em SP, diz Lula
Aécio ironiza Dilma e pergunta onde a 'mineira vai votar'
Editais só para negros causam polêmica no meio cultural
Inflação aumenta e tem o pior setembro dos últimos 9 anos

O ESTADO DE S. PAULO 
Candidatos elevam tom em eleição indefinida
Dilma decide mudar direção de Furnas
Novos prefeitos terão de enfrentar falta de recursos
Alagoas tem 25 nomes sub judice
"Dor me impede de falar", diz ministro sobre o mensalão

CORREIO BRAZILIENSE
UnB suspende inscrição no vestibular e no PAS
Ficha limpa deve barrar até 3,1 mil candidatos
Energia: Relatório sobre apagão no DF só em 15 dias

ESTADO DE MINAS 
Promessas em terras devastadas
Lacerda lidera com vantagem de 12,6 pontos
Aécio rebate presidente: "Onde a mineira Dilma vai votar?"
Cota racial na cultura divide classe artística 

ZERO HORA (RS)
À espera
Paz nas urnas: 800 policiais para evitar violência em 111 cidades
7 candidatos respondem a 5 perguntas sobre a Capital

JORNAL DO COMMERCIO (PE) 
Suspense até a última hora
Resultado das eleições sai até as 22h de amanhã
Lula vê disputa paulistana como muito difícil
Governo prevê R$ 4,9 bilhões para 2013
Conta de luz deve cair até 26% em 2013

O que pensa a mídia - editoriais dos principai jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Ex-presidente da Petrobras critica ministros do STF

Aguirre Talento
 
O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli (PT) afirmou ontem que o Supremo Tribunal Federal está "condenando sem provas" no julgamento do mensalão e citou o caso de José Dirceu.

Gabrielli, um dos fundadores do PT baiano e hoje secretário de Planejamento do governo da Bahia, disse que os ministros do Supremo estão usando "conceitos muito perigosos para a democracia".

"Elementos fundamentais do Estado de Direito podem estar sendo ameaçados", disse à Folha.

Ele exemplificou criticando a "teoria do domínio do fato", usada para acusar o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de comandar o mensalão.

Segundo Gabrielli, essa é uma condenação "assumidamente sem provas". "O conceito de domínio do fato é uma forma de interpretar um fenômeno do qual você não tem prova. Usa só elementos circunstanciais para condenar a pessoa. Isso é muito perigoso para a sociedade". Gabrielli andou ontem com Nelson Pelegrino, candidato a prefeito de Salvador.

 Fonte: Folha de S. Paulo

"Dor me impede de falar", diz ministro sobre o mensalão


O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) deu o tom, ontem, do clima entre os petistas históricos em relação ao julgamento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "A dor me impede de falar, neste momento, dessa questão", disse Carvalho, que atuou no seleto grupo, coordenado por Dirceu, que trabalhou para levar Lula ao poder em 2002

"A dor me impede de falar", diz ministro sobre Dirceu

Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, evita comentar votos no Supremo pela condenação do ex-chefe da Casa Civil no governo Lula

Foi numa tentativa de se esqui­var de jornalistas que o minis­tro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, deu o tom do clima entre os pe-tistas históricos em relação ao julgamento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pelo Su­premo Tribunal Federal (STF). "A dor me impede de fa­lar, neste momento, dessa questão", disse Carvalho, que atuou no seleto grupo coorde­nado por Dirceu que traba­lhou para levar Lula ao poder.

A rápida conversa de Carvalho com jornalistas ocorreu na aber­tura de uma exposição, no segun­do andar do Planalto, de seis qua­dros do italiano Michelangelo Caravaggio (1571-1610), mestre das expressões fortes, que explo­rava o escuro em suas obras.

Nas últimas semanas, os petistas influentes do governo evita­ram dar declarações sobre o jul­gamento do mensalão. As razões são várias, observam interlocuto­res do Planalto. A razão política é que o drama do partido não po­de atravessar a Praça dos Três Poderes - de um lado fica o STF e do outro, o Planalto. A razão par­tidária é que o mensalão não de­ve pautar as campanhas munici­pais do partido, como a oposição tenta emplacar. Há ainda a "ra­zão" dos advogados dos réus, preocupados com frases de efei­to que podem soar com tom de intromissão de poderes.

Durante os oito anos de gover­no Lula, o ex-seminarista Gilber­to Carvalho, o "padre""do grupo de petistas históricos, sempre foi visto como a segunda voz do presidente, que sempre transmi­tiu com fidelidade pensamentos e frases do amigo. Mas, o jeito afável e cordial sempre represen­tou mais um contraponto num partido acostumado a líderes ex­plosivos e temperamentais.

Agora, no julgamento do "ex- homem forte" do PT e do gover­no Lula, o "padre" é quem me­lhor pode expressar o que a maio­ria sente, diz outra pessoa próxi­ma de Lula. As eternas e sempre lembradas divergências de grupos, a obsessão demonstrada no passado por Dirceu em suceder Lula no governo e as contradi­ções de um líder que ao deixar o palácio após duas crises políti­cas (caso Waldomiro Diniz e mensalão) virou um homem de boas relações e bons negócios perderam sentido, observa um assessor influente do governo.

Para esse assessor, o fato con­creto é a condição de réu de um quadro forte de um partido hoje sem brilho, seja no Congresso, seja na direção da legenda e na organização da militância.

O que perturba os petistas his­tóricos não é a situação do "ex- poderoso" chefe da Casa Civil, do "capitão da equipe de Lula", do homem que, em 1° de janeiro de 2003, fez questão de subir a rampa do Planalto logo atrás do presidente eleito e do vice eleito, José Alencar.

Assessores observam que José Dirceu está para ser condenado por ministros da Corte compos­ta, em sua maioria, por pessoas escolhidas por Lula e Dilma.

Nas conversas informais, pe­tistas históricos gostam de res­saltar que é o PT que está no ban­co dos réus. E não demonstram ódio nas críticas que fazem ao STF. O drama de José Dirceu ma­chuca os históricos, mas é tam­bém motivo de conversas, como afirma um deles, para esquecer um drama que ninguém disfarça que parece doer ainda mais - a condenação do companheiro José Genoino, ex-deputado e ex- presidente da legenda.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Lula elogia voto de Lewandowski que livrou Dirceu e se surpreende com Rosa Weber e Fux


Ex-presidente pretende se manifestar ao fim da atual fase do julgamento no STF

Gustavo Uribe

SÃO PAULO Em conversas com amigos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou o voto do ministro Ricardo Lewandowski que absolveu o ex-ministro José Dirceu. Para Lula, o revisor foi claro e abordou "questões centrais" durante a sua exposição no STF.

O ex-presidente, que acompanhou pela televisão o julgamento de Dirceu anteontem, tem defendido que, nos autos do processo, não há provas contra o ex-ministro. Ele pretende se manifestar publicamente sobre o julgamento do escândalo político apenas após o fim da atual fase do processo. Lula, segundo dirigentes petistas, ficou surpreso com os votos dos ministros Rosa Weber e Luiz Fux, que acompanharam o relator Joaquim Barbosa e condenaram Dirceu.

Ontem, em evento do candidato Fernando Haddad (PT) na capital paulista, Lula não quis responder ao ser perguntado sobre o voto de Barbosa. Paulo Vannuchi, ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos, que assistiu a parte do julgamento anteontem com Lula, avaliou como impecável o voto de Lewandowski e afirmou que, caso os réus sejam condenados, deve-se "utilizar todos os recursos judiciais que restarem, em um processo inesgotável".

- A nossa avaliação, com todo o respeito à Suprema Corte e em relação aos seus integrantes individualmente, é de inconformismo e cabal discordância (com a condenação). E sustentação da tese de que, até agora, houve condenação sem provas - afirmou Vannuchi.

O ex-ministro disse achar que houve ministros do STF que votaram "baseados em indícios", e não em provas, o que cria "precedente perigosíssimo". Vannuchi criticou ainda o procurador-geral da República, Roberto Gurgel:

- O procurador-geral afirmou que quer que o julgamento intervenha no processo eleitoral. É a confissão do problema. Um Judiciário que não passa pelas urnas começa a decidir para influir nas urnas, justificando incompetência. São sete anos; ele poderia ter julgado um ano atrás ou deixado para novembro.

Fonte: O Globo

A defesa do STF - Merval Pereira


Entre os desserviços que o ministro Ricardo Lewandowski está prestando no julgamento do mensalão, talvez o mais nocivo seja a tentativa de desacreditar o STF nos seus comentários paralelos. Certa vez classificou o julgamento como "nada ortodoxo", sugerindo que estavam sendo esquecidas jurisprudências e relegadas medidas de proteção aos réus definidas na lei.

Ao anunciar, na abertura de seu voto que absolveria o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que se punha ao lado de "princípios fundamentais" do processo penal moderno, que se constituiu em "marco civilizatório importantíssimo, instrumento de defesa do cidadão contra o arbítrio do Estado", Lewandowski atirava sobre seus pares a suspeita de que não seguiam as mesmas regras ao condenar "inocentes" como o ex-presidente do PT José Genoino e Dirceu. Chegou a dizer "repudiar a perspectiva que considera o réu como inimigo". Esquecendo-se de que os réus, esses sim, representavam o "arbítrio do Estado", pois faziam parte fundamental do governo petista sob o qual a trama criminosa foi armada e executada, segundo a denúncia, a partir de gabinetes do Planalto.

A maioria do plenário, no entanto, demonstra estar bastante convicta de suas posições, sendo exemplo disso os resultados acachapantes das condenações. E, sempre que podem, os ministros rebatem as insinuações de que estariam flexibilizando a legislação, com inovações no julgamento que reduzem a garantia constitucional dos acusados.

O revisor disse, em seu voto de anteontem, que a maioria teria decidido pela desnecessidade da indicação do ato de ofício para provar-se a culpa de um réu, no que foi prontamente rebatido por Gilmar Mendes, que afirmou que o STF havia identificado, sim, atos de ofício dos políticos acusados de corrupção passiva: os votos e a participação em reuniões. E Celso de Mello lembrou que o Ministério Público "indicou que todo esse comportamento se realizou no contexto, pelo menos, de duas grandes reformas: a previdenciária e a tributária".

Da mesma maneira, a condenação do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha por corrupção passiva teve por base o dinheiro recebido de Marcos Valério, tendo o petista praticado o "ato de ofício" de convocar a licitação que resultou na vitória da agência do publicitário corruptor.

Rosa Weber, citada pelo revisor como adepta da tese da desnecessidade de identificação do ato de ofício, afirmou considerar que houve, sim, compra de votos. Ela citou autores para defender a tese de que um réu pode ser condenado mesmo à ausência de provas testemunhais ou de documentos. Chegou a dizer que os indícios "gritam nos autos". Também esclareceu sua posição sobre uma maior elasticidade na admissão da prova em caso de crimes dessa natureza, os "crimes de poder", "que em absoluto implica em qualquer flexibilização de garantias constitucionais aos acusados". Para ela, "o ordinário se presume. Só o extraordinário se prova. (...) se ocorrem fatos ou circunstâncias tão intimamente ligadas que chegam a formar um convencimento de que o acusado tenha cometido o crime, esses indícios também serão provas tão claras como a luz".

Luiz Fux lembrou acórdão da Suprema Corte de Portugal no sentido de que a prova nem sempre é direta. "Nós juízes nos valemos de regras de experiência. Será que nestas condições seria possível não saber?", ressaltou, lembrando que anteriormente Ayres Britto havia utilizado o mesmo raciocínio.

A sombra de Lula

Poucos notaram, mas na quinta-feira houve diálogo em que a figura do ex-presidente Lula esteve presente de maneira velada:

Lewandowski : Eu não via a prova. Eu gostaria de ver a prova. Estou dizendo que há uma prova frontalmente contrária

Marco Aurélio: Vossa Excelência imagina que um tesoureiro de um partido político teria essa autonomia?

Lewandowski: Ao contrário do que já foi dito, eu não acredito em Papai Noel, mas disse que é possível que eles tenham cooperado a mando de alguém, mas esse alguém precisa ser identificado.

Marco Aurélio: Esse alguém não estaria denunciado no processo?

Lewandowski : Não, não é isso...

Fonte: O Globo

A lógica política do 'mensalão' - Sergio Fausto


É cristalina a lógica política detrás dos crimes descritos na Ação Penal 470, que agora entra em fase decisiva de julgamento no Supremo Tribunal Federal. Só não a vê quem não quer ou não pode, por ingenuidade política ou cegueira ideológica.

A compra de apoio político de pequenos partidos foi a forma encontrada pela cúpula do governo Lula, ao início de seu primeiro mandato, para atingir três objetivos simultâneos: 1) Formar uma maioria parlamentar que a aliança eleitoral vitoriosa não assegurava; 2) formá-la sem uma efetiva partilha do poder político com o PMDB, o maior partido no Congresso; e 3) preservar para o PT o maior espaço possível na ocupação do aparelho do Estado.

Quem acompanha a vida política brasileira há de se lembrar de que José Dirceu havia costurado um acordo preferencial com o PMDB, recusado por Lula, sob o argumento de que ele se tornaria refém do maior partido no Congresso. Há de se lembrar também de que os partidos beneficiados pelo dinheiro do "valerioduto" praticamente dobraram o tamanho de suas bancadas na Câmara. Há de se lembrar ainda que o primeiro Ministério do governo Lula se caracterizava tanto pela sobrerrepresentação do PT quanto pela sub-representação do PMDB, quando comparados os postos ministeriais e cargos de direção em estatais e agências reguladoras ocupados por representantes desses partidos com o tamanho de suas respectivas bancadas no Congresso.

É falso dizer que o "mensalão" faz parte da lógica política do presidencialismo de coalizão no Brasil. O funcionamento "normal" deste supõe que o presidente construa e mantenha a sua maioria parlamentar valendo-se da nomeação de representantes dos partidos aliados para cargos no governo, bem como da liberação preferencial das emendas parlamentares dos membros da base aliada. Coisa bem diferente é a compra de apoio político-parlamentar mediante paga em dinheiro.

A mais importante das diferenças está em que os mecanismos "normais" de formação e manutenção da maioria parlamentar são públicos e, portanto, passíveis de controle e crítica pela sociedade. Basta ler o Diário Oficial e acompanhar as votações no Congresso com atenção. Fazem esse papel as oposições e a imprensa, entre outros. Os atos e contratos que decorrem das nomeações para o Executivo e liberações de emendas parlamentares estão sob o domínio da lei e o crivo dos órgãos de controle interno e externo do Executivo.

Já a compra literal de apoio é, por definição, uma operação subterrânea, que se sabe criminosa e por isso busca evadir-se de qualquer controle público. Ela incha a face oculta do governo e engorda vários negócios ilícitos, uma vez que esquemas de mobilização e distribuição ilegal de recursos acabam por servir, naturalmente, a múltiplos propósitos.

O padrão "normal" de funcionamento do presidencialismo de coalizão no Brasil está longe do "ideal". É possível aperfeiçoar o sistema e necessário insistir em que as coalizões tenham maior consistência programática. As críticas ao padrão "normal" não devem, porém, obscurecer a singular degradação a que a compra de apoio mediante paga representa para o presidencialismo de coalizão, em geral, e para a representação parlamentar, em particular. Com a operação de compra e venda o Executivo sequestra o mandato recebido pelo parlamentar e viola o princípio de que este representa os interesses de seus eleitores. Se no padrão "normal" o apoio vem em troca da construção de uma ponte, por exemplo, na relação de compra e venda os únicos interesses representados são os dos partícipes do intercâmbio político-comercial.

Ao degradar a representação parlamentar, o "mensalão" reflete uma certa concepção sobre o sistema representativo. Segundo essa concepção, a "vontade popular" só encontra expressão verdadeira e genuína no presidente da República. Tal ideia tem larga tradição doutrinária, dentro e fora do Brasil, à esquerda e à direita. Ela encontra eco na célebre afirmação feita por Lula em 1993 de que o Congresso seria composto por uma maioria de "300 picaretas". Dizer que o "mensalão" tem raiz doutrinária seria ridículo. É certo, entretanto, que ele revela o desapreço de seus autores pela instituição da representação parlamentar, como se esta fosse uma parte menor do regime democrático.

Além de crime, o "mensalão" foi um erro. A ideia de que seria possível operar tal esquema sem deixar traços e sem se expor a enorme risco demonstra um misto de amadorismo e arrogância de quem o concebeu e operou. Indica também a resistência a um efetivo compartilhamento do poder por parte de um partido que se havia aberto às alianças eleitorais, mas relutava a ceder espaços na ocupação do aparelho do Estado, uma vez conquistado o governo. Lula aprendeu com o erro, embora continue a reiterar a tese de que não houve crime. E aprendeu rápido.

No calor da hora, ao mesmo tempo que ventilava a tese do "caixa 2" para fazer frente ao escândalo, o então presidente tratou de incorporar o PMDB plenamente ao seu governo e à aliança eleitoral que o levaria à reeleição em 2006. Governou em seu segundo mandato com a mais ampla base de partidos da história do presidencialismo de coalizão no Brasil até aquele momento. Depois do susto, deu-se a exacerbação do "padrão normal".

Não se trata aqui de demonizar o personagem, muito menos de indigitar culpados. Faço apenas um raciocínio político com base nos fatos conhecidos. Nesse passo, chega-se à conclusão de que a compra de apoio derivou de uma escolha política tomada no alto comando do governo para assegurar a "governabilidade" sem impor maior restrição às pretensões hegemônicas do PT.

Ao que tudo indica, com o "mensalão" o chefe da Casa Civil tratou de dar consequência prática às preferências do presidente da República. Resta saber se Lula tinha conhecimento e/ou interveniência de algum tipo no esquema montado para a compra sistemática de apoio político ao seu governo.

Diretor Executivo do iFHC; membro do GACINT-USP

Fonte: O Estado de S. Paulo

Uma questão de ceticismo - Hélio Schwartsman


É possível construir um bom caso filosófico em favor do solipsismo, a doutrina metafísica segundo a qual eu devo acreditar apenas na existência de minha própria mente. O mundo exterior, se de fato existe, é-nos incognoscível.

No polo oposto, encontramos aquelas pessoas, em geral muito sociáveis, que creem em tudo, de Papai do Céu a UFOs, passando por chakras e teorias conspiratórias. Um elemento importante de nossa personalidade é o nível médio de ceticismo que aplicamos à realidade externa.

É nesse contexto que eu estranho o voto do ministro Ricardo Lewandowski pela absolvição dos Josés Dirceu e Genoino. Seria logicamente aceitável exibir desde o início do julgamento, ou, melhor ainda, da carreira de magistrado, uma posição garantista intransigente, exigindo do Ministério Público que demonstrasse de forma matemática a culpa do réu antes de condená-lo.

Provas assim fortes, porém, são, se não impossíveis, ao menos uma raridade, de modo que encontramos poucos juízes adeptos dessa escola hipercética. De modo geral, eles se contentam com a fórmula "culpado além da dúvida razoável". A subjetividade encerrada no termo "razoável" complica as coisas, mas não chega, segundo a maior parte dos doutrinadores, a inviabilizar o Direito. O magistrado condena o réu quando se sente convencido pelo conjunto probatório e, do contrário, o absolve. Processos costumam trazer provas para os dois lados, de modo que não é difícil montar uma argumentação racional para justificar qualquer posição que se queira seguir.

O problema com Lewandowski é que ele aplica diferentes níveis de ceticismo ao longo do mesmo julgamento. Se é verdade que não chegou a ser um crédulo "new age" quando os réus eram figuras menores, ele parece adotar uma exigência quase solipsista quando se discute a situação dos protagonistas. É justamente esse ruído que chama a atenção.

Fonte: Folha de S. Paulo

Em BH, Lacerda lidera com vantagem de 12,6 pontos


Segunda rodada da pesquisa do Instituto MDA em parceria com o Estado de Minas mostra que o prefeito Marcio Lacerda subiu de 44,3% para 46,6% das intenções de voto e chega à véspera da eleição com boa dianteira sobre o petista Patrus Ananias, que avançou de 30,8% para 34%. A sondagem foi feita nos dias 3 e 4 com 1.053 entrevistados. Vanessa Portugal (PSTU) aparece com 2,4%, mesmo percentual de Maria da Consolação (PSOL). Os demais candidatos juntos têm 0,5%. Brancos e nulos passaram de 9,6% para 9%, enquanto os indecisos caíram de 13% para 5,1%. O levantamento indica que Lacerda teria 54,3% dos votos válidos, suficientes para ser reeleito no primeiro turno, contra 39,6% de Patrus

Lacerda mantém vantagem

Pesquisa MDA/Estado de Minas mostra que prefeito candidato à reeleição tem uma frente de 12,6 pontos sobre Patrus Ananias

Juliana Ciprianie Isabella Souto

O prefeito Marcio Lacerda (PSB) chega à véspera da eleição com uma dianteira de 12,6 pontos percentuais sobre o principal adversário, o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias (PT). A vantagem pode garantir a reeleição de Lacerda já no primeiro turno. Na segunda rodada de pesquisa do Instituto MDA em parceria com o Estado de Minas,realizada nos dias 3 e 4 com 1.053 entrevistados, o socialista teve 46,6% das intenções de voto contra 34% do petista. Os números sugerem que o comício da presidente Dilma Rousseff em BH no dia 3 não teve o efeito esperado pelo PT. O levantamento foi registrado sob o número MG 01160/2012 e tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos. Os dois primeiros colocados cresceram em relação à pesquisa feita em 11 e 12 de setembro. Lacerda oscilou positivamente de 44,3% para 46,6%, aumentando dois pontos, e Patrus foi de 30,8% para 34%, uma diferença de 3,2 pontos percentuais.

A professora Vanessa Portugal (PSTU), que tinha 1,5% da preferência,passou a 2,4%, e os demais candidatos, que haviam somado menos de um ponto percentual juntos na primeira rodada, conseguiram um melhor desempenho. A também professora Maria da Consolação (PSOL) conquistou 2,4% das intenções de voto, Alfredo Flister (PHS) 0,4% e Pepê (PCO) 0,1%. Tadeu Martins (PPL) ficou com 0%. Eleitores que pretendem votar em branco ou nulo passaram de 9,6% em setembro para 9% em outubro e os indecisos foram reduzidos de 13% a 5,1%. Excluindo os votos brancos e nulos, Lacerda teria hoje 54,3% e Patrus 39,6% dos chamados votos válidos, que são aqueles proclamados como resultado pela Justiça Eleitoral. Em seguida aparecem Vanessa Portugal e Maria da Consolação com 2,8% cada, Alfredo Flister com 0,4% e Pepê com 0,1%. Os eleitores de Marcio Lacerda são mais fiéis: 83,9% afirmaram que a escolha é definitiva e 16,1% admitem a possibilidade de mudar o voto. No caso de Patrus, 78,8% disseram que não pretendem mudar o voto amanhã, enquanto 21,2% ainda não dão certeza de digitar o número do petista. Para o diretor do MDA Pesquisa, o quadro de evolução em relação ao último levantamento é estável. “A tendência é pela reeleição do Marcio Lacerda, mas Belo Horizonte é a capital do pânico dos institutos de pesquisa, pois tem um histórico de mudança de última hora no comportamento do eleitorado”, disse. Para o pesquisador, com o crescimento, ainda que pequeno dos nanicos (eles já chegam a 6%), há uma pequena chance de a disputa chegar ao segundo turno em 28 de outubro.

Além de liderar a pesquisa, Marcio Lacerda conta com a rejeição a seu principal adversário,Patrus, que atingiu 30,5%, a maior entre os sete candidatos. Lacerda teve 28,4 % de rejeição e ainda tem a seu favor uma avaliação positiva de seu governo: 54,3% dos entrevistados consideram sua gestão como ótima ou boa. Aqueles que a classificaram como ruim ou péssima somaram 14%. Para outros 30,6% a administração do socialista é regular e 1,1% não soube avaliá-la. Na análise do perfil do eleitorado dos candidatos, Lacerda lidera a disputa em todas as cinco faixas etárias, quatro níveis de renda e três de escolaridade. Na divisão de Belo Horizonte por setores residenciais, o prefeito perde a disputa apenas na Região Oeste, onde o petista assume a frente com 46,3% das intenções de voto e Lacerda foi apontado por 35,8%. A maior distância entre os dois principais candidatos foi registrada em Venda Nova: 56% escolheram Lacerda e23,3% votam em Patrus.

Fonte: Estado de Minas

Aécio rebate presidente: "Onde a mineira Dilma vai votar?"


Reforço e farpas na reta final

Lacerda destaca peso das propostas para definir as eleições,durante caminhada com Anastasia e Aécio. Senador ironizou discurso de Dilma

Marcelo da Fonseca

Ao lado dos principais cabos eleitorais – governador Antonio Anastasia (PSDB) e senador Aécio Neves (PSDB) –na campanha para a reeleição à Prefeitura de Belo Horizonte, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) escolheu o Centro da capital mineira para fazer o penúltimo evento da disputa. Em caminhada na tarde de ontem pela Avenida Afonso Pena, entre a Praça da Rodoviária e a Praça Sete, o socialista cumprimentou moradores e comerciantes e ressaltou a característica propositiva de sua campanha. Apesar de o prefeito ter minimizado os efeitos dos embates entre Aécio Neves e a presidente Dilma Rousseff (PT), afirmando que serão as questões municipais que definirão o resultado das urnas, a disputa que poderá se repetir em 2014 na eleição para a Presidência da República voltou à cena, com o tucano criticando a petista. “Fiquei muito honrado com a presidente ter deixado Brasília e vindo aqui responder minhas indagações. Só lamento que ela tenha precisado de uma cola para lembrar quais são as reivindicações de Minas”, provocou Aécio. O senador rebateu as críticas feitas pela presidente na quarta-feira, durante comício do candidato Patrus Ananias (PT). No evento petista, Dilma criticou Aécio por classificá-la de “estrangeira” e afirmou que deixou BH por causa da luta contra a ditadura. “Essa história de que Minas tem dono, de que BH tem dono, é um desrespeito ao eleitor de BH. Ela se esqueceu que a cidade tem um prefeito que é muito bem avaliado pela população. Eu tenho uma curiosidade muito grande de saber onde é que a mineira Dilma Rousseff vai votar no próximo domingo”, ironizou o tucano.

O domicílio eleitoral da presidente é Porto Alegre. Lacerda, no entanto, preferiu minimizar o embate entre Dilma e Aécio e manteve sua estratégia de campanha, apresentando as obras que foram entregues nos últimos anos e outras que estão em andamento, confiante de que a eleição será decidida no domingo. “Não acho que isso (a nacionalização da campanha) vai interferir no voto do cidadão. A questão municipal, as questões do dia a dia das pessoas é que regem o voto. Nós estamos falando é de 2012. Para 2014 ainda falta muito tempo”, disse Lacerda.

O evento de ontem, que segundo estimativa dos organizadores levou mais de 2 mil pessoas para a caminhada no Centro da capital, gerou uma grande confusão no trânsito durante o início da tarde, uma vez que a Avenida Afonso Pena ficou completamente interditada por quase uma hora, até que uma das pistas foi reaberta. “Não é a primeira vez que uma mobilização assim acontece. É uma tradição na reta final de campanha, que a população compreende”, disse o prefeito. Lacerda fez ainda uma avaliação de sua campanha. “Nesta caminhada em direção ao coração da cidade temos a consciência tranquila de que mostramos aos belo-horizontinos as melhores propostas para BH. Mostramos resultados indiscutíveis e que são percebidos pela população, com avanços em todas as áreas”, afirmou.

Mensalão

Perguntado sobre eventuais efeitos eleitorais do julgamento do processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Aécio Neves afirmou que não vê o processo como decisivo para o pleito municipal, mas aproveitou a oportunidade para alfinetar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também participa da campanha de Patrus Ananias. “Eleição municipal é decidida pelas questões locais, pela qualidade dos candidatos. Obviamente que isso não faz bem para o PT. Lamentavelmente a presidente Dilma ficou de alguma forma parecida com o ex-presidente Lula nesta reta final de campanha. Na desqualificação e agressividade do adversário”, afirmou Aécio. Hoje, pela manhã, Lacerda fará caminhada em dois dos maiores colégios eleitorais de BH: Venda Nova e Barreiro.

Fonte: Estado de Minas

No Rio de Janeiro, tráfico cobra até R$ 50 mil para candidato fazer campanha


Em Itaboraí, negociação incluiu construção de quadra; milicianos também criaram "pedágio"

Vera Araújo, Marcelo Remígio

Milicianos e traficantes estão cobrando de R$ 30 mil a R$ 50 mil, ou mesmo obras, para que candidatos a prefeito e vereador façam campanha em seus redutos. Pelo menos em sete favelas, dois complexos - Maré e Manguinhos - e quatro conjuntos habitacionais das zonas Oeste e Norte do Rio, além de Itaboraí, Niterói, Belford Roxo, Nova Iguaçu e Duque de Caxias, já há casos, de acordo com levantamento feito junto aos partidos. Ontem, na favela da Reta Velha, onde, de acordo com o juíz da 151ª Zona Eleitoral de Itaboraí, há 19 mil eleitores, foi feita uma megaoperação com fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) e policiais civis para retirar material irregular de campanha e prender seis traficantes suspeitos de extorquir dinheiro de candidatos.

Desde que o juiz eleitoral Marcelo Villas esteve na Reta Velha pela primeira vez, há um mês, ele identificou que apenas um candidato a prefeito e cinco a vereador tinham propaganda na localidade. O fato levou a um inquérito na Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DH), que corre em segredo de Justiça, para apurar a venda de espaço a candidatos para propaganda. As investigações constataram que os traficantes negociaram, em troca de votos e do livre acesso à favela, a construção de uma quadra poliesportiva na comunidade com emissários que seriam ligados à prefeitura de Itaboraí.

Entre os mais de 20 depoimentos prestados por testemunhas à delegacia sobre o caso, o do proprietário da empresa GCI Estruturas Metálicas - cujo nome está em sigilo -, responsável pela obra, já embargada pelo juiz, é o mais contundente. Segundo o depoimento, ele foi procurado por uma funcionária do município, que lhe propôs a construção da quadra. Em troca, a emissária prometeu beneficiar a empresa dele em licitações, caso o candidato que ela representava fosse eleito. Ele aceitou a "parceria", comprovada por uma nota fiscal no valor de R$ 27 mil, para a compra de material. À polícia, ele afirmou que foi instruído a dizer que a obra era doação.

Outra evidência no inquérito é a troca de e-mails, rastreados com autorização judicial, entre a empreiteira e o esquema, em que se combina a cotação da obra de forma cifrada. A quadra foi o passaporte para a entrada na área dominada pelo tráfico. Quem não pagou o "pedágio" foi proibido de colocar material de campanha. Até os moradores foram impedidos de manter placas de seus candidatos, e cabos eleitorais proibidos de entrar na favela.

Juiz interdita quadra

Uma testemunha, moradora da Reta Velha, contou, em detalhes, que os traficantes só autorizam a entrada de políticos que aceitem as regras: "os políticos pagam em torno de R$ 30 mil ao chefe do tráfico, e parte do dinheiro é aplicada na própria favela, como a quadra poliesportiva que está sendo construída". No inquérito, há referências a líderes comunitários. Um deles já foi preso por tráfico.

A ação de ontem foi chefiada por Villas, que percebeu que desta vez os traficantes estavam recortando placas e retirando fotos dos candidatos que não negociaram o espaço.

- Nas quatro incursões, só encontramos placas de um candidato a prefeito e de cinco vereadores. Em outras favelas do município, chegamos a ver propaganda de mais de 50 candidatos. É claro que ninguém doa uma quadra, por isso interditei a obra. Também mandei fechar a associação de moradores - explicou o juiz, que ontem apreendeu uma agenda do tráfico com nomes de políticos: - Foi a última operação, e vencemos a resistência do tráfico.

Segundo o titular da DH, Wellington Vieira, os envolvidos podem responder por abuso de poder político e econômico e captação de votos:

- A polícia vai concluir a investigação e apresentar o relatório final na semana que vem.

A cobrança por parte de traficantes ou milicianos para o livre acesso também ocorre na capital, Baixada e Região Metropolitana. O valor é definido segundo a densidade eleitoral. Em favelas de Manguinhos, a tabela imposta por traficantes vai de R$ 25 mil a R$ 30 mil. Já em áreas da Maré, o acesso e a instalação de placas podem chegar a R$ 50 mil.

Fonte: O Globo

Em Manaus, disputa deve ir para 2º turno


Juíza proíbe colunista do GLOBO de usar em blog imagens de senadora

MANAUS - A disputa pela prefeitura de Manaus (AM) chega amanhã empatada entre os dois principais candidatos, o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB) e a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB). De acordo com pesquisa Ibope/Rede Amazônica divulgada ontem, o tucano tem 31% das intenções de voto, contra 29% da comunista. A margem de erro é de três pontos percentuais.

Virgílio oscilou dois pontos para cima em relação à última pesquisa Ibope, divulgada no dia 20 de setembro, quando registrou 29%. Já a candidata do PCdoB ficou no mesmo patamar. Os dois devem disputar o segundo turno, dia 28. A pesquisa foi realizada entre 3 e 5 de outubro, com 805 entrevistados. A pesquisa está registrada no TRE sob o número 00042/2012.

Por decisão judicial, o colunista do GLOBO Ricardo Noblat foi obrigado a retirar de seu blog todas as fotos alusivas à senadora e candidata a prefeita de Manaus, Vanessa Grazziotin (PC do B). O decisão está ligado ao relato de uma agressão sofrida por Vanessa. Ao chegar para um debate de candidatos em uma emissora de TV em Manaus, Vanessa teria sido atingida por um ovo. O blog de Noblat relatou, porém, que fotografias do episódio divulgadas nas redes sociais mostravam que não fora um ovo, mas uma cusparada, que atingiu a senadora.

A senadora argumenta que as imagens do blog fazem parte de uma campanha contra sua candidatura. Em protesto contra a decisão da juíza Naira Neila Batista de Oliveira Norte, coordenadora da propaganda eleitoral, no lugar das fotografias de Vanessa, Noblat reproduz, em diversos posts, uma imagem com seguinte inscrição: "Censura não".

Fonte: O Globo

Eleição nunca teve tantos partidos com chance nas capitais


A disputa pelas prefeituras nas 26 capitais pode resultar num fracionamento partidário inédito. Segundo pesquisas recentes, 16 partidos têm candidatos competitivos e podem vencer, informa Fernando Rodrigues. Em 2008, na reta final, só 11 legendas possuíam candidatos bem posicionados -dez saíram vencedoras. Neste ano, há vários representantes de partidos nanicos.

Partidos pequenos ganham competitividade nas capitais

Hoje, 16 partidos podem eleger prefeitos nas 26 capitais, contra 11 em 2008

As siglas tradicionais ainda lideram: o PSDB tem 11 nomes com possibilidade de vencer, enquanto o PT tem sete

Fernando Rodrigues


SÃO PAULO - Há hoje um cenário que pode resultar num fracionamento partidário inédito nas disputas por prefeituras das 26 capitais brasileiras: segundo as pesquisas mais recentes, 16 partidos têm candidatos competitivos e podem sair vencedores nessas eleições.


Em 2008, nesta mesma época, só 11 partidos estavam com candidatos bem posicionados nas eleições de prefeitos em capitais. Ao final, dez agremiações acabaram vencendo nessas cidades -o que já representou a maior dispersão partidária desde o fim da ditadura militar nos anos 80.

Agora, quando se olha a lista de candidatos que estão no páreo, enxergam-se vários casos de representantes de partidos nanicos. O mais evidente é o PRB (Partido Republicano Brasileiro) de Celso Russomanno em São Paulo.

Mas há Ratinho Júnior, do PSC (Partido Social Cristão), à frente em Curitiba. Edmilson Rodrigues, do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), em Belém. César Souza Jr., do PSD (Partido Social Democrático), em Florianópolis.

O mais provável é que muitos candidatos de siglas nanicas -ou novatas, como o PSD- acabem tendo dificuldades e não saiam vencedores. Mas o fato de terem chegado à reta final é um sinal de que um universo partidário mais horizontal está se cristalizando no país.

No final dos anos 90 houve uma tendência oposta, pois o Congresso havia aprovado uma lei que restringia a atuação de partidos com desempenho ruim nas eleições para deputado federal -era a chamada cláusula de desempenho ou barreira. Mas o Supremo Tribunal Federal derrubou o dispositivo em 2006. A partir daí, o número de siglas passou a aumentar.

O Brasil tem hoje 30 partidos políticos. O que causou maior impacto foi o PSD, idealizado pelo prefeito paulistano, Gilberto Kassab. Ao ser criado também construiu uma tese vitoriosa na Justiça: deputados, senadores, prefeitos ou outros políticos eleitos podem se filiar a uma nova agremiação, manter o mandato e levar para a nova legenda seus votos -isto é, o tempo de TV e rádio e o dinheiro do Fundo Partidário.

No quadro das capitais, entretanto, os partidos tradicionais são ainda preponderantes no ranking de candidatos competitivos. O PSDB tem 11 nomes com possibilidade de vencer em capitais. O PT vem em segundo com 10 nomes. Depois aparecem PSB (6), PMDB (6), PDT (5) e DEM (3).

Fonte: Folha de S. Paulo

PT e PSDB lideram nas grandes cidades


Pesquisas em 82 dos 85 dos maiores municípios mostram petistas com chances em 33 e tucanos, em 30 deles

Dados ainda não revelam crescimento significativo do PSB, mas expõem perda do DEM com o PSD

SÃO PAULO - Tucanos e petistas são os que estão com chances de vencer ou de ter votações expressivas na maior parte das cidades grandes do país.

É o que mostram as pesquisas mais recentes no grupo de municípios que incluem 26 capitais e os 59 com mais de 200 mil eleitores -e por isso podem ter segundo turno.

Esse grupo composto por 85 grandes cidades abriga cerca de 37% dos eleitores do país. Há pesquisas disponíveis em 82 dessas localidades. Nesse universo, o PT tem 37 candidatos competitivos: estão em primeiro lugar ou com chance de ir ao segundo turno. O PSDB tem 31 candidatos nessa situação.

O terceiro colocado nesse ranking é o PMDB (22 candidatos no páreo), seguido pelo PDT (15) e pelo PSB (13).

Quando se compara o cenário atual com o de 2008, também na semana final pré-eleição, nota-se que houve pouca mudança na ordem de partidos que lideram a lista de nomes competitivos.

Há duas alterações relevantes. Primeiro, o PSDB se mostra hoje mais bem posicionado do que em 2008. Segundo, o DEM agora está em posição mais frágil, pois cerca de metade de seus potenciais nomes competitivos migraram para o PSD.

No universo das maiores cidades, em 2008, o PT tinha menos do que hoje, 33 candidatos no páreo. Já o PSDB estava com apenas 20 nomes -dez a menos que os atuais.

Ao fim da eleição há quatro anos, o PT elegeu 22 prefeitos. O PSDB teve 13 eleitos nesses grandes centros.

Nos caso de os prognósticos atuais se confirmarem nas urnas amanhã, não ficará comprovada a tese de que o PT estaria sendo expelido dos grandes centros urbanos. Também não se enxerga ainda um crescimento significativo do PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, um possível candidato presidencial em 2014.

O PSB tinha nesta época em 2008 apenas seis candidatos competitivos. Venceu em cinco cidades grandes. Hoje, tem 13 nomes no páreo nos centros urbanos. Mesmo que vença em todos, estará ainda bem distante de tucanos e de petistas.

Ainda que PT e PSDB não vençam em todas as cidades nas quais aparecem com chances, as pesquisas até agora mostram que as duas siglas terão muitos votos em municípios importantes, que irradiam opinião pelas suas regiões. Trata-se de patrimônio relevante, pois os votos de hoje indicam a força potencial das legendas em 2014.

O partido que tem sido o campeão em prefeitos eleitos em todo o país é o PMDB. Mas nas grandes cidades essa legenda sofreu durante várias eleições até chegar a 19 prefeitos em 2008. Nas disputas de amanhã, há 22 peemedebistas com chances.

Dispersão partidária

Outro dado a observar: no grupo das 85 cidades mais relevantes há hoje um número maior de partidos com candidatos competitivos em relação a eleições passadas.

São 18 as legendas com chances de eleger prefeitos em capitais ou cidades com mais de 200 mil eleitores. Nunca mais do que 13 partidos tiveram sucesso nessas localidades desde o fim da ditadura militar.

Essa tendência aparece não importa o recorte que se faça. Nas capitais de Estado também ocorre esse fracionamento. Se as urnas confirmarem as pesquisas, o Brasil estará assistindo à consolidação de um quadro de agremiações políticas mais disperso.

Fonte: Folha de S. Paulo

Candidatos elevam tom em eleição indefinida


Na antevéspera do primeiro turno da eleição para a Prefeitura de SP, os candidatos não pouparam ataques aos adversários. Celso Russomanno (PRB) usou carros de som para chamar Fernando Haddad (PT) de mentiroso. "O Haddad vem mentindo quando diz que vou aumentar o preço da passagem", diz o candidato na gravação. José Serra (PSDB) também investiu contra o petista, comparando o uso do espaço da propaganda de vereadores no último dia de horário eleitoral de TV, anteontem, a uma afronta à Justiça, como "o mensalão". "Parece desproporcional, mas o que houve foi uma transgressão frontal e acintosa às regras legais vigentes", disse. Haddad deixou os ataques por conta do ex-presidente Lula, que chamou Serra de "frágil", porque "qualquer coisa o machuca", em referência ao fato de o tucano ter sido atingido por uma bola de papel em 2010

Russomanno se blinda; campanhas de Serra e Haddad se atacam na reta final

Ricardo Chapola, Eruno Boghossian, Bruno Lupion

Nos passos finais antes do pri­meiro turno da campanha pela Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (PRB) usou car­ros de som para voltar a cha­mar o adversário Fernando Haddad (PT) de "mentiroso". José Serra (PSDB) também in­vestiu contra o petista, compa­rando o uso do espaço da pro­paganda de vereadores no últi­mo dia de horário eleitoral de TV, anteontem, a uma afronta à Justiça tal qual "o mensa­lão". Já Haddad deixou os ata­ques para seu padrinho políti­co, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou o candidato tucano de "frágil".

Tanto ontem quanto hoje, vés­pera da eleição, os candidatos têm de respeitar uma série de res­trições da Justiça Eleitoral .

Russomanno, que está em que­da nas pesquisas, abandonou on­tem uma carreata realizada na zona leste. Ele não desceu do ji­pe para cumprimentar eleitores, como costuma fazer, e também não quis conceder entrevista.

A assessora de imprensa do candidato do PRB disse que ele tinha compromissos particula­res, motivo pelo qual não com­pletou o percurso previsto.

Ficaram seus carros de som alardeando a seguinte mensa­gem: "Oi, aqui é Celso Russo­manno. Posso falar com você so­bre transporte público? O Had­dad vem mentindo quando diz que vou aumentar o preço da pas­sagem", diz a gravação, com a voz do candidato. "O Haddad vem mentindo quando diz que vou aumentar o preço da passa­gem. A verdade é que vou redu­zir. O Bilhete Único vai conti­nuar o mesmo, R$ 3, valendo por três horas. Eu vou reduzir o pre­ço e, se você andar menos, paga menos. E ainda o ônibus vai ter ar-condicionado. Posso contar com o seu voto?", diz, no fim da gravação, repetida a cada 30 se­gundos pelos carros de som.

As críticas sobre a proposta de criar uma tarifa proporcional à distância percorrida é vista den­tro do próprio QG de Russoman­no como o principal motivo da queda nas pesquisas do candida­to. Segundo os adversários, Haddad à frente, a tarifa proporcio­nal pesaria no bolso de quem mo­ra na periferia - que pagaria o va­lor inteiro de R$ 3. Os descontos para quem percorre um caminho menor teriam de ser bancados pe­los cofres públicos municipais.

No Shopping Center Norte, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Serra comparou o uso do horário eleitoral na TV de candidatos a vereador pelas cam­panhas de Haddad e Gabriel Chalita (PMDB) ao escândalo do mensalão, em julgamento no Su­premo Tribunal Federal. Os ad­vogados do tucano pediram à Jus­tiça Eleitoral que todos os outros " candidatos tivessem direito a até 1 minuto cada em um bloco de propaganda extra, que seria exibido hoje. O pedido foi negado.

"O sistema judiciário é um sis­tema forte, que tem que ser res­peitado. O mensalão é uma deri­vação disso. Parece despropor­cional, mas o que houve foi uma transgressão frontal e acintosa às regras legais vigentes", disse.

O tucano classificou como "mais gritante" o uso de parte do programa de candidatos a verea­dor do PT. A prática é proibida pela Justiça Eleitoral, que costu­ma aplicar como punição a per­da de tempo na transmissão se­guinte. aIsso é gravíssimo e eu acho muito importante que haja uma reparação como elemento de preservação de regras da Justi­ça", disse o candidato do PSDB.

Comício. No evento de Haddad ontem na Praça da Sé, no centro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou o candidato tu­cano. Para isso, lembrou o episó­dio em que Serra disse ter se sen­tido meio "grogue" ao ser atingi­do por um objeto numa caminha­da no Rio de Janeiro, durante a campanha presidencial de 2010.

"A gente não pode aceitar ne­nhuma provocação, porque nós sabemos que tem muito candida­to aí que até uma bolinha de pa­pel que alguém jogou na cabeça dele ele diz que foi uma agressão e culpa o PT", afirmou Lula. "En­tão, por favor, nada de brincar com bolinha de papel, nada de brincar de bolinha de isopor, na­da. Apartir de agora, nem bolinha de sabão vocês podem fazer", afir­mou o ex-presidente, que, em tom de deboche e sem citar ex­pressamente o nome do adversá­rio, disse que Serra é "frágil". "Qualquer coisa o machuca."

Lula ainda afirmou que a elei­ção paulistana é a "mais compli­cada" da qual ele já participou na cidade, pois "há um embolamento". O ex-presidente afirmou que Haddad será o mais votado no primeiro turno. O candidato petista disse ter "confiança" em chegar ao segundo turno.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O "queixo de vidro" - Carlos Melo


Modernos instrumentos de sondagem eleitoral fazem com que as pesquisas de intenção de voto assumam centralidade muitas vezes descabida. Partidos, candidatos e eleitores movem-se em torno delas, que se transformam em elementos de propaganda eleitoral. Mas, um surrado clichê parece mesmo fazer sentido: a pesquisa que vale é a das urnas, no dia da eleição. Fora disso, pesquisas são como fotos, retratam o momento. Eleição é filme, permanente movimento.

No filme desta eleição, José Serra ponteou inicialmente e surgiu como favorito. Mas suas dificuldades são maiores que o esperado; o recall é o das promessas não cumpridas fazendo carregar um quase recorde de rejeição. Depois, Celso Russomanno disparou, aproveitando-se do fastio com a disputa PT X PSDB, deu vigorosa largada. Mas, sangra, agora, na linha de chegada. Paralelamente, Fernando Haddad, apesar dos padrinhos e da TV, patina abaixo dos índices PT, talvez porque o PT não seja mais o mesmo.

Ao final, o clímax da fita é o despencar de Russomanno. É um corpo que cai. Serra e Haddad estão por um focinho; e até Gabriel Chalita começou se deslocar com alguma esperança. Tudo ficou imprevisível. Na vertigem dos números, não se sabe quem irá ao segundo turno. O passaporte de Russomanno estava carimbado, mas tudo caminha para que lhe cancelem o visto.

Difícil explicar, mas é necessário compreender. Em primeiro lugar, nada indica que o cansaço com PT e PSDB tenha sido superado. Mesmo que Serra e Haddad ultrapassem Russomanno, somam menos da metade do eleitorado. Ademais, Gabriel Chalita tem crescido com um discurso de outsider. Em que pese o tamanho de suas máquinas, a maioria ainda não vê PT e PSDB como alternativas.

Então, o que pode ter se passado para que movimentação tão expressiva ocorresse e o candidato do PRB desidratasse tanto e tão rápido?

Celso Russomanno navega nas águas do conservadorismo e da religião. Mas, dizer que são os conservadores que o abandonaram ou que foi a ação da Igreja Católica que o afetou reduz a abrangência do fenômeno; José Serra, mais palatável a esses setores, não tem subido na proporção da queda de Russomanno. Há também os ressentidos com o mercado, que buscam no astro da TV uma espécie de Procon pessoal: não houve conflito nem candidato que se aventurasse por essa vereda. Esse público ainda lhe parece fiel.

Sobra-nos o enorme segmento dos carentes de políticas públicas, altamente dependente da ação do Estado. E, nesse campo, houve, sim, um fato: salvo engano, foi no debate da TV Gazeta que Fernando Haddad descobriu e acertou o "queixo de vidro" de Russomanno: apontando a inconsistência de sua tarifa proporcional, deixou patente que o adversário não entendia do riscado. A partir de então, houve uma avalanche de críticas: o candidato do PRB perdeu a majestade.

Para não dar o braço a torcer, Russomanno insiste na qualidade de suas "teses" (sic); o faz com incomum veemência. Mas, ao mesmo tempo, procura coordenador respeitável para seu eventual plano de governo. A insistência e a virulência com que se defende nessa área revelam mais do que ocultam: o gancho no queixo o deixou atordoado.

Pesquisas qualitativas poderão demonstrar se a hipótese se sustenta; o quanto a preocupação com a qualidade das políticas públicas pode, realmente, influenciar um determinado tipo de eleitor, fazendo-o mover-se para portos mais seguros: as políticas públicas de Serra e do PT podem não ser solução, mas ao menos foram testadas.

A carência de boas políticas públicas não é novidade em São Paulo. Todavia, que uma parte da população supere ideologias e conflitos, buscando resguardar interesses mais imediatos, isto, sim, parece notável numa campanha que se esmerava pelo personalismo. Ainda que não se trate de politização, o pragmatismo não deixa de ter valor. Talvez as cenas do próximo capítulo insinuem algum avanço.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Em Recife, suspense até a última hora


Pesquisa do Instituto Maurício de Nassau/JC, baseada nos votos válidos, deixa em aberto se a eleição para prefeito do Recife será decidida em primeiro ou segundo turno, apesar da boa vantagem do socialista. Resultado foi divulgado ontem.

2º turno entre Geraldo e Daniel em aberto

O mais novo levantamento do IPMN divulgado pelo JC mostra socialista com 48% dos votos válidos contra 27% do tucano

Depois de ter atingido 50% dos votos válidos há uma semana, o que poderia lhe garantir a vitória logo no primeiro turno,o candidato do PSB à Prefeitura do Recife, Geraldo Julio, caiu dois pontos, e agora está com 48% na nova rodada da pesquisa JC/Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau, realizada nos dias 3 de 4 deste mês. Votos válidos representam o percentual obtido pelo candidato, descontados os votos brancos, nulos e indecisos.

A se confirmar o patamar registrado no atual levantamento, a eleição deverá ir ao segundo turno, já que, para definir o pleito logo na primeira etapa, o candidato precisa obter 50% dos votos válidos mais um. O segundo colocado, Daniel Coelho (PSDB), subiu um ponto em relação à pesquisa anterior: agora tem 27%. Ele é seguido por Humberto Costa (PT), que se manteve em terceiro com os mesmos 19%. Na quarta colocação, Mendonça Filho (DEM) também subiu um ponto, atingindo 5% dos votos válidos.

Na pesquisa estimulada, quando é apresentada ao entrevistado a lista com os nomes de todos os candidatos a prefeito, os números seguem a mesma tendência da amostragem por votos válidos. Geraldo Julio caiu os mesmos dois pontos em relação à semana passada, indo de 42% para 40%. Daniel Coelho subiu um ponto, chegando a 23%, e Humberto Costa se manteve em 16%, enquanto Mendonça Filho subiu de 3% para 4%. Votariam em branco ou nulo 10% dos eleitores, e 6% não souberam ou não quiseram responder em quem votar.

O novo levantamento colheu mais uma vez as opiniões dos recifenses de forma espontânea, quando a consulta é feita sem a apresentação de lista com nomes. O candidato do PSB obteve 39% das citações, dois pontos abaixo do índice recebido no domingo passado. Já o concorrente tucano subiu dois pontos, indo para 23%, enquanto o candidato petista se manteve em 15% e o democrata também estacionou em 3%. Nesse quesito, 9% dos entrevistados admitiram votar em branco ou anular o voto, e 10% não opinaram.

Coordenadores da pesquisa, o cientista político Adriano Oliveira e o consultor Maurício Romão afirmam que o levantamento atual revela uma tendência de estabilidade dos índices de Geraldo e Daniel nos últimos 30 dias, o que provoca uma indefinição sobre o desfecho do pleito. Mas chamam a atenção para um dado importante registrado pela pesquisa: 78% dos eleitores desejam que a disputa termine logo no primeiro turno. E dentro desse montante, há 45% que votam em Geraldo. Cruzando os dados de intenção de voto com o índice dos que desejam que a eleição acabe no primeiro turno, encontra-se um universo de 16% de eleitores indefinidos. Esses eleitores podem representar o voto útil, aqueles que estão indefinidos e são levados de última hora a votar pela maioria. Isso pode definir a eleição em favor de Geraldo no primeiro turno, explica Oliveira.

Segundo turno

A pesquisa JC/IPMN realizou novamente simulações de um eventual segundo turno. No primeiro cenário, um embate travado entre Geraldo e Humberto, o socialista venceria a disputa com 51% contra 21% do petista. Outros 20% dos entrevistados afirmaram que, nesse caso, votariam em branco ou nulo, enquanto 8 não opinaram. No segundo cenário, o confronto aconteceria entre Geraldo e Daniel. Embora também saísse vencedor, dessa vez, o socialista teria um pouco menos de folga: receberia 45% dos votos, contra 28% do tucano. Nessa simulação, 19% dos eleitores votariam em branco ou nulo e 7% preferiram não opinar.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

É amanhã o dia - Zuenir Ventura


Para prefeito é até mais fácil, porque a oferta é menor. O número mais reduzido de candidatos permite analisar cada um, comparar feitos e defeitos, estudar os programas e propostas, enfim, pesar prós e contras antes de decidir. Mas em relação à Câmara de Vereadores, uma escolha tão importante quanto a de prefeito, talvez até mais, já que é ela quem elabora as leis e fiscaliza seu cumprimento, o processo é mais complicado. Segundo a ONG Transparência Brasil, o custo da Casa aos cofres públicos é de R$ 398 milhões por ano, o que equivale a R$ 7,8 milhões por vereador ou R$ 63 por carioca. Desse total, 70% vão para a folha de pagamento. São 1.715 candidatos disputando 51 vagas, sendo que 44 concorrem à reeleição, ou seja, 86% do total (apenas sete não estão na disputa amanhã).

A ONG chama a atenção para a falta de transparência do site da Câmara, que não divulga dados sobre a frequência dos parlamentares em plenário e nas comissões, nem sobre o uso da verba indenizatória e os gastos com viagens. Segundo a mesma fonte, 13 vereadores cariocas, 25% do total, foram citados na Justiça ou em tribunais de contas. Quatro tiveram a prestação de contas de eleições anteriores rejeitada ou reprovada, dois são alvo de ação por improbidade administrativa, um por compra de voto, outro por crime eleitoral e um teve mandato anterior cassado por infidelidade partidária.

O panorama não é dos mais animadores. A antiga Gaiola de Ouro tem se esforçado para manter sua tradição de escândalos. Entre os que chegaram às páginas dos jornais no ano passado, esteve o do reajuste salarial de mais de 60% - de R$ 9.200 para R$ 15 mil, sem contar o auxílio paletó de R$ 5.700 - enquanto o funcionalismo batalhava por 6% a mais em seus salários. Só quatro parlamentares questionaram e rejeitaram o aumento, devolvendo o recebido, pois além de imoral o aumento era ilegal, já que a lei só autoriza aumentar os subsídios da legislatura seguinte, nunca da atual. Se isso fosse pouco, houve ainda a descoberta do envolvimento de pelo menos quatro integrantes da Casa com o crime, levando O GLOBO a dar uma nova classificação à Gaiola de Ouro: "Berço dos milicianos." Esses escândalos provocaram muita catarse em forma de protestos e cartas indignadas. Porém, a melhor maneira de reverter o quadro, o processo mais eficaz e mais produtivo é transformar a indignação em ação. Pelo voto. É amanhã o dia.

Fonte: O Globo

Presentes recíprocos - Cristovam Buarque


Os historiadores terão dificuldades para explicar como foi possível a sociedade brasileira desprezar tanto suas crianças.

Como foi possível a sexta economia do mundo não ser capaz de cuidar decente e competentemente de suas crianças, deixando milhões delas fora da pré-escola, sabendo que centenas de milhares de mães são obrigadas a deixar seus filhos na primeira infância sob os cuidados de outros filhos, às vezes com 10 anos de idade, retirados da escola para este trabalho.

Por que esta rica sociedade ainda tem fora da escola 3,5 milhões dos seus 50 milhões em idade escolar? E aqueles matriculados que, em sua grande maioria não frequentam, não assistem, não permanecem na escola e não aprendem? Por que apenas 40% terminam o ensino médio, e em cursos sem qualificação? Como foi possível tratar tão desigualmente a infância conforme a renda dos pais? E como explicar que, em pleno século XXI, centenas de milhares de meninos e meninas fiquem nas ruas do Brasil e cerca de 100 mil submetidos a exploração sexual? E como será possível explicar daqui a 20 anos que, nos últimos 20, pelo menos 10 mil crianças tenham sido assassinadas, uma média de 14 por dia?

Os historiadores ficarão perplexos quando descobrirem que esse quadro persiste, apesar de o Brasil comemorar o Dia da Criança, em 12 de outubro, desde 1924.

Alguns historiadores dirão que o maltrato e o abandono são lendas criadas sobre o passado. Outros darão explicações culturais: o imaginário egoísta e imprevidente da população brasileira, com alta preferência sobre o consumo material no presente, um povo que não respeita a atividade intelectual nem considera riqueza o acúmulo de conhecimento. Outros se limitarão a dizer que a sociedade dividida por uma histórica apartação social cuidava dos poucos filhos da minoria rica, deixando de lado as massas de crianças, filhas de pobres.

Os historiadores terão dificuldades de explicar a indecência do abandono e estupidez, o sacrifício do maior potencial que uma sociedade dispõe: seu futuro, sob a forma de sua infância.

Mas uma coisa os historiadores terão de reconhecer: o quadro de violência, ineficiência, corrupção, desigualdade e atraso civilizatório em 2012 decorre da forma como foram tratadas as crianças de antes.

O Brasil de hoje é o país construído pelas crianças de ontem; e o Brasil de amanhã tem a cara da maneira como tratamos nossas crianças de hoje.

Se quisermos um bom futuro para o Brasil, é preciso cuidar das crianças do presente, de uma maneira diferente daquela do passado. Como diz a ex-senadora Heloisa Helena: "O Brasil precisa adotar uma geração de suas crianças, do pré-natal ao fim do ensino médio de qualidade para todos." Essas crianças adotadas hoje adotarão o Brasil amanhã. O futuro do Brasil seria os cuidados delas para com o país, uma retribuição espontânea do que receberam no passado.

Fonte: O Globo

Jobim Sinfonico - Imagina

Os lados - Paulo Mendes Campos


Há um lado bom em mim.
O morto não é responsável
Nem o rumor de um jasmim.
Há um lado mau em mim,
Cordial como um costureiro,
Tocado de afetações delicadíssimas.

Há um lado triste em mim.
Em campo de palavra, folha branca.

Bois insolúveis, metafóricos, tartamudos,
Sois em mim o lado irreal.

Há um lado em mim que é mudo.
Costumo chegar sobraçando florilégios,
Visitando os frades, com saudades do colégio.

Um lado vulgar em mim,
Dispensando-me incessante de um cortejo.
Um lado lírico também:

Abelhas desordenadas de meu beijo;
Sei usar com delicadez um telefone,
Nâo me esqueço de mandar rosas a ninguém.

Um animal em mim,
Na solidão, cão,
No circo, urso estúpido, leão,
Em casa, homem, cavalo...

Há um lado lógico, certo, irreprimível, vazio
Como um discurso,
Um lado frágil, verde-úmido.
Há um lado comercial em mim,
Moeda falsa do que sou perante o mundo.

Há um lado em mim que está sempre no bar,
Bebendo sem parar.

Há um lado em mim que já morreu.
Às vezes penso se esse lado não sou eu.

Paulo Mendes Campos (Belo Horizonte 28 de Fevereiro 1922 - Rio de Janeiro 1 de julho de 1991) - Foi poeta, escritor, cronista e jornalista brasileiro. Foi um dos mais talentosos escritores da geração mineira, junto com seus grandes amigos Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e outros. Como ele mesmo disse, "fui para o Rio de Janeiro para conhecer o poeta chileno Pablo Neruda, e aqui estou até hoje". Paulo foi um dos que revolucionou o estilo da crônica na imprensa e, com certeza, foi um grande poeta brasileiro.
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