quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Para Serra, "falta de assunto" traz seu nome de volta ao noticiário

Raymundo Costa

BRASÍLIA - Serra: ex-governador teria dito a amigos que são "totalmente fake" as notícias de estaria articulando sua saída do PSDB ou a criação de uma nova sigla

Duas vezes candidato derrotado do PSDB, José Serra nunca desistiu de subir a rampa do Palácio do Planalto como presidente da República. No entanto, "são totalmente fake", como ele diz aos amigos, as notícias de que estaria articulando sua saída do PSDB, partido do qual é um dos fundadores, ou a criação de uma nova sigla.

Nem Serra sabe ao certo, no momento, o que vai fazer no futuro próximo. Sua saída do PSDB é mais uma provocação - no bom sentido da emulação de ideias - de amigos mais próximos, do que uma real intenção do tucano.

Nesta madrugada, o senador Aécio Neves, hoje pule de dez na preferência dos tucanos para candidato em 2014, embarcou para uma viagem de dez dias aos exterior. Mas deixou acertada, para a volta, uma conversa com José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

A cúpula do PSDB, de maioria aecista, aposta na unidade ou em pelo menos separar Geraldo Alckmin de José Serra, adversário declarado do mineiro. Sem o maior colégio eleitoral do país, Aécio não tem chance na disputa, assim como as derrotas em Minas Gerais foram fatais para as candidaturas de Serra.

Há muito ressentimento entre os integrantes das duas principais seções do PSDB. Os paulistas, e não apenas Serra, sentiram-se abandonados por Aécio nas três eleições de perderam para o PT.

Em 2006, Alckmin foi a um comício em Minas sozinho, depois de muito tentar marcar uma atividade conjunta com Aécio. A resposta era que o atual senador estava sem espaço na agenda. Alckmin foi só e descobriu que Aécio estava em outro município bem próximo.

Os paulistas também não esquecem a chapa "Lulécio". E Serra, particularmente, sempre esteve convencido de que sua rejeição em Minas era estimulada por Aécio Neves. Enfim, há muitas arestas a serem aparadas entre os líderes das duas seções, antes que se possa declarar eventual unidade para 2014.

Mesmo assim seria (a unidade) algo a ser encarado com reservas - todos os candidatos do PSDB, desde 2002, foram lançados sob a égide da unidade, mas depois, em algum momento da campanha, foram publicamente traídos e "cristianizados" de forma cruel.

Para José Serra, a volta repentina de seu nome ao noticiário combina bem com "a falta de assunto" que toma conta dos jornais durante o recesso do Congresso, conforme comentou recentemente com amigos.
Cita até o exemplo do almoço de Aécio com Fernando Henrique, Pedro Malan, Edmar Bacha e Armínio Fraga, tratado como o primeiro dos tucanos com os "pais do Real", desde que FHC deixou o governo.

Na realidade, em 2010, Serra não só trocou ideias com Malan, Pérsio Arida e Armínio, como mantinha planos de levar Armínio de volta para o governo, se vencesse a eleição, numa área heterodoxa para ele - o Ministério da Educação.

O PSDB também vê o dedo do PT na volta do noticiário sobre as divisões tucanas, de vez que o assunto imediatamente ganhou repercussão na rede de blogueiros simpáticos ao governo e até na voz de dirigentes petistas.

As manchetes sobre uma suposta intenção de Serra de fundar um novo partido caíram como uma luva para o PT no momento em que o noticiário é desfavorável ao ex-presidente Lula, tanto no que se refere ao mensalão como ao caso de Rosemary Noronha, ex-chefe do escritório da Presidência da República, em São Paulo, enredada numa rede de tráfico de influência.

No entanto, o dia D do PSDB começa a se configurar já no mês de março, com as convenções municipais do partido. É quando a nova correlação de forças ficará mais clara, pois, até agora, cada tucano faz a leitura que mais lhe favorece do resultado das eleições municipais. Em abril serão realizadas as convenções estaduais. Maio é a data limite dos tucanos, com a realização da convenção nacional.

Aécio é o candidato a presidente do partido de todos os que apoiam sua indicação para candidato à Presidência da República. Ele próprio tem dúvidas sobre a eficácia de o presidente do PSDB ser também o candidato a presidente da República. Os interesses partidários nem sempre são os mesmos, às vezes são até conflitantes.

Fonte: Valor Econômico

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