quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Segundo tempo - Sérgio C. Buarque

A presidente Dilma Roussef gastou metade do seu mandato numa tentativa tão desesperada quanto frustrada de recuperação do crescimento da economia brasileira, nestes dois anos, o Brasil patinou apesar das insistentes medidas de estímulo ao consumo, com crescimento do PIB abaixo de 2% na média. Em 2012 houve uma perigosa e incômoda combinação de quase estagnação - crescimento em torno de 1% - com desconfortável pressão inflacionária, apesar de e, em grande parte, por causa das medidas de estímulo ao consumo.

Agora começa a segunda metade do mandato da presidente acompanhada da corrida eleitoral que vai rapidamente contaminar o ambiente e as próprias escolhas presidenciais. Os marqueteiros costumam dizer que sem crescimento econômico a sua reeleição corre um sério risco. Não importa se eles têm razão, mas será preocupante se a presidente aceitar este postulado voltando todas as suas energias na busca do tal "Pibão" (crescimento alto) que vive prometendo e que parece cada vez mais longe.

Nos dois anos que sobram do seu mandato, dificilmente o contexto internacional vai melhorar e não existe a menor chance de um novo boom econômico semelhante ao dos "anos dourados" do período do governo Lula. Por outro lado, o modelo de crescimento via consumo está esgotado, se já não foi suficiente para acelerar a economia nos dois últimos anos, nada indica que possa ter efeito para o futuro imediato, pior, está gerando um encurtamento das finanças públicas que dificultam a busca do superávit primário projetado. Se insistir neste caminho já desgastado, a economia brasileira não terá mais espaços para crescimento, a não ser com inflação.

O crescimento econômico do Brasil não será sustentado sem o aumento dos investimentos que continuam muito modestos há décadas. Ocorre, contudo, que as medidas de estímulo do investimento não têm resultados imediatos, e os seus efeitos sobre o crescimento da economia maturam lentamente. Ou seja, não pode produzir ganhos eleitorais nestes dois anos que nos separam das eleições presidenciais. Este é o grande dilema que a presidente Dilma enfrenta a partir de agora e os marqueteiros, pagos para ganhar eleição e não para desenvolver o Brasil, devem soprar no seu ouvido palavras tentadoras de busca de resultados rápidos que se manifestem até meados do próximo ano. Do contrário, dirão, a oposição está se estruturando com Aécio Neves, o PSB pode lançar o atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos, além de que o PT pode chamar Lula de volta para o jogo eleitoral.

Se quiser ser uma estadista, a presidente deve esquecer as eleições e jogar seu prestígio em reformas estruturais que preparem o futuro do Brasil. Mas, se ouvir os cantos de sereia dos marqueteiros, vai gastar mais dois anos jogando para o eleitorado, ou seja, apostando no consumo. Não dá para saber se assim terá chances, mas podemos desconfiar que estará arriscando o desempenho futuro da economia brasileira.

Sérgio C. Buarque é economista e consultor

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

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