sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Crítica de Dilma à oposição em discurso foi para agradar ao PT

Segundo interlocutores, presidente não deve repetir o tom "nós x eles"

Júnia Gama

BRASÍLIA - Apesar de ter apostado no antagonismo PT X PSDB em seu discurso no evento de comemoração dos 33 anos do PT na última quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff não deve tornar esse tom de rivalidade recorrente em suas falas. Interlocutores de Dilma afirmam que o discurso na ocasião foi modulado para atender o público interno - a militância petista - e afastar o "queremismo" em torno da figura do ex-presidente Lula, reforçando que ela é a candidata em 2014. O tom não deverá ser repetido nos próximos meses nas aparições públicas da presidente.

Dilma Rousseff, que no início de seu governo fez gestos de aproximação com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entoou o discurso "Nós x Eles", uma marca do marqueteiro João Santana. Ela foi convencida pela cúpula petista que era importante reforçar sua candidatura à reeleição para que Lula possa dar início a seus "road shows" pelo Brasil sem essa dúvida no ar.

Em uma de suas falas, Dilma afirmou que "ao lado do som alegre e comemorativo de milhões de pessoas", que estariam felizes com as políticas do governo, "escutamos alguns ecos dissonantes, com timbre do atraso", em referência à oposição, especialmente a tucana.

O ato foi proposto a Dilma pelo próprio Lula e pelo presidente do PT, Rui Falcão, em dezembro, durante o evento dos catadores em São Paulo. A presidente concordou e deu o sinal verde para os preparativos. Embora não tenha gostado do tom do encontro, a presidente concordou em fazer ontem essa fala mais enfática, mas já adiantou que não pretende manter essa linha nas próximas aparições públicas. E deverá até mesmo evitar comparecer a eventos do PT.

Embate direto será evitado

O modelo de seus discursos, que não deixarão de ter o componente eleitoral, claro, será mais parecido à fala dela na televisão sobre o corte de energia elétrica - com críticas sem exasperação ao governo tucano, e evitando um embate mais violento com o PSDB.

Até porque, segundo versão disseminada por pessoas próximas à presidente, a maior preocupação dela e do PT não são os tucanos e Aécio Neves, mas, sim, o PSB de Eduardo Campos. É o governador de Pernambuco quem tira o sono de Dilma com a possibilidade de enfrentar um segundo turno, já que os petistas consideram Eduardo Campos uma figura mais consistente que o senador mineiro.

O governador de Pernambuco, que acompanha com atenção os passos dos possíveis adversários em 2014, avaliou que os discursos tanto de Dilma, quanto de Aécio, pecaram pela falta de novidade. Segundo diziam ontem aliados do governador, Campos defendeu que o discurso "para trás", privilegiando a rivalidade entre os dois partidos, deveria ser superado e novas propostas apresentadas. E é justamente o que o governador pretende fazer até o final do ano, evitando o desgaste de embates diretos com seus potenciais concorrentes.

Fonte: O Globo

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