segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Cúpula do PSB entra em rota de colisão com Walfrido

Caio Junqueira

BRASÍLIA - O PSB cogita intervir no diretório do partido em Minas Gerais, Estado crucial para o projeto nacional do governador de Pernambuco e presidente nacional da legenda, Eduardo Campos.

Antigos amigos, o presidente estadual da sigla, Walfrido dos Mares Guia, e o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), não se relacionam desde a reeleição deste, em 2012. O motivo é que Walfrido articulou até o último instante uma coligação do PSB com o PT, mas Lacerda acabou por se aliar ao PSDB.

Em razão disso, Walfrido sequer participou da campanha. Quando entrou, foi para patrocinar jantar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o adversário de Lacerda, Patrus Ananias (PT). Procurado pelo Valor, Mares Guia não retornou os telefonemas da reportagem.

Nos cálculos do PSB, se a coligação tivesse sido feita nos moldes de Walfrido, o PSB, além de perder a prefeitura, reduziria o número de vereadores de quatro para dois; e o PT aumentaria de cinco para 10. Sem a coligação, o PSB aumentou de quatro para seis e o PT manteve cinco.

O problema agora tem nuances nacionais. Walfrido é dos políticos mais próximos de Lula, de quem foi ministro do Turismo e das Relações Institucionaos. Sua ida ao PSB em 2009 teve a influência de Lula e o aval do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, de quem Márcio Lacerda é muito próximo. Ciro é adversário interno de Eduardo Campos no PSB e defensor do apoio da legenda à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

A permanência de Walfrido no cargo tem sido contestada pela base mineira do PSB e por integrantes do PSB nacional. Por diversos fatores. O mais relevante: por ser mais lulista do que pessebista, Walfrido pode atuar internamente contra a candidatura de Campos em 2014. Outro ponto: ele foi coordenador da campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) em 1998 e, por isso, é réu do mensalão mineiro. Isso entra em confronto com a agenda eleitoral pretendida por Campos, focada na gestão e na ética. Por fim, avalia-se que lhe falta legitimidade para continuar no cargo. Ele era vice de Márcio Lacerda, que alegou incompatibilidade da função partidária com a de prefeito.

O diretório de Minas do PSB é uma comissão provisória prorrogada "por tempo indeterminado", o que possibilita intervenção a qualquer instante. Na próxima semana, Walfrido estará em Brasília para uma conversa com a direção do partido. Há a possibilidade de ele mesmo deixar o PSB de forma espontânea, o que configuraria a melhor saída, já que um brusco rompimento com Walfrido pode ser prejudicial a Campos por fragilizá-lo ainda mais no ambiente petista.

Isso porque Walfrido pode ser peça fundamental no xadrez eleitoral de 2014. Se Campos for candidato, é uma ponte direta com a campanha de Dilma, os tradicionais pactos de não-agressão no primeiro turno e os acordos acerca da "governabilidade" no segundo turno. Se Campos não for candidato, pode ser mais um a defender a vice na chapa de Dilma.

Mas essa conversa é para 2014. Para 2013, a saída de Walfrido agradaria a Márcio Lacerda e teria por efeito paralelo a tentativa de maior aproximação política com a cúpula partidária, tendo em vista que o prefeito de Belo Horizonte é considerado no meio político muito mais ligado ao presidenciável tucano Aécio Neves (MG) do que a Campos. Na eleição para a Câmara dos Vereadores, assegurou apoio a um tucano -embora o vencedor não tenha sido o seu preferido da bancada do PSDB. Os tucanos garantem que Lacerda estará com Aécio em 2014. Em conversa recente com um pessebista, o prefeito de Belo Horizonte assegurou não ter ainda compromisso político com ninguém. Em um primeiro instante, soou bem. Mas depois, a dúvida: já não deveria ter compromisso com o presidente do seu partido?

Eduardo Campos, contudo, não pode fazer movimentos tão ousados com Lacerda. Trata-se do prefeito do quinto maior colégio eleitoral e capital do Estado comandado por Aécio desde 2003. Por isso, aceita qualquer indicação sua. Sua preferida é a secretária-geral do PSB da capital mineira, Maria Elvira Salles.

Só que esse acerto teria de passar pelo interior, que se sente alijado do processo. O deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG), com base eleitoral no sul de Minas, ainda não foi consultado. Tem metade dos 34 prefeitos mineiros eleitos em 2012 e seu grupo avalia que entre o "petista" Walfrido e o "tucano" Lacerda, o melhor é alguém ligado ao projeto de Campos em 2014 e que acerte o tom do partido no Estado.

A gestão de Walfrido é considerada positiva pela cúpula do PSB. O partido cresceu. Mas agora precisa se alinhar e atuar coeso. Um bom exemplo do descompasso é a posição de Waldo Silva, ex-presidente do diretório mineiro, quadro histórico do partido e amigo de Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco e avô de Campos. Em 2012, Silva liderou dissidência para apoiar Patrus, sem que isso eliminasse sua posição crítica a Walfrido.

Fonte: Valor Econômico

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