domingo, 17 de fevereiro de 2013

Os sem-rumo - Míriam Leitão

O Brasil está precisando fazer uma revisão da sua política econômica e dizer como pretende atingir seus objetivos e quais são eles. Vários países estão tentando sair da crise do baixo crescimento apostando em aumento de produtividade e inovação. O Brasil vem repetindo os mesmos erros e convivendo de forma condescendente com inflação e perda de dinamismo.

O vigoroso discurso do presidente Barack Obama na terça-feira foi seguido de atitudes: sua bancada no Congresso está se preparando para uma nova lei de taxação de gases de efeito estufa e o acordo transatlântico de comércio e investimento foi anunciado no dia seguinte. Partiu-se do anúncio à ação imediatamente.

O primeiro movimento é decorrente da convicção defendida pelo presidente de que a superseca no Meio-Oeste e o superfuracão Sandy do ano passado exigem mais atitude no combate às mudanças climáticas. O segundo intensifica os acordos comerciais para aumentar a criação de empregos e elevar os fluxos de comércio.

´No Brasil, enquanto isso, os empréstimos subsidiados do governo são distribuídos para empresas amigas para que elas sejam grandes. Não importa que práticas ambientais tenham ou que viabilidade financeira tenham. O jornal "Valor Econômico" de sexta-feira trouxe a confirmação: o BNDES não verá a cor dos R$ 750 milhões que depositou na LBR Lácteos Brasil, a gigante de leite que pretendia criar. A empresa deu entrada com um pedido de recuperação judicial e fará uma reestruturação. A nova companhia não será a gigante que se pretendia, os investidores, entre eles o BNDES, não recuperarão seu dinheiro, e os novos diretores dizem que tudo é culpa da estrutura tributária do país. Dizem que o governo deu isenção de PIS/Cofins na cadeia do leite, e eles ficaram com créditos de R$ 500 milhões a receber que não têm como descontar. Es panto que não se soubesse disso há um ano atrás quando o banco estatal apostava na sua nova criatura.

A história mostra que a megalomania do BNDES já trouxe prejuízos suficientes. Já era hora de mudar a estratégia. Quanto à Fazenda, em vez de sair distribuindo reduções de impostos aqui e acolá, deveria pôr em prática uma ampla reforma tributária. Obama anunciou que vai propor uma reforma tributária para aumentar a competitividade da economia. Aqui, nas crises recentes, o governo distribuiu reduções do IPI, elevou impostos sobre importados e incentivou bancos públicos a aumentarem a oferta de crédito. Com isso, melhorou as vendas temporariamente, reduziu a competição interna e elevou a inadimplência.

A inflação ronda o teto da meta apesar de o país ter crescido zero em termos per capita no ano passado. As medidas para enfrentá-la são postergar aumento de ônibus, reduzir taxação ocasional de imposto, evitar alta do dólar. A única medida que tem efeitos mais duradouros é a queda do preço da energia, que será em parte neutralizada pela manutenção das térmicas ligadas durante o ano.

O combate à inflação está precisando de um bom diagnóstico, ações permanentes e autonomiá do Banco Central. Hoje, a impressão geral é que o BC não poderá elevar os juros se precisar. E essa ideia é confirmada cada vez que alguém do Ministério da Fazenda garante, como aconteceu muito nos últimos meses, que os juros não vão subir. Quem tem que julgar isso é o Copom, em reunião de seus membros. Amarrar as mãos do seu melhor lutador é um bom caminho para perder a briga. Os juros podem não subir, mas o que não pode acontecer é o BC ficar com reputação de ser o últiirio a saber.

Fonte: O Globo

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